|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ouça grito de 600 anos na catedral
DA ENVIADA ESPECIAL
Todas as noites, entre as 22h e
as 2h, você pode tomar um susto
se estiver passeando pelas redondezas de Lausanne.
Ou então, parar para admirar
um hábito medieval que já dura
quase 600 anos: o grito do guardião da mais bela catedral gótica
de toda a Suíça.
"Ces't le guet. Il a sonné 10, il a
sonné 10 (É o guardião. São dez
horas, são dez horas)", é o que ele
grita de hora em hora, após o tocar dos sinos da catedral, sempre
mudando, obviamente, o horário
anunciado.
O que impressiona também é o
fôlego do guardião, que cinco minutos antes de cada badalada sobe os 160 degraus da labiríntica
escada da catedral até chegar à
torre para logo em seguida dar
seu recado.
"Na Europa, talvez mais duas
ou três catedrais mantenham o
hábito, mas o de Lausanne é certamente o mais antigo", comenta
Philippe Becquelin, 42, cartunista
e também o guardião da catedral
de Lausanne.
Salários
"Comecei há oito anos para ajudar nas despesas da casa e não
penso em largar a função tão cedo", comenta ele.
Casado e pai de dois filhos, Becquelin recebe um salário de 2.500
francos suíços (US$ 1.475) por
mês da comunidade de Lausanne.
Acredite ou não, o peso da tradição é tão grande que, há alguns
anos, quando o governo quis votar sobre a continuidade ou não
do hábito, a população local, que
chega a pagar até 15% do salário
em impostos, foi quase unânime
em optar por manter a tradição
medieval.
Segundo ele, que tem um quarto na catedral de Lausanne, a família considera o seu trabalho
"normal". "Durmo de segunda à
sexta-feira na catedral e passo os
dias em casa, fazendo cartuns para uma revista semanal de notícias", diz ele, que mora a dez minutos de ônibus da catedral.
"Nos finais de semana e nos
meus dias de folga, a catedral continua sendo vigiada, mas pelos
guardiões auxiliares."
Vale a pena conferir o guardião
de perto se você tiver fôlego para
subir todos os degraus até a torre.
A visita é grátis, mas precisa ser
agendada com antecedência, em
inglês ou francês, com o próprio
guardião, pelo telefone local 021/
312-7491.
Não deixe de ir agasalhado, porque o vento na torre é de dar calafrios até a quem não se impressiona com o grito do guardião.
(RN)
Texto Anterior: Lago de Genebra é fértil para os artistas Próximo Texto: Jung lança "olhar suíço" à alma Índice
|