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BALADA À ESPANHOLA
Entrada de casas noturnas custa o equivalente a uma ou duas bebidas
Noitada de Madri termina às 6h
MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
ENVIADA ESPECIAL À ESPANHA
É bom e caro dançar em Madri,
cujas ruas ficam lotadas no verão,
numa movimentação típica de "la
movida madrileña", cuja tradução hoje é mais ou menos "todo
mundo nas ruas se divertindo até
a manhã do dia seguinte".
A maioria dos bares de "copas"
(drinques) e "tapas" (tira-gostos)
e das discotecas fica na Puerta del
Sol, perto da Plaza Mayor, e cobra
em geral o preço de uma ou duas
bebidas alcoólicas como entrada
(de 7 a 14), mesmo que você
queira tomar só refrigerante.
Se você estiver acompanhado,
comece a noite tomando o metrô,
que fica aberto até meia-noite e é
um transporte seguro e barato. Se
estiver hospedado no Centro, volte para casa caminhando ou reserve entre 10 e 15 para o táxi. A cidade tem movimento até pelo
menos as 2h diariamente. Com o
horário de verão, anoitece às 22h e
o movimento das discotecas começa uma hora depois.
A brasileira Renata Cristina de
Freitas, 23, de São Paulo, diz gostar de Madri por causa dos museus, dos passeios pela Plaza Mayor, construída no século 15 como
praça de mercado, e da Puerta del
Sol. "Gosto de ver os prédios com
iluminação à noite. Madri é bem
cuidada, diferente de São Paulo."
O charme é entrar de bar em bar
conhecendo gente, ouvindo sotaques e línguas de mais de 20 países e dançando estilos variados de
música. As casas noturnas em
Madri ficam perto umas das outras, como na Vila Madalena, em
São Paulo. Muitos guias gratuitos,
como o "InMadrid", distribuídos
em locais públicos, sugerem como planejar o turismo noturno.
Em geral as pessoas saem para bares de "copas", para tomar drinques e comer "tapas", e, depois
das 23h, vão para as discotecas.
As casas noturnas maiores, como Kapital e Joy Eslava, têm DJs e
pistas de dança confortáveis, com
lugares para sentar e tomar alguma bebida.
Quase nenhuma serve comida. Os
bares menores em geral não têm
lugar para sentar, como o En Ba
Bia, todo decorado com bolas coloridas e objetos futuristas, mas
são frequentados por gente jovem, animada e conversadora.
Da estação Sol do metrô você
vai para quase todos os bares. Se
quiser seguir o roteiro da moda
entre artistas e jornalistas, faça o
circuito latino alternativo: Suristán, El Cantinero de Cuba e El Sol.
Luis Barberia, 34, ex-integrante
da banda Habana Abierta, faz
parte agora de um grupo com o
qual cantou Caetano Veloso em
Madri e vai lançar o CD "Matame" em setembro, com ingredientes de músicas cubana, brasileira e norte-americana.
Assim Barberia define a vida
noturna da cidade: "Madri tem
espaços para "pijos" [mauricinhos], como Joy Eslava, Kapital e
Negra Tomasa, e lugares como
Suristán, Boca del Lobo e Cardamomo, que tocam flamenco e
música variada, como salsa, merengue e ritmos indianos".
Já a zimbabuana identificada
como Miacahn, 19, que fala zulu e
frequentou o ensino médio na
Suíça, prefere sair para as casas de
cerveja, nas quais você paga apenas 6 e bebe o quanto quiser, escolhendo entre cerveja, sangria e
gim tônico. "É fantástico, você se
diverte e conhece várias pessoas
de muitos lugares do mundo."
O bar-discoteca Suristán é multicultural, divulga música étnica e
tem uma ótima pista de dança,
que se torna platéia para shows
musicais. Lá já tocaram Lenine,
Chico César e o cubano Raúl Torres, que tocou com Djavan e Simone e teve um de seus discos,
"Asa de Luz", produzido por Ivan
Lins. A entrada durante o show de
Torres, por exemplo, custava 6,
com direito a uma "copa", ou seja,
uma bebida à escolha do freguês:
Coca-Cola, cerveja ou "chupito"
(dose pequena de bebida destilada, como tequila, rum ou uísque).
Segundo um dos proprietários
da casa, Javier Ramirez de Haro,
"a idéia é mesclar todas as músicas de distintos países. Digamos
que veiculamos uma música ideologicamente comprometida". O
bar também promove exposições
de pintura e fotografia. No palco,
um cartaz enfatiza a importância
da diversidade musical.
El Son serve coquetéis "exóticos", como caipirinhas de vários
sabores. Aos sábados, El Sol (outro bar) oferece música ao vivo e
sessões de funk, acid jazz e hip
hop. O Cardamomo toca salsa e
flamengo. Já o Pachá, com som típico de Ibiza, é o preferido da moçada que frequenta o Joy Eslava.
Apesar de ser considerada uma
casa para turistas, La Negra Tomasa merece uma visita, pela decoração à moda antiga de cidade
do interior, com fotos de artistas e
de paisagens cubanas nas paredes, e pela animação dos dançarinos. Há um periódico disponível
para a leitura, "Visión Latinoamericana", editado na Espanha.
Um dos poucos bares que servem refeição, funciona como restaurante até meia-noite e depois
toca música latina ao vivo, como
bolero e guaranja. Entre os pratos
há as "papitas rellenas" (batatas
recheadas, 5,20) e a chicharrita
(banana frita, 3). Os restaurantes em geral têm preços para o dia
e para a noite. Um café custa
3,70 de dia e 4,50 à noite.
"Bottellon"
Do lado de fora das discotecas,
em contraste com a felicidade turística da burguesia, o turista se
surpreende ao passear pelas praças de Madri, especialmente no
bairro Malasaña, cantado por
Manu Chao, ao ver jovens sentados em agrupamentos conhecidos por "botellones", herança de
"la movida" (vida noturna iniciada após a morte de Franco).
A polícia proíbe essas reuniões,
que são alimentadas por haxixe e
bebidas baratas, escondidas em
garrafas de refrigerante envoltas
em sacos plásticos. Os "botellones", ou garrafões, estão tão populares que alguns deles são marcados com antecedência, por
exemplo, na praça dos Toros.
Mônica Rodrigues da Costa, editora da
Folhinha, viajou a convite da Enforex,
da SIP e da Iberia.
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