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DELÍRIO DE PEDRO
Poema elogia estátua do fundador da cidade
"O Cavaleiro de Bronze", de Púchkin, é tido por muitos como a maior obra em verso da literatura russa
DO ENVIADO ESPECIAL
A SÃO PETERSBURGO
Em uma cidade onde o real e
simbólico se confundem, talvez
nada carregue tantos significados como o monumento eqüestre a Pedro, o Grande, na atual
praça dos Dezembristas.
A escultura foi encomendada
ao escultor francês Étienne
Falconet por Catarina, a Grande, e inaugurada em 1782, depois de doze anos de trabalho.
Mas o monumento ficou célebre a partir do poema de
Púchkin "O Cavaleiro de Bronze", de 1833, considerado por
muitos o maior poema da literatura russa, obra ao mesmo
tempo estética e política, como
convém ao espírito russo.
O poema começa com uma
reverência ao czar e à construção da cidade, ressaltando o caráter divino da missão de Pedro
e o embate entre a natureza e a
civilização: "E ele pensou: aqui
uma grande cidade será erguida, a natureza nos incumbiu de
abrir uma janela para a Europa,
os pés cravados junto ao mar".
O próprio narrador declara seu
amor à cidade: "Amo-te, orgulhosa criação de Pedro, amo a
harmonia de tuas linhas e tuas
margens de granito".
Seguindo a introdução reverente, o drama se inicia. Púchkin descreve a grande enchente
de 1824, quando "o Neva selvagem, inchado e brutal, desabou
sobre a cidade".
É neste cenário que aparece o
herói do poema, o funcionário
Evguêni, surpreendido pela
tormenta no caminho de casa.
Empoleirado numa pequena
escultura com as "ondas vorazes a lamberem-lhe os pés", Evguêni tem os olhos fixos no horizonte, temendo por sua amada Paracha. Na mesma praça
está o monumento a Pedro: "De
costas para ele, orgulhoso em
seu pedestal imóvel, de braço
estendido, eleva-se o ídolo".
No dia seguinte, Evguêni
busca Paracha, mas já era tarde,
o lugar havia sido devastado.
Evguêni enlouquece e vaga por
dias pelas ruas de São Petersburgo, confundido com mendigos. Uma noite encontra-se novamente na praça, onde "o ídolo emergia da escuridão, montado em seu corcel de bronze".
O criador da cidade se torna
também culpado pela tragédia:
"Aquele cuja vontade fatal fizera a cidade emergir das águas,
quão assustador parece agora
envolto no nevoeiro! Que energia em seu cavalo orgulhoso!".
No mais famoso trecho do
poema, o funcionário dirige-se
diretamente ao czar. Evguêni
rodeia o monumento e "seu
sangue começa a ferver e uma
chama arde-lhe o peito. Diante
do monstro arrogante com os
punhos e dentes cerrados, possuído por alguma força infernal, sibila com ódio: "Muito
bem, arquiteto milagroso! Você
não perde por esperar!'". Evguêni foge assustado, e o fantasma do cavaleiro de bronze
passa a persegui-lo até a morte.
O "Cavaleiro de Bronze" influenciou toda uma geração de
escritores ao representar o
abismo entre os interesses de
Estado e do homem comum.
Evguêni é um dos célebres "homens sem importância" da literatura russa. Interpretações
marxistas vêem no poema a
centelha do conflito que levaria
à Revolução de Outubro.
(TV)
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