São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2010

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TURISMO EQUESTRE NO MUNDO
Pedro Aguiar conta que nunca tinha viajado a cavalo até bater o recorde mundial de cavalgada mais longa

No começo dói tudo, diz cavaleiro que fez 20 mil km

DA ENVIADA ESPECIAL A MOCOCA

Em 1991, Pedro Aguiar, ou Pedroca, como é mais conhecido, saiu para uma viagem de 14 mil quilômetros. Então com 57 anos, percorreu o Brasil de norte a sul com o irmão e um funcionário em uma viagem que durou dois anos e 45 dias e que, no total, somou 20 mil quilômetros. Foi a maior viagem feita a cavalo e ficou registrada no "Guinness Book", o livro dos recordes. Em 2005, ele era o único representante da América Latina em um evento com cavaleiros do mundo inteiro.
Atualmente, aos 77 anos, Pedroca cuida da fazenda Bela Vista, em Dourado (a 276 km de SP), que oferece hospedagem e passeios a cavalo (www.fazendabelavista.com.br). A seguir, leia trechos da entrevista concedida à Folha: (LUISA ALCANTARA E SILVA)

 

FOLHA - Como foi o planejamento da viagem?
AGUIAR
- Não teve planejamento nenhum. Foi um convite da Associação de Criadores de Cavalo Mangalarga Marchador [www.abccmm.org.br], que organizou uma cavalgada chamada de "Brasil 14 Mil". O que estava programado no começo eram 14 mil quilômetros. Saímos de São Paulo e fomos até o Uruguai, depois subimos até a Guiana Francesa e voltamos a São Paulo.

FOLHA - O sr. aceitou o convite na hora? Não teve receio de fazer uma viagem tão longa?
AGUIAR
- Aceitei, claro. Meu irmão topou na hora, e eu, três dias depois.

FOLHA - Até então qual havia sido a viagem mais longa que o senhor havia feito?
AGUIAR
- Sempre mexi com cavalo, mas nunca tinha feito uma viagem. O que eu fazia era só passeio, ia e voltava de uma fazenda para outra.

FOLHA - E como era a logística durante a viagem? Barraca, comida...
AGUIAR
- Que barraca o quê? Era rede. Comida, o que tiver, come. Sempre tinha muita gente boa, dando comida para nós. Até Londrina [PR] fomos só com um burro de carga para carregar algumas coisas. Quando fomos ao [programa do] Jô Soares eu disse: Somos em três garanhões, três burros de carga e três burros montados. Quando chegamos em Curitiba [PR], como os burros carregados, que são mais fortes mas precisam de uma toada menor, não acompanhavam o cavalo, tivemos que parar os burros e veio uma camionete para levar a tralha. Mas não teve logística.

FOLHA - O roteiro já estava traçado desde o início?
AGUIAR
- O roteiro era passar pelas capitais. Passamos em 19 capitais, se não me engano.

FOLHA - Como era nos trechos urbanos?
AGUIAR
- Era perigoso. Maior movimentos de carro, menor estrada, pior para o cavalo. O pessoal é imprudente, tem bêbado, um pessoal que acha que é dono da estrada, aquelas coisas, ignorância, né?

FOLHA - Alguém ficou doente durante a viagem?
AGUIAR
- Doente, não, mas meu irmão quebrou o pé. Mas foi com o pé quebrado mesmo.

FOLHA - As paradas tinham que ser de quanto em quanto tempo?
AGUIAR
- Quando o cavalo está cansado. Não tem uma lógica. O cavalo cansou? Você tem que parar. Para, arma acampamento e dorme. O cavalo é quem manda na marcha. Então você tem que ter essa percepção para conseguir chegar até o fim. É igual a motor de carro. Se começa a ferver, não adiante dizer "Vamos andar mais um pouco para chegar lá". Não dá.

FOLHA - Como era o dia a dia?
AGUIAR
- Saíamos cedo. Às 4h já estávamos no cavalo. Chegava às 10h, parava, tirava o arreio, dava banho [no cavalo], e aí aproveitava para a gente tomar banho, lavar a roupa, fazer comida, e descansava até umas três horas da tarde.

FOLHA - Sentiam dor?
AGUIAR
- Ah, nos primeiros quatro dias doía tudo. Depois passa. Dói do calcanhar até a orelha, mas acostuma.

FOLHA - Faria uma outra viagem dessas?
AGUIAR
- Estamos programando uma. Mas está ainda nas conversas iniciais.


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