São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008

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BAÍA DE ANGRA

Passeio de barco revela praias e peixes

Vilarejo de Freguesia de Santana tem igreja feita de areia e óleo de baleia, hoje fechada e em reformas

DO ENVIADO ESPECIAL A ILHA GRANDE

O barco tinha capacidade para 60 pessoas, mas apenas 18 viajaram naquele dia chuvoso. Depois de 50 minutos, os motores foram desligados, e a embarcação deslizou suavemente para uma pequena enseada.
Águas claras e calmas já davam a dimensão do que seria o passeio. O guia lembra que, em dias de sol, a parada ali é obrigatória para um mergulho: "Aproveitem, estamos na lagoa Azul", grita, anunciando um dos pontos mais procurados de Ilha Grande.
Nelson Ilha, como é conhecido o guia, nasceu na região, e faz questão de explicar: "Não, não, o filme não foi rodado aqui. É só uma homenagem, embora aqui seja mais bonito".
A viagem até a lagoa Azul foi tão tranqüila que contrastava com o ritmo baiano entoado por Ivete Sangalo e Daniela Mercury. Mas turistas brasileiros e estrangeiros até arriscaram passos do axé como se estivessem em Porto Seguro (BA).
Antes mesmo de a âncora tocar o fundo do mar, alguns turistas mais afoitos já se lançaram ao mergulho. Uns saltaram com estilo da beirada do barco. Outros nem tanto, recorrendo aos espaguetes coloridos que ajudam a flutuar.
Sol ou chuva não importam. O passeio vale a pena. Milhares de pequenos peixes coloridos parecem brincar com os visitantes. É como mergulhar em um grande aquário.
Não demora e alguém joga pequenas migalhas de biscoito na água, provocando uma disparada dos peixes para aquele ponto. Cena ideal para as fotos dos que ficaram no barco.
O guia chama a atenção sobre a alimentação errada dada ao peixes. "Se eles quiserem mais biscoito depois irão à mercearia comprar?", ironiza. Nelson garante que, quando mergulha, leva com ele um punhado de ração feita especialmente para alimentar peixes.
A brincadeira na água dura cerca de uma hora. No retorno, frutas variadas são servidas para os mergulhadores amadores. Gentileza do capitão do barco. À bordo, também há bebidas. O refrigerante custa R$ 3, a caipirinha, R$ 6, e a caipiroska (com vodca), R$ 7. "Preços promocionais porque hoje só tem gente bonita", brinca ele.
Rumamos para a segunda parada: Freguesia de Santana. Os guias fazem questão de mostrar esse vilarejo, que já foi o mais importante da ilha. É de lá a primeira praia descoberta em janeiro de 1506, por André Gonsalves. Além disso, no século 17 abrigou a principal fazenda da região, onde se produzia café e cana-de-açúcar. Nesse período, Freguesia de Santana, concentrou entre mil e 3.000 habitantes.
A pequena igreja do vilarejo foi construída com areia da praia e óleo de baleia. Passou por várias reformas, mas hoje fica fechada. Por sorte, o grupo a encontra entreaberta. Operários se ocupavam de uma grande reforma interna. "Essa reforma só está acontecendo porque um empresário do ramo de petróleo pagou. A filha dele vai se casar aqui", conta o guia.
A próxima parada é na praia de Japariz. Há mais tempo em terra, e todos aproveitam para almoçar. Os pedidos são feitos ainda no barco, e, portanto, a refeição não demora a ser servida. Pratos com peixes ou camarão custam de R$ 40 a R$ 60, e as moquecas, R$ 50. Porções diversas de peixes e carnes custam entre R$ 20 e R$ 40.
Em Japariz é preciso ter dinheiro no bolso. O local não tem telefone e, dessa maneira, os estabelecimentos não aceitam cartão de crédito.
No caminho de volta, o grupo é apresentado a alguns pontos pitorescos da ilha, como a enseada das Estrelas, que tem esse nome porque, em noites claras, as estrelas se refletem na água, proporcionando um visual calmo. Nas noites de verão, cinco restaurantes disputam o lugar para oferecer jantares românticos. "Pena que custam caro. Tem que valer muito o investimento", brinca Nelson.
O passeio ainda segue pela praia da Feiticeira, onde feitiço mesmo ninguém relata. Mas, antigamente, moravam índios ali. Como eles acendiam tochas na praia, o lugar ganhava um visual que lembrava o de rituais de feitiçaria.
Ao lado da Feiticeira, fica uma enseada que provoca reflexão pelo nome, Saco do Céu, praticamente escondida pelo recorte da geografia local. A enseada teria sido abrigo de piratas, que saqueavam navios em alto-mar e se refugiavam das autoridades ali.
O grupo depois segue para a praia do Amor. Diz a lenda que o casal que namora há muito tempo deve escrever nome e sobrenome na areia da praia (é preciso ter o sobrenome para não confundir o operador de lendas), e o desejo se realiza quando a maré enche. "Feito o pedido não adianta querer voltar depois de uns anos. A lenda só funciona para fazer e nunca para desfazer", solta o guia piadista. (FABIO MARRA)


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