São Paulo, quinta-feira, 02 de novembro de 2006

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EXTREMO SUL

Vista oscila de gelo à bosque verdejante

Glaciares da cordilheira de Darwin ocupam 2.000 km2 de superfície gelada, mas estão retrocedendo

DA ENVIADA ESPECIAL À TERRA DO FOGO

Se a princípio parece que quem viu um glaciar viu todos, a observação revela que não é bem assim. Tendo a onipresente cordilheira Darwin como pano de fundo, o canal de Beagle apresenta glaciares descarados em suas margens mas também esconde outros em braços sem saída. Curioso é ver bosques patagônicos verdejantes, praias de pedras e quedas-d'água provenientes da água do degelo bem ao lado daquela grossa massa de gelo compactada.
No país, até 2002, foram inventariados 1.751 glaciares, com uma superfície de gelo de 15 mil km2. A ocupação pode ser maior, segundo o Laboratório de Glaciologia do Chile. Somente na Região 12 do Chile, onde fica a cordilheira Darwin, estima-se que sejam 2.000 km2 de glaciares, que vêm retrocedendo desde a década de 40.
Essa região austral do Chile exibe a maior quantidade de gelo fora da Antártida. Portanto, aos olhos não faltarão enxergar capas de gelo e à imaginação ver suspiros de bolo esculpidos na montanha ou mesmo a casa do Super-Homem, superazul mesmo. Especialmente nos dias nublados, a ilusão de ver a massa de gelo muito azul é perfeita. Já com o dia ensolarado, a cor fica bem menos evidente. Também se diz que, quanto mais antigo o gelo, mais azulada é a cor.
Para chegar mais perto dos glaciares, o bote tem de passar sobre pequenos blocos de gelo, produzindo um som de craquelado e, claro, desviar de outros maiores. Diante dos glaciares, os visitantes aguardam o desprendimento da massa de gelo.
Ao fundo, ouvem-se estrondos, pois, atrás, há capas de neve cobrindo áreas que não podem ser alcançadas pela vista. O eco daquele estrondo demora um pouco para surtir efeito. Na base, onde se vêem algumas fendas, pedaços do gelo caem na água juntando-se a outros.
Há outro tipo de glaciar, em que se observa na montanha uma faixa aberta com terra, meio "suja". Os sedimentos são chamados "morrenas". Evidenciam que muito gelo foi derretido por ali e que mais um glaciar está diminuindo sua ocupação e retrocedendo.
O expedicionário pode desembarcar próximo de alguns glaciares, como o Pía. Para vê-lo bem de frente é preciso fazer uma trilha forte, enlameada e íngreme. No glaciar Águila, há um caminho cênico pela praia forrada de conchas e mariscos. A aproximação surpreende: abaixo dele formou-se um lago com a água do degelo. Expedicionários encapotados deitam sobre as pedras para admirar o glaciar bem branco num dia ensolarado e, se contarem que viram um glaciar deitados na praia, vai ter quem não acredite. (MARGARETE MAGALHÃES)


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