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PARQUE NACIONAL
Diamante trouxe o garimpo no século 19
Mineração mecanizada foi proibida em 1996; moradores juram não procurar diamantes em seus quintais
DO ENVIADO ESPECIAL
À CHAPADA DIAMANTINA
Muito antes de tomarem as
vitrines de aparatosas lojas de
jóias como H. Stern, os diamantes abundavam na Chapada
Diamantina em meados do século 19. No ano de 1844, abundavam mais precisamente nas
mãos de José Pereira do Prado,
o Cazuzinha do Prado, no município de Mucugê.
Como encontrou duas pedras, de um e de quatro quilates, Cazuzinha voltou ao local,
segundo o livro "Chapada Diamantina - Águas do Sertão",
com "14 homens de sua confiança e um carregamento de
bateias, carumbés, frincheiros,
marrões, peneiras e enxadas".
O saldo da empreitada? Seis arrobas, ou cerca de 90 quilos, "de
diamantes grossos".
Mas é claro que uma descoberta tão lustrosa não permaneceria em silêncio. Um dos 14
homens resolveu vender seu
quinhão em outras paragens.
Pego, foi acusado de ter roubado os diamantes em Minas Gerais, preso e obrigado a confessar onde os havia garimpado.
Logo estava em curso um novo ciclo minerador -para a região, foi ainda mais opulento
que o do ouro, no século 17.
Mucugê, Andaraí, Palmeiras
e Lençóis eram as cidades mais
recheadas. No auge, Lençóis,
notória pela qualidade, quantidade e tamanho desse recheio,
tornou-se a terceira cidade
mais importante da Bahia,
atrás de Salvador e de Feira de
Santana. Na década de 1850,
chegou a ter cerca de 25 mil habitantes, duas vezes e meia o
que tem hoje, quando a cidade
vive do turismo e recebe em
média 100 mil turistas por ano.
Em 1867, enormes jazidas foram encontradas na África do
Sul. O preço do diamante caiu, e
a hegemonia brasileira nesse
mercado ficou comprometida.
Não demorou muito, no entanto, para que a Chapada se
apegasse ao carbonado, mineral resistente ao calor e valorizado pela indústria européia e
norte-americana de então.
Para não fugir à tradição local (e nacional), os lucros desse
extrativismo também não se
reverteram em benefícios permanentes, e, no começo do século 20, a produção do carbonado caiu, levando muitos trabalhadores a emigrarem dali.
Um último respiro minerador significativo ocorreu na década de 1980: com minas mecanizadas, foram garimpados diamantes antes inacessíveis.
Só que deslocar as pesadas
máquinas que faziam esse trabalho não era fácil. E, mais ainda, a idéia da proteção ambiental havia ganhado força. A exploração mecanizada foi proibida pela União e pelo Estado
da Bahia em 1996.
Hoje, há esparsas tentativas
de explorar alguma coisa. Não é
raro encontrar moradores com
terras generosas -segundo o
Ibama, apenas 12% dos diamantes da Chapada Diamantina foram explorados. Mas são
moradores que se dizem resignados com a lei: juram que deixarão desacordado o potencial
do seu quintal.
(THIAGO MOMM)
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