São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Índice

internacional

Museu fúnebre recria enterro dos papas

TOUR MACABRO - Em Houston (EUA), instituição dedicada à história funerária abriga caixões e outras peças ligadas à morte

DA ASSOCIATED PRESS

Dentro de um dos segredos mais bem-guardados de Houston, música suave e palavras sussurradas saem do sistema de som, o odor das flores deixa um rastro frágil no ar - e o negócio da morte é saudado.
Bem-vindo ao Museu Nacional da História Funerária (www.nmfh.org), num prédio que lembra um depósito no norte da cidade, onde as exibições enaltecem tudo, desde o início do embalsamento até rituais de luto da era vitoriana.
A mistura de artefatos históricos, exibições estranhas (a réplica de um necrotério da Guerra Civil nos EUA) e curiosidades (uma coleção de cabelos humanos transformados em jóias -uma maneira popular de honrar os mortos queridos nos tempos vitorianos) vêm discretamente atraindo visitantes desde 1993.
Agora, o museu espera atrair uma audiência maior com uma nova aquisição: "Celebrando as Vidas e Mortes dos Papas". A mostra de mais de 400 m2 metro é a única mostra de objetos papais fora do Vaticano, muitos dos quais foram doados pelo alfaiate pessoal do papa, Roberto Consorsi. Eles incluem dois dos três conjuntos de vestes funerárias feitos para João Paulo 2º, que foi enterrado com um deles, e a faixa que o pontífice usava todos os dias.
O museu levou dois anos para conseguir permissão do Vaticano para o projeto, e outro ano para preparar a exibição, afirmou Genevieve Keeney, diretora do museu. "Somos abençoados de ter isso", diz Keeney, que passou centenas de horas recriando rituais funerários papais -quase sempre a partir de fotografias do Vaticano.
A exibição foi projetada para recriar a experiência de participar de um funeral papal. Os visitantes são guiados por uma série de corredores e quartos que representam diferentes estágios do processo de luto.
Em um nicho, a morte do pontífice é anunciada por um trio de locutores: um britânico, um americano e um falante de espanhol. Nas paredes estão capas de revistas e primeiras páginas de jornais publicadas após as mortes de vários papas. As publicações, que remontam a 1878 e à morte do papa Pio 9º, foram compradas pela internet pelo presidente do museu, Robert Boetticher.
Depois, o visitante atravessa cortinas vermelhas para ver a recriação de um papa deitado na basílica de São Pedro, ladeado por membros da Guarda Suíça. Um manequim representando o pontífice está vestido com as roupas funerárias feitas para João Paulo 2º.
A exibição ainda inclui réplica dos três caixões -feitos de cipreste, chumbo e abeto- usados em enterros papais, e da cripta de João Paulo 2º, sob o altar da basílica de São Pedro.
De acordo com Keeney, quando Roberto Consorsi, o alfaiate papal, viu a exposição pela primeira vez, ele apenas disse uma palavra: "Perfecto".
Autoridades do museu esperam que os visitantes que vêm para a exibição fiquem para outras atrações do museu, que mesclam a vida cotidiana com os rituais de morte, o sério com o engraçado, a cultura popular com a história.
Há, por exemplo, a loja de presentes do museu, onde os visitantes podem comprar desde miniaturas de ataúdes feitas de ferro até canecas com o slogan do museu: "Qualquer dia sobre o chão é um bom dia".
No cavernoso salão principal de exibições, caixões, dos mais simples aos mais ornados, dividem espaço com mais de uma dúzia de ataúdes dos mais diversos estilos e décadas, incluindo um usado para levar o corpo da princesa Grace de Mônaco.
A coleção inclui um ônibus funerário Packard de 1916, projetado para levar todos os participantes de um funeral, e um caixão "para três", feito em 1930 para um casal que planejava cometer suicídio após a morte do filho -mais tarde, eles mudaram de idéia.
Uma alcova negra, dedicada a funerais de presidentes, está cheia de recordações, como faturas dos serviços funerários de Franklin Delano Roosevelt e de George Washington e uma faixa de luto usada no enterro de Abraham Lincoln.
O museu ainda tem uma coleção de caixões de Gana entalhados à mão, elaborados para representar a vida do morto. As peças de cores vibrantes do escultor Kane Quaye incluem um feito para lembrar um caranguejo, outro parecido com uma canoa e um terceiro que representa uma galinha.
"Apenas um determinado segmento de pessoas se interessa por caixões e vestes de luto", diz Boetticher. "Achamos que a exibição papal será uma atração para outras pessoas, e que, quando elas vierem, vão ver todo o resto."


Texto Anterior: Panorâmica/Temático: Splendour faz cruzeiro "Aprendiz 2009"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.