São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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Aparências não importam em almoço barato

DA ENVIADA AO MÉXICO

Na ala leste do mercado 20 de Noviembre há um corredor esfumaçado: a ala dos "asadores", barracas que expõem peças de carne crua emolduradas por lingüiças e que têm sempre uma grelha.
É esse o cenário do almoço com a melhor relação custo-benefício das redondezas.
Para começar, basta sentar-se em uma das mesas coletivas que cercam esse pequeno caos gastronômico, sempre lotado de gente.
Virá a atendente da barraca da carne. O pedido é por peso, frações de quilo. A lingüiça, por unidade. Uma lingüiça e um quarto de quilo de carne servem bem duas pessoas. Acompanhamento: tortilhas de milho, bem grandes, e guacamole, bem picante. Logo vem a atendente de outra barraca: a dos vegetais. Ela oferece as deliciosas cebolinhas grelhadas. Parentes menores da nossa cebola, não chegam a ser como as nossas cebolinhas. São uma minicebola. Peça. Ela oferece também chile. Embora comer chile puro grelhado pareça uma tentativa de suicídio gourmet, não é. Ele é saboroso e, se provado com moderação, não é letal.
Então chegam à mesa uma grande cesta com as enormes tortilhas, a carne e a lingüiça assadas. Um prato com o guacamole e outro com o chile e as cebolas.
A carne é um bife bem fininho, a arrachera, que parece um paillard. Ao contrário da lingüiça, gorducha e suculenta, com gosto forte.
Depois de hesitar, observa-se como fazem os outros comensais. Delicadamente cortam, com a mão, um pedaço da carne. Pegam a tortilha, besuntam de guacamole, colocam a carne, a cebola, um naco do chile, enrolam e pronto.
Duas dicas: pegue leve no guacamole, que é apimentado para chuchu, e não se incomode com as aparências durante a refeição. A cebola não é fácil de cortar com os dentes, e a coisa toda pode começar a desmoronar. Mas acidentes, babadas e que tais valem a pena.
Entre uma mordida e outra, vêem-se boas cenas. No meio da confusão - muita gente em um espaço pequeno, trânsito, portanto, complicado- surge um homem com um realejo, estaciona ali no meio e começa a tocar o instrumento. Mal dá para ouvir o som, que é abafado pelo burburinho. Daqui a pouco, aparecem mariachis. E todos começam a falar mais alto. Vozes, mariachis e realejo se sobrepõem.
No final, paga-se a carne para a moça da carne, a tortilha para a atendente da barraca de tortilha, a cebolinha e o chile para a moça da tenda de vegetais e por aí vai. A melhor coisa é ter dinheiro trocado. No fim, tudo sai por menos de 80 pesos (R$ 15) para duas pessoas. (HL)


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