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BAÍA DE ANGRA
Passeio de barco revela praias e peixes
Vilarejo de Freguesia de Santana tem igreja feita de areia e óleo de baleia, hoje fechada e em reformas
DO ENVIADO ESPECIAL A ILHA GRANDE
O barco tinha capacidade para 60 pessoas, mas apenas 18
viajaram naquele dia chuvoso.
Depois de 50 minutos, os motores foram desligados, e a embarcação deslizou suavemente
para uma pequena enseada.
Águas claras e calmas já davam a dimensão do que seria o
passeio. O guia lembra que, em
dias de sol, a parada ali é obrigatória para um mergulho:
"Aproveitem, estamos na lagoa
Azul", grita, anunciando um
dos pontos mais procurados de
Ilha Grande.
Nelson Ilha, como é conhecido o guia, nasceu na região, e
faz questão de explicar: "Não,
não, o filme não foi rodado
aqui. É só uma homenagem,
embora aqui seja mais bonito".
A viagem até a lagoa Azul foi
tão tranqüila que contrastava
com o ritmo baiano entoado
por Ivete Sangalo e Daniela
Mercury. Mas turistas brasileiros e estrangeiros até arriscaram passos do axé como se estivessem em Porto Seguro (BA).
Antes mesmo de a âncora tocar o fundo do mar, alguns turistas mais afoitos já se lançaram ao mergulho. Uns saltaram
com estilo da beirada do barco.
Outros nem tanto, recorrendo
aos espaguetes coloridos que
ajudam a flutuar.
Sol ou chuva não importam.
O passeio vale a pena. Milhares
de pequenos peixes coloridos
parecem brincar com os visitantes. É como mergulhar em
um grande aquário.
Não demora e alguém joga
pequenas migalhas de biscoito
na água, provocando uma disparada dos peixes para aquele
ponto. Cena ideal para as fotos
dos que ficaram no barco.
O guia chama a atenção sobre
a alimentação errada dada ao
peixes. "Se eles quiserem mais
biscoito depois irão à mercearia comprar?", ironiza. Nelson
garante que, quando mergulha,
leva com ele um punhado de ração feita especialmente para
alimentar peixes.
A brincadeira na água dura
cerca de uma hora. No retorno,
frutas variadas são servidas para os mergulhadores amadores.
Gentileza do capitão do barco.
À bordo, também há bebidas. O
refrigerante custa R$ 3, a caipirinha, R$ 6, e a caipiroska (com
vodca), R$ 7. "Preços promocionais porque hoje só tem gente bonita", brinca ele.
Rumamos para a segunda parada: Freguesia de Santana. Os
guias fazem questão de mostrar
esse vilarejo, que já foi o mais
importante da ilha. É de lá a
primeira praia descoberta em
janeiro de 1506, por André
Gonsalves. Além disso, no século 17 abrigou a principal fazenda da região, onde se produzia
café e cana-de-açúcar. Nesse
período, Freguesia de Santana,
concentrou entre mil e 3.000
habitantes.
A pequena igreja do vilarejo
foi construída com areia da
praia e óleo de baleia. Passou
por várias reformas, mas hoje
fica fechada. Por sorte, o grupo
a encontra entreaberta. Operários se ocupavam de uma grande reforma interna. "Essa reforma só está acontecendo porque um empresário do ramo de
petróleo pagou. A filha dele vai
se casar aqui", conta o guia.
A próxima parada é na praia
de Japariz. Há mais tempo em
terra, e todos aproveitam para
almoçar. Os pedidos são feitos
ainda no barco, e, portanto, a
refeição não demora a ser servida. Pratos com peixes ou camarão custam de R$ 40 a R$ 60, e
as moquecas, R$ 50. Porções
diversas de peixes e carnes custam entre R$ 20 e R$ 40.
Em Japariz é preciso ter dinheiro no bolso. O local não
tem telefone e, dessa maneira,
os estabelecimentos não aceitam cartão de crédito.
No caminho de volta, o grupo
é apresentado a alguns pontos
pitorescos da ilha, como a enseada das Estrelas, que tem esse nome porque, em noites claras, as estrelas se refletem na
água, proporcionando um visual calmo. Nas noites de verão,
cinco restaurantes disputam o
lugar para oferecer jantares românticos. "Pena que custam
caro. Tem que valer muito o investimento", brinca Nelson.
O passeio ainda segue pela
praia da Feiticeira, onde feitiço
mesmo ninguém relata. Mas,
antigamente, moravam índios
ali. Como eles acendiam tochas
na praia, o lugar ganhava um visual que lembrava o de rituais
de feitiçaria.
Ao lado da Feiticeira, fica
uma enseada que provoca reflexão pelo nome, Saco do Céu,
praticamente escondida pelo
recorte da geografia local. A enseada teria sido abrigo de piratas, que saqueavam navios em
alto-mar e se refugiavam das
autoridades ali.
O grupo depois segue para a
praia do Amor. Diz a lenda que
o casal que namora há muito
tempo deve escrever nome e
sobrenome na areia da praia (é
preciso ter o sobrenome para
não confundir o operador de
lendas), e o desejo se realiza
quando a maré enche. "Feito o
pedido não adianta querer voltar depois de uns anos. A lenda
só funciona para fazer e nunca
para desfazer", solta o guia piadista.
(FABIO MARRA)
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