São Paulo, quinta-feira, 04 de agosto de 2005

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DESLIZANDO NA NEVE

Vencer "chiqueirinho" é primeira aula sobre tábuas para o visitante, a 3.000 m do nível do mar

Ar e tombos baqueiam em Valle Nevado

LUIZ GUSTAVO ROLLO
ENVIADO ESPECIAL A VALLE NEVADO

Subir a Valle Nevado é literalmente de tirar o fôlego. Cravada a 3.000 metros de altitude nos Andes chilenos, a duas horas da capital, Santiago, a isolada estação de esqui e seus três hotéis baqueiam pelo ar rarefeito e pelo cenário dos picos nevados da cordilheira que cercam todo o lugar.
Os carregadores do hotel Puerta del Sol afastam a possibilidade de um desmaio ao subirem com as malas, que misteriosamente dobram de peso nesse lugar.
O hotel de quatro estrelas é o irmão do meio do complexo, fica entre o de cinco estrelas, que leva o nome da estação, Valle Nevado, e o de três estrelas, Tres Puntas, mais afastado, logo na entrada do complexo. O clima, além de frio, é familiar. Pais com crianças e adolescentes, casais em lua-de-mel e grupos de aficionados por esqui e snowboard formam o público.
Depois do jantar no restaurante italiano do Puerta, com direito a um bom pinot noir 20 Barrels 2002 (US$ 34), da vinícola Cono Sur (Casablanca), você pode passar sua primeira noite em claro e ver o sol nascer às 7h30. Efeitos da altitude. Cerca de 20% das pessoas têm probleminhas de adaptação. Cefaléia, insônia e náusea são alguns dos sintomas.
Para matar a sede que a falta de umidade no ar e a boa calefação do quarto agravam, dois litros de água (US$ 3,50), do frigobar. Ligar o vaporizador, que fica escondido no armário, também alivia um pouco a situação. Incluso na diária do Puerta, o café da manhã, com boa variedade de pratos, é servido depois das 8h.
Perto das 9h, as pistas geladas e os teleféricos já estão funcionando -só parando às 17h. As aulas coletivas de esqui e snowboard começam às 11h e terminam às 13h. Os perseverantes e os dorminhocos podem acompanhá-las novamente à tarde, das 14h às 16h.

Guarujá do Chile
Os 60 km que separam Valle de Santiago transformam o local num gelado Guarujá chileno nos fins de semana.
A subida e a descida são lentas. Em vários trechos, só um veículo consegue passar entre os paredões de neve que margeiam a estrada, na parte mais alta do caminho. Os restaurantes lotam na hora do almoço, as filas para os teleféricos quadruplicam.
Alguns pacotes já incluem as aulas coletivas (US$ 29 cada uma). Pregada ao Puerta fica a loja de aluguel de equipamentos. Para se aventurar na imensidão branca do vale é preciso provar e alugar botas, esquis (US$ 29/dia), luvas (US$ 6/dia), jaqueta e calças impermeáveis (US$ 12/dia).
Na mala, gorro, cachecol, óculos de sol (de plástico, os de metal congelam), ceroulas e filtro solar -com FPS (fator de proteção solar) de no mínimo 30- são indispensáveis. Meias e malhas de lã são muito bem-vindas.
Usando tudo isso ao mesmo tempo você está pronto para tentar seus primeiros passos com uma ou duas tábuas sob os pés.
A primeira aula é extenuante para todos. A falta de aclimatação à altitude, que demora de um a dois dias, a posição corporal e o dispêndio de energia em movimentos errados contribuem para deixar músculos, joelhos e canelas muito moídos.
Um "chiqueirinho", lugar quase plano, mas que parece íngreme aos iniciantes, ajuda no começo. E ele é feito para os adultos. As crianças aprendem muito rápido o esporte. Basta um dia de aula para que elas passem zunindo pelos pais, capengas.
Os professores são ótimos. Ensinam hiperventilação para evitar desmaios e conseguem explicar em português razoável o que é preciso fazer para começar a se locomover com tamanha parafernália no corpo.
Depois de dominado o "chiqueirinho", o desafio é descer até o teleférico El Prado. "Devagar, muito devagar, para eu não ter de procurar você em Santiago", diz o instrutor, lembrando que a pirambeira da esquerda pode levar à capital chilena sem escalas. Chistes e tombos para os principiantes. "Não tem outro jeito, você só aprende descendo", consola. Na saída da escola de esqui, atenção ao nome, aos óculos e ao gorro de seu instrutor para não perdê-lo de vista e acabar, sem querer, na aula de outro professor. Todos usam as mesmas jaquetas laranjas. Você pode seguir o mestre -ou "la abuela", como dizem por lá- errado e ter de descer La Diablada, pista para gente mais avançada, na raça.
Aulas particulares ajudam a avançar na arte de descer montanhas geladas. Por uma aula exclusiva de como sobreviver aos tombos congelantes em Valle Nevado, o aluno iniciante paga US$ 58 (adulto) por hora.
Na quarta aula coletiva às vezes o esquiador já pode pegar o teleférico El Mirador, chegar a 3.300 metros e tentar descer pelo Camino Bajo, com direito a parada para o almoço no meio do trajeto, na lanchonete Bajo Zero.
Aprender a manejar as pranchas requer esforço e disposição, mas recompensa. A sensação de velocidade e a descarga de adrenalina aliadas à paisagem monumental dos Andes deturpam a noção de tempo. É possível esquiar o dia inteiro sem se dar conta.
Os sete dias do pacote voam. Pouco tempo para aproveitar e curtir o que Valle e os dois esportes têm a oferecer.


Luiz Gustavo Rollo viajou a convite de Valle Nevado e da LAN

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