São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2004

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NOVOS RUMOS

Em seminário em Paris, país anuncia a campanha "Bienvenue!" para melhorar acolhida e atrair mais visitantes

França discute papel no turismo até 2010

SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

"O que estamos fazendo de errado?" Líder do turismo mundial, a França, que recebeu 75 milhões de turistas estrangeiros em 2003, realizou em Paris um seminário, em 29 e 30 de março, para nortear suas ações até 2010 e colocar o dedo em suas próprias feridas.
A resposta, que ecoou de uma consulta realizada antes mesmo do seminário, veio da entrevista de 10 mil profissionais do setor. A Maison de la France (MDLF), órgão oficial de fomento turístico do país, mantido por recursos públicos e privados, deve doravante: empenhar-se para que a relação entre qualidade e preço seja prioridade; zelar para que os turistas estrangeiros sejam recebidos com mais bom humor pelos parisienses; e fazer com que as pessoas envolvidas na recepção de viajantes estrangeiros no país tratem de falar mais e melhor o inglês.
Num cenário de conjuntura adversa para o turismo norte-americano e mesmo para o europeu, a França, nesse evento que reuniu, em Paris, 150 delegados do Conselho Consultivo da MDLF vindos de 30 países, teve a coragem de discutir francamente assuntos como terrorismo e segurança, carestia em tempos de euro ultraforte, competição com países emergentes em matéria de turismo, impacto da internet e da segmentação no setor e, também, a estratégia de seus principais concorrentes mundiais: Espanha, Itália, Reino Unido e EUA.
Apesar dos tempos de insegurança, o governo francês, que financia um terço do orçamento da MDLF, pago também pela iniciativa privada e por associações classistas, elegeu em 2004 o turismo como prioridade absoluta.
Atrás da França, a Espanha é o segundo maior destino turístico europeu e mundial, tendo recebido, segundo Jean Philippe Perol, diretor da MDLF nos EUA, cerca de 55 milhões de turistas em 2003.
Curiosamente, a França também parece preocupada com a ascensão da Itália -que tem predicados parecidos com os franceses, como turismo urbano e cultural, esqui, praias e gastronomia- e com o desempenho do Reino Unido, que tem em Londres a sua cidadela e fortaleza turística.
Para reverter os "pontos fracos" da França em matéria de turismo, a MDLF planeja relançar a campanha que fez em 2000, a "Bonjour" (bom-dia), assegurando que os turistas tenham de fato uma gentil acolhida. O novo programa, que rivalizará com a campanha espanhola "Espanã Marca" e com a britânica "Visit Britain", deverá se chamar desta vez "Bienvenue!" (bem-vindo).

Tempos bicudos
"A agenda é nova", disse o diretor-geral da MDLF, Thierry Baudier, afirmando que de 2002 para 2003 a França perdeu 5,6% de seu mercado, declinando de 77 milhões de turistas estrangeiros para 75 milhões deles.
A Guerra do Iraque e mesmo os atentados terroristas na Espanha, em 11 de março último, machucaram o turismo europeu e mundial, ainda que os resultados não tenham se feito sentir de imediato nem mesmo na Espanha.
Nos EUA, regras mais rígidas para a concessão de vistos devem, a médio prazo, fazer com que o número de visitantes internacionais também decline.
De todo modo, a consolidação da União Européia havia feito que o turismo na região ganhasse foros de turismo regional - e que britânicos e alemães, por exemplo, redescobrissem seus próprios países, minorando os efeitos da crise mundial.
Com a valorização do euro, norte-americanos e japoneses, antes "muito valentes", tenderam a viajar um pouco menos para a Europa ou, talvez, a encurtar a permanência no velho continente.
Mas como nem tudo é ciência exata em turismo, outros fenômenos já estão sendo sentidos e analisados por órgãos como a MDLF. Entre eles, há a queda de preços das passagens aéreas -e isso sugere que, no futuro próximo, turistas internacionais empreendam mais viagens e fiquem menos dias em seus destinos. Também deve tomar vulto significativo a segmentação e, nesse capítulo, a MDLF aposta que, até 2010, pessoas mais velhas e casais homossexuais viajarão mais.
A França, por intermédio de seu órgão de fomento turístico, também volta agora a sua atenção para novos mercados. E a surpresa que emerge dessa reunião de Paris é a listagem dos países que devem enviar significativo contingente de turistas aos grandes destinos da Europa: China, Rússia, Índia, Brasil e, em menor escala, alguns países do Leste Europeu.


Silvio Cioffi viajou a Paris a convite da Air France, da Maison de la France (SP) e das empresas de consultoria em hotelaria X-Mart e GP Marketing.


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