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DESLIZANDO NA NEVE
Vencer "chiqueirinho" é primeira aula sobre tábuas para o visitante, a 3.000 m do nível do mar
Ar e tombos baqueiam em Valle Nevado
LUIZ GUSTAVO ROLLO
ENVIADO ESPECIAL A VALLE NEVADO
Subir a Valle Nevado é literalmente de tirar o fôlego. Cravada a
3.000 metros de altitude nos Andes chilenos, a duas horas da capital, Santiago, a isolada estação de
esqui e seus três hotéis baqueiam
pelo ar rarefeito e pelo cenário dos
picos nevados da cordilheira que
cercam todo o lugar.
Os carregadores do hotel Puerta
del Sol afastam a possibilidade de
um desmaio ao subirem com as
malas, que misteriosamente dobram de peso nesse lugar.
O hotel de quatro estrelas é o irmão do meio do complexo, fica
entre o de cinco estrelas, que leva
o nome da estação, Valle Nevado,
e o de três estrelas, Tres Puntas,
mais afastado, logo na entrada do
complexo. O clima, além de frio, é
familiar. Pais com crianças e adolescentes, casais em lua-de-mel e
grupos de aficionados por esqui e
snowboard formam o público.
Depois do jantar no restaurante
italiano do Puerta, com direito a
um bom pinot noir 20 Barrels
2002 (US$ 34), da vinícola Cono
Sur (Casablanca), você pode passar sua primeira noite em claro e
ver o sol nascer às 7h30. Efeitos da
altitude. Cerca de 20% das pessoas têm probleminhas de adaptação. Cefaléia, insônia e náusea
são alguns dos sintomas.
Para matar a sede que a falta de
umidade no ar e a boa calefação
do quarto agravam, dois litros de
água (US$ 3,50), do frigobar. Ligar o vaporizador, que fica escondido no armário, também alivia
um pouco a situação. Incluso na
diária do Puerta, o café da manhã,
com boa variedade de pratos, é
servido depois das 8h.
Perto das 9h, as pistas geladas e
os teleféricos já estão funcionando -só parando às 17h. As aulas
coletivas de esqui e snowboard
começam às 11h e terminam às
13h. Os perseverantes e os dorminhocos podem acompanhá-las
novamente à tarde, das 14h às 16h.
Guarujá do Chile
Os 60 km que separam Valle de
Santiago transformam o local
num gelado Guarujá chileno nos
fins de semana.
A subida e a descida são lentas.
Em vários trechos, só um veículo
consegue passar entre os paredões de neve que margeiam a estrada, na parte mais alta do caminho. Os restaurantes lotam na hora do almoço, as filas para os teleféricos quadruplicam.
Alguns pacotes já incluem as
aulas coletivas (US$ 29 cada
uma). Pregada ao Puerta fica a loja de aluguel de equipamentos.
Para se aventurar na imensidão
branca do vale é preciso provar e
alugar botas, esquis (US$ 29/dia),
luvas (US$ 6/dia), jaqueta e calças
impermeáveis (US$ 12/dia).
Na mala, gorro, cachecol, óculos
de sol (de plástico, os de metal
congelam), ceroulas e filtro solar
-com FPS (fator de proteção solar) de no mínimo 30- são indispensáveis. Meias e malhas de lã
são muito bem-vindas.
Usando tudo isso ao mesmo
tempo você está pronto para tentar seus primeiros passos com
uma ou duas tábuas sob os pés.
A primeira aula é extenuante
para todos. A falta de aclimatação
à altitude, que demora de um a
dois dias, a posição corporal e o
dispêndio de energia em movimentos errados contribuem para
deixar músculos, joelhos e canelas
muito moídos.
Um "chiqueirinho", lugar quase
plano, mas que parece íngreme
aos iniciantes, ajuda no começo. E
ele é feito para os adultos. As
crianças aprendem muito rápido
o esporte. Basta um dia de aula
para que elas passem zunindo pelos pais, capengas.
Os professores são ótimos. Ensinam hiperventilação para evitar
desmaios e conseguem explicar
em português razoável o que é
preciso fazer para começar a se locomover com tamanha parafernália no corpo.
Depois de dominado o "chiqueirinho", o desafio é descer até
o teleférico El Prado. "Devagar,
muito devagar, para eu não ter de
procurar você em Santiago", diz o
instrutor, lembrando que a pirambeira da esquerda pode levar
à capital chilena sem escalas.
Chistes e tombos para os principiantes. "Não tem outro jeito, você só aprende descendo", consola.
Na saída da escola de esqui, atenção ao nome, aos óculos e ao gorro de seu instrutor para não perdê-lo de vista e acabar, sem querer, na aula de outro professor.
Todos usam as mesmas jaquetas
laranjas. Você pode seguir o mestre -ou "la abuela", como dizem
por lá- errado e ter de descer La
Diablada, pista para gente mais
avançada, na raça.
Aulas particulares ajudam a
avançar na arte de descer montanhas geladas. Por uma aula exclusiva de como sobreviver aos tombos congelantes em Valle Nevado,
o aluno iniciante paga US$ 58
(adulto) por hora.
Na quarta aula coletiva às vezes
o esquiador já pode pegar o teleférico El Mirador, chegar a 3.300
metros e tentar descer pelo Camino Bajo, com direito a parada para o almoço no meio do trajeto, na
lanchonete Bajo Zero.
Aprender a manejar as pranchas requer esforço e disposição,
mas recompensa. A sensação de
velocidade e a descarga de adrenalina aliadas à paisagem monumental dos Andes deturpam a noção de tempo. É possível esquiar o
dia inteiro sem se dar conta.
Os sete dias do pacote voam.
Pouco tempo para aproveitar e
curtir o que Valle e os dois esportes têm a oferecer.
Luiz Gustavo Rollo viajou a convite de
Valle Nevado e da LAN
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