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Aparências não importam em almoço barato
DA ENVIADA AO MÉXICO
Na ala leste do mercado 20
de Noviembre há um corredor esfumaçado: a ala dos
"asadores", barracas que expõem peças de carne crua
emolduradas por lingüiças e
que têm sempre uma grelha.
É esse o cenário do almoço
com a melhor relação custo-benefício das redondezas.
Para começar, basta sentar-se em uma das mesas coletivas que cercam esse pequeno caos gastronômico,
sempre lotado de gente.
Virá a atendente da barraca da carne. O pedido é por
peso, frações de quilo. A lingüiça, por unidade. Uma lingüiça e um quarto de quilo
de carne servem bem duas
pessoas. Acompanhamento:
tortilhas de milho, bem
grandes, e guacamole, bem
picante. Logo vem a atendente de outra barraca: a dos
vegetais. Ela oferece as deliciosas cebolinhas grelhadas.
Parentes menores da nossa
cebola, não chegam a ser como as nossas cebolinhas.
São uma minicebola. Peça.
Ela oferece também chile.
Embora comer chile puro
grelhado pareça uma tentativa de suicídio gourmet,
não é. Ele é saboroso e, se
provado com moderação,
não é letal.
Então chegam à mesa uma
grande cesta com as enormes tortilhas, a carne e a lingüiça assadas. Um prato
com o guacamole e outro
com o chile e as cebolas.
A carne é um bife bem fininho, a arrachera, que parece
um paillard. Ao contrário da
lingüiça, gorducha e suculenta, com gosto forte.
Depois de hesitar, observa-se como fazem os outros
comensais. Delicadamente
cortam, com a mão, um pedaço da carne. Pegam a tortilha, besuntam de guacamole, colocam a carne, a cebola, um naco do chile,
enrolam e pronto.
Duas dicas: pegue leve no
guacamole, que é apimentado para chuchu, e não se incomode com as aparências
durante a refeição. A cebola
não é fácil de cortar com os
dentes, e a coisa toda pode
começar a desmoronar. Mas
acidentes, babadas e que tais
valem a pena.
Entre uma mordida e outra, vêem-se boas cenas. No
meio da confusão - muita
gente em um espaço pequeno, trânsito, portanto, complicado- surge um homem
com um realejo, estaciona ali
no meio e começa a tocar o
instrumento. Mal dá para
ouvir o som, que é abafado
pelo burburinho. Daqui a
pouco, aparecem mariachis.
E todos começam a falar
mais alto. Vozes, mariachis e
realejo se sobrepõem.
No final, paga-se a carne
para a moça da carne, a tortilha para a atendente da barraca de tortilha, a cebolinha
e o chile para a moça da tenda de vegetais e por aí vai. A
melhor coisa é ter dinheiro
trocado. No fim, tudo sai por
menos de 80 pesos (R$ 15)
para duas pessoas.
(HL)
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