São Paulo, segunda-feira, 05 de junho de 2000


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Ouça grito de 600 anos na catedral

DA ENVIADA ESPECIAL

Todas as noites, entre as 22h e as 2h, você pode tomar um susto se estiver passeando pelas redondezas de Lausanne.
Ou então, parar para admirar um hábito medieval que já dura quase 600 anos: o grito do guardião da mais bela catedral gótica de toda a Suíça.
"Ces't le guet. Il a sonné 10, il a sonné 10 (É o guardião. São dez horas, são dez horas)", é o que ele grita de hora em hora, após o tocar dos sinos da catedral, sempre mudando, obviamente, o horário anunciado.
O que impressiona também é o fôlego do guardião, que cinco minutos antes de cada badalada sobe os 160 degraus da labiríntica escada da catedral até chegar à torre para logo em seguida dar seu recado.
"Na Europa, talvez mais duas ou três catedrais mantenham o hábito, mas o de Lausanne é certamente o mais antigo", comenta Philippe Becquelin, 42, cartunista e também o guardião da catedral de Lausanne.

Salários
"Comecei há oito anos para ajudar nas despesas da casa e não penso em largar a função tão cedo", comenta ele.
Casado e pai de dois filhos, Becquelin recebe um salário de 2.500 francos suíços (US$ 1.475) por mês da comunidade de Lausanne. Acredite ou não, o peso da tradição é tão grande que, há alguns anos, quando o governo quis votar sobre a continuidade ou não do hábito, a população local, que chega a pagar até 15% do salário em impostos, foi quase unânime em optar por manter a tradição medieval.
Segundo ele, que tem um quarto na catedral de Lausanne, a família considera o seu trabalho "normal". "Durmo de segunda à sexta-feira na catedral e passo os dias em casa, fazendo cartuns para uma revista semanal de notícias", diz ele, que mora a dez minutos de ônibus da catedral.
"Nos finais de semana e nos meus dias de folga, a catedral continua sendo vigiada, mas pelos guardiões auxiliares."
Vale a pena conferir o guardião de perto se você tiver fôlego para subir todos os degraus até a torre. A visita é grátis, mas precisa ser agendada com antecedência, em inglês ou francês, com o próprio guardião, pelo telefone local 021/ 312-7491.
Não deixe de ir agasalhado, porque o vento na torre é de dar calafrios até a quem não se impressiona com o grito do guardião. (RN)




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