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EXTREMO SUL
Vista oscila de gelo à bosque verdejante
Glaciares da cordilheira de Darwin ocupam 2.000 km2 de superfície gelada, mas estão retrocedendo
DA ENVIADA ESPECIAL À TERRA DO FOGO
Se a princípio parece que
quem viu um glaciar viu todos,
a observação revela que não é
bem assim. Tendo a onipresente cordilheira Darwin como pano de fundo, o canal de Beagle
apresenta glaciares descarados
em suas margens mas também
esconde outros em braços sem
saída. Curioso é ver bosques patagônicos verdejantes, praias
de pedras e quedas-d'água provenientes da água do degelo
bem ao lado daquela grossa
massa de gelo compactada.
No país, até 2002, foram inventariados 1.751 glaciares,
com uma superfície de gelo de
15 mil km2. A ocupação pode
ser maior, segundo o Laboratório de Glaciologia do Chile. Somente na Região 12 do Chile,
onde fica a cordilheira Darwin,
estima-se que sejam 2.000 km2
de glaciares, que vêm retrocedendo desde a década de 40.
Essa região austral do Chile
exibe a maior quantidade de
gelo fora da Antártida. Portanto, aos olhos não faltarão enxergar capas de gelo e à imaginação ver suspiros de bolo esculpidos na montanha ou mesmo a casa do Super-Homem,
superazul mesmo. Especialmente nos dias nublados, a ilusão de ver a massa de gelo muito azul é perfeita. Já com o dia
ensolarado, a cor fica bem menos evidente. Também se diz
que, quanto mais antigo o gelo,
mais azulada é a cor.
Para chegar mais perto dos
glaciares, o bote tem de passar
sobre pequenos blocos de gelo,
produzindo um som de craquelado e, claro, desviar de outros
maiores. Diante dos glaciares,
os visitantes aguardam o desprendimento da massa de gelo.
Ao fundo, ouvem-se estrondos, pois, atrás, há capas de neve cobrindo áreas que não podem ser alcançadas pela vista.
O eco daquele estrondo demora um pouco para surtir efeito.
Na base, onde se vêem algumas
fendas, pedaços do gelo caem
na água juntando-se a outros.
Há outro tipo de glaciar, em
que se observa na montanha
uma faixa aberta com terra,
meio "suja". Os sedimentos são
chamados "morrenas". Evidenciam que muito gelo foi
derretido por ali e que mais um
glaciar está diminuindo sua
ocupação e retrocedendo.
O expedicionário pode desembarcar próximo de alguns
glaciares, como o Pía. Para vê-lo bem de frente é preciso fazer
uma trilha forte, enlameada e
íngreme. No glaciar Águila, há
um caminho cênico pela praia
forrada de conchas e mariscos.
A aproximação surpreende:
abaixo dele formou-se um lago
com a água do degelo. Expedicionários encapotados deitam
sobre as pedras para admirar o
glaciar bem branco num dia
ensolarado e, se contarem que
viram um glaciar deitados na
praia, vai ter quem não acredite.
(MARGARETE MAGALHÃES)
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