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TURISMO EQUESTRE NO MUNDO
Pedro Aguiar conta que nunca tinha viajado a cavalo até bater o recorde mundial de cavalgada mais longa
No começo dói tudo, diz cavaleiro que fez 20 mil km
DA ENVIADA ESPECIAL A MOCOCA
Em 1991, Pedro Aguiar, ou
Pedroca, como é mais conhecido, saiu para uma viagem de 14
mil quilômetros. Então com 57
anos, percorreu o Brasil de norte a sul com o irmão e um funcionário em uma viagem que
durou dois anos e 45 dias e que,
no total, somou 20 mil quilômetros. Foi a maior viagem feita a cavalo e ficou registrada no
"Guinness Book", o livro dos
recordes. Em 2005, ele era o
único representante da América Latina em um evento com
cavaleiros do mundo inteiro.
Atualmente, aos 77 anos, Pedroca cuida da fazenda Bela
Vista, em Dourado (a 276 km de
SP), que oferece hospedagem e
passeios a cavalo (www.fazendabelavista.com.br). A seguir, leia trechos da entrevista
concedida à Folha:
(LUISA ALCANTARA E SILVA)
FOLHA - Como foi o planejamento
da viagem?
AGUIAR - Não teve planejamento nenhum. Foi um convite da
Associação de Criadores de Cavalo Mangalarga Marchador
[www.abccmm.org.br], que
organizou uma cavalgada chamada de "Brasil 14 Mil". O que
estava programado no começo
eram 14 mil quilômetros. Saímos de São Paulo e fomos até o
Uruguai, depois subimos até a
Guiana Francesa e voltamos a
São Paulo.
FOLHA - O sr. aceitou o convite na
hora? Não teve receio de fazer uma
viagem tão longa?
AGUIAR - Aceitei, claro. Meu irmão topou na hora, e eu, três
dias depois.
FOLHA - Até então qual havia sido
a viagem mais longa que o senhor
havia feito?
AGUIAR - Sempre mexi com cavalo, mas nunca tinha feito
uma viagem. O que eu fazia era
só passeio, ia e voltava de uma
fazenda para outra.
FOLHA - E como era a logística durante a viagem? Barraca, comida...
AGUIAR - Que barraca o quê?
Era rede. Comida, o que tiver,
come. Sempre tinha muita gente boa, dando comida para nós.
Até Londrina [PR] fomos só
com um burro de carga para
carregar algumas coisas. Quando fomos ao [programa do] Jô
Soares eu disse: Somos em três
garanhões, três burros de carga
e três burros montados. Quando chegamos em Curitiba [PR],
como os burros carregados, que
são mais fortes mas precisam
de uma toada menor, não
acompanhavam o cavalo, tivemos que parar os burros e veio
uma camionete para levar a tralha. Mas não teve logística.
FOLHA - O roteiro já estava traçado
desde o início?
AGUIAR - O roteiro era passar
pelas capitais. Passamos em 19
capitais, se não me engano.
FOLHA - Como era nos trechos urbanos?
AGUIAR - Era perigoso. Maior
movimentos de carro, menor
estrada, pior para o cavalo. O
pessoal é imprudente, tem bêbado, um pessoal que acha que
é dono da estrada, aquelas coisas, ignorância, né?
FOLHA - Alguém ficou doente durante a viagem?
AGUIAR - Doente, não, mas
meu irmão quebrou o pé. Mas
foi com o pé quebrado mesmo.
FOLHA - As paradas tinham que ser
de quanto em quanto tempo?
AGUIAR - Quando o cavalo está
cansado. Não tem uma lógica. O
cavalo cansou? Você tem que
parar. Para, arma acampamento e dorme. O cavalo é quem
manda na marcha. Então você
tem que ter essa percepção para conseguir chegar até o fim. É
igual a motor de carro. Se começa a ferver, não adiante dizer
"Vamos andar mais um pouco
para chegar lá". Não dá.
FOLHA - Como era o dia a dia?
AGUIAR - Saíamos cedo. Às 4h
já estávamos no cavalo. Chegava às 10h, parava, tirava o arreio, dava banho [no cavalo], e
aí aproveitava para a gente tomar banho, lavar a roupa, fazer
comida, e descansava até umas
três horas da tarde.
FOLHA - Sentiam dor?
AGUIAR - Ah, nos primeiros
quatro dias doía tudo. Depois
passa. Dói do calcanhar até a
orelha, mas acostuma.
FOLHA - Faria uma outra viagem
dessas?
AGUIAR - Estamos programando uma. Mas está ainda nas
conversas iniciais.
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