São Paulo, segunda-feira, 02 de setembro de 2002

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BALADA À ESPANHOLA

Entrada de casas noturnas custa o equivalente a uma ou duas bebidas

Noitada de Madri termina às 6h

MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
ENVIADA ESPECIAL À ESPANHA

É bom e caro dançar em Madri, cujas ruas ficam lotadas no verão, numa movimentação típica de "la movida madrileña", cuja tradução hoje é mais ou menos "todo mundo nas ruas se divertindo até a manhã do dia seguinte".
A maioria dos bares de "copas" (drinques) e "tapas" (tira-gostos) e das discotecas fica na Puerta del Sol, perto da Plaza Mayor, e cobra em geral o preço de uma ou duas bebidas alcoólicas como entrada (de 7 a 14), mesmo que você queira tomar só refrigerante.
Se você estiver acompanhado, comece a noite tomando o metrô, que fica aberto até meia-noite e é um transporte seguro e barato. Se estiver hospedado no Centro, volte para casa caminhando ou reserve entre 10 e 15 para o táxi. A cidade tem movimento até pelo menos as 2h diariamente. Com o horário de verão, anoitece às 22h e o movimento das discotecas começa uma hora depois.
A brasileira Renata Cristina de Freitas, 23, de São Paulo, diz gostar de Madri por causa dos museus, dos passeios pela Plaza Mayor, construída no século 15 como praça de mercado, e da Puerta del Sol. "Gosto de ver os prédios com iluminação à noite. Madri é bem cuidada, diferente de São Paulo."
O charme é entrar de bar em bar conhecendo gente, ouvindo sotaques e línguas de mais de 20 países e dançando estilos variados de música. As casas noturnas em Madri ficam perto umas das outras, como na Vila Madalena, em São Paulo. Muitos guias gratuitos, como o "InMadrid", distribuídos em locais públicos, sugerem como planejar o turismo noturno. Em geral as pessoas saem para bares de "copas", para tomar drinques e comer "tapas", e, depois das 23h, vão para as discotecas.
As casas noturnas maiores, como Kapital e Joy Eslava, têm DJs e pistas de dança confortáveis, com lugares para sentar e tomar alguma bebida. Quase nenhuma serve comida. Os bares menores em geral não têm lugar para sentar, como o En Ba Bia, todo decorado com bolas coloridas e objetos futuristas, mas são frequentados por gente jovem, animada e conversadora.
Da estação Sol do metrô você vai para quase todos os bares. Se quiser seguir o roteiro da moda entre artistas e jornalistas, faça o circuito latino alternativo: Suristán, El Cantinero de Cuba e El Sol.
Luis Barberia, 34, ex-integrante da banda Habana Abierta, faz parte agora de um grupo com o qual cantou Caetano Veloso em Madri e vai lançar o CD "Matame" em setembro, com ingredientes de músicas cubana, brasileira e norte-americana.
Assim Barberia define a vida noturna da cidade: "Madri tem espaços para "pijos" [mauricinhos], como Joy Eslava, Kapital e Negra Tomasa, e lugares como Suristán, Boca del Lobo e Cardamomo, que tocam flamenco e música variada, como salsa, merengue e ritmos indianos".
Já a zimbabuana identificada como Miacahn, 19, que fala zulu e frequentou o ensino médio na Suíça, prefere sair para as casas de cerveja, nas quais você paga apenas 6 e bebe o quanto quiser, escolhendo entre cerveja, sangria e gim tônico. "É fantástico, você se diverte e conhece várias pessoas de muitos lugares do mundo."
O bar-discoteca Suristán é multicultural, divulga música étnica e tem uma ótima pista de dança, que se torna platéia para shows musicais. Lá já tocaram Lenine, Chico César e o cubano Raúl Torres, que tocou com Djavan e Simone e teve um de seus discos, "Asa de Luz", produzido por Ivan Lins. A entrada durante o show de Torres, por exemplo, custava 6, com direito a uma "copa", ou seja, uma bebida à escolha do freguês: Coca-Cola, cerveja ou "chupito" (dose pequena de bebida destilada, como tequila, rum ou uísque).
Segundo um dos proprietários da casa, Javier Ramirez de Haro, "a idéia é mesclar todas as músicas de distintos países. Digamos que veiculamos uma música ideologicamente comprometida". O bar também promove exposições de pintura e fotografia. No palco, um cartaz enfatiza a importância da diversidade musical.
El Son serve coquetéis "exóticos", como caipirinhas de vários sabores. Aos sábados, El Sol (outro bar) oferece música ao vivo e sessões de funk, acid jazz e hip hop. O Cardamomo toca salsa e flamengo. Já o Pachá, com som típico de Ibiza, é o preferido da moçada que frequenta o Joy Eslava.
Apesar de ser considerada uma casa para turistas, La Negra Tomasa merece uma visita, pela decoração à moda antiga de cidade do interior, com fotos de artistas e de paisagens cubanas nas paredes, e pela animação dos dançarinos. Há um periódico disponível para a leitura, "Visión Latinoamericana", editado na Espanha.
Um dos poucos bares que servem refeição, funciona como restaurante até meia-noite e depois toca música latina ao vivo, como bolero e guaranja. Entre os pratos há as "papitas rellenas" (batatas recheadas, 5,20) e a chicharrita (banana frita, 3). Os restaurantes em geral têm preços para o dia e para a noite. Um café custa 3,70 de dia e 4,50 à noite.

"Bottellon"
Do lado de fora das discotecas, em contraste com a felicidade turística da burguesia, o turista se surpreende ao passear pelas praças de Madri, especialmente no bairro Malasaña, cantado por Manu Chao, ao ver jovens sentados em agrupamentos conhecidos por "botellones", herança de "la movida" (vida noturna iniciada após a morte de Franco).
A polícia proíbe essas reuniões, que são alimentadas por haxixe e bebidas baratas, escondidas em garrafas de refrigerante envoltas em sacos plásticos. Os "botellones", ou garrafões, estão tão populares que alguns deles são marcados com antecedência, por exemplo, na praça dos Toros.


Mônica Rodrigues da Costa, editora da Folhinha, viajou a convite da Enforex, da SIP e da Iberia.


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