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ACESSIBILIDADE
Limitação não impede esportes radicais
Pode-se fazer surfe, rafting e pára-quedismo; procura por esse tipo de turismo, no entanto, ainda é fraca
RAFAEL TARGINO
VERENA FORNETTI
Colaboração para a Folha
O tetraplégico Ricardo Shimosakai faz rafting e pára-quedismo. A publicitária argentina
Nélida Barbeito, que tem uma
deficiência que compromete o
equilíbrio, esquiou no Colorado, nos EUA. E Silvio Batagini,
que teve uma das pernas amputada, pratica escalada.
Tanto quanto com o próprio
entusiasmo, esses viajantes tiveram que contar com pacotes
turísticos e com destinos ajustados às suas limitações.
"Se não tem banheiro adaptado, a pessoa pode fazer pára-quedismo, mas não vai ao banheiro", exemplifica Dadá Moreira, 41, sobre a infra-estrutura para a prática de esportes radicais pelos deficientes. Moreira tem ataxia, a incapacidade de
coordenação dos movimentos
musculares voluntários.
Os esportes radicais e o ecoturismo não têm regulamentação específica para atender os
portadores de deficiência física,
mas algumas agências de turismo começam a se adequar às
necessidades desse público.
A procura ainda é pequena. A
agência paulistana Freeway
lançou pacotes especiais para
atender os interessados em
2004. Até agora, apenas 30 pessoas procuraram o serviço. A título de comparação, nas viagens sem adaptações, a agência
atende, em média, 500 pessoas
por mês. Edgar Werblowsky,
proprietário da Freeway, atribui o baixo movimento à falta
de divulgação e afirma que algumas famílias têm medo de
viajar porque não acreditam
que os lugares estejam preparados para recebê-las.
A agência oferece pacotes para Ilha Anchieta (SP), Itacaré
(BA), Maraú (BA), Bonito (MS),
Pantanal (MS), Fernando de
Noronha (PE) e Lençóis Maranhenses (MA).
Em Brotas, a 245 km de São
Paulo, a agência Alaya Expedições (www.alaya.com.br) começou a treinar os monitores
de esportes de aventura com
equipe de fisioterapeutas e
profissionais de educação física. A empresa já atendeu pessoas com deficiência visual e
dificuldade de mobilidade. O
objetivo é preparar todas as
modalidades esportivas para
atender esse público.
Em atividades como asa-delta, mergulho e rafting, dependendo das características do
turista, não é preciso modificar
as técnicas. Já esportes como
esqui e surfe são adaptados.
A estação do Colorado em
que Nélida Barbeito esquiou
pela primeira vez foi a de Breckenridge Outdoor Education
Center. "Cheguei com medo,
mas tudo foi excepcional. Não
fiz o percurso todo, mas esquiei
desde o primeiro minuto", conta. Ela esquiou com protetores
especiais de segurança.
Nélida também fez rafting na
Patagônia, no Parque Nacional
Nahuel Huapi. "Foi algo maravilhoso, a melhor oportunidade de percorrer 18 km sem andar", entusiasma-se.
O próximo destino da publicitária será Maresias, no litoral
paulista, onde fará surfe adaptado (veja roteiros na pág. F9).
Depois do acidente que atingiu sua perna, Silvio Batagini,
35, teve dificuldade para voltar
a confiar no próprio corpo. Na
primeira vez que viu uma escada rolante, teve medo de enfrentá-la. O esporte renovou
sua confiança. "Fui vencendo
meus medos e meus próprios
preconceitos", conta.
Para Ricardo Shimosakai, 39,
"às vezes, só é necessário ter
boa vontade para que o deficiente pratique esportes".
Paulo Guilherme Rocha, 35,
que tem distrofia dos membros
superiores, cita outra vantagem das atividades: a independência. Ele foi incentivado desde pequeno a manter uma vida
autônoma. "Meus pais decidiram me matricular em um colégio normal. Foi o primeiro
passo para minha total independência. O segundo foi
quando eu quis aprender a andar de bicicleta", afirma.
"Quando era pequeno, minha mãe dizia que eu não deveria ir longe. A primeira vez que
consegui dar uma volta no
quarteirão, senti uma liberdade... Foi marcante." Rocha já
praticou trekking, fez mergulho e voou de asa-delta.
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