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Contrastando ao caos de outras localidades, predominam nesta cidade harmonia, tradição e refinamento
Jardins em Suzhou aguçam os sentidos
NA CHINA
Num país onde as cidades são,
em geral, caóticas, poluídas e carentes de uma arquitetura marcante, Suzhou destaca-se pelos
seus encantadores jardins, escondidos atrás de muros caiados de
branco, e pelo ambiente descontraído e relaxado.
Ao contrário dos amplos jardins de Pequim, os de Suzhou são
relativamente pequenos, porém
mais representativos da essência
do jardim chinês tradicional, que
persegue quatro qualidades fundamentais: balanço, harmonia,
proporção e variedade.
Os jardins, alguns deles em ótimo estado de conservação, combinam água, pedra, pavilhões,
corredores, pontes de madeira,
plantas, peixes e aves num conjunto que não pretende parecer
natural, mas reunir infinitas riquezas num pequeno espaço.
Há cerca de mil anos, Suzhou
começou a estabelecer sua tradição de construir alguns dos jardins mais bonitos da China (só os
de Hangzhou, cidade não muito
distante, podem ser comparados)
e chegou a ter mais de 200. Ainda
há um bom número deles, mas
três são fundamentais.
O mais refinado é o Wangshi
Yuan (jardim do mestre das redes), que foi a casa de um funcionário público de alto escalão. É
formado por diversos pequenos
halls, pavilhões e pátios interligados por passarelas e pontes. No
centro de tudo, tem um lago.
Pequeno e acolhedor, o jardim
exige atenção para os detalhes: o
formato das janelas, o trabalho
em madeira das portas, as manchas naturais dos mármores incrustados nos móveis, a harmonia entre a área construída, a vegetação e os espelhos de água.
Nada é gratuito, cada canto é
pensado para estimular ao máximo os sentidos, mesclando com
sutileza os diversos elementos à
disposição para proporcionar beleza e relaxamento.
Outro jardim belíssimo é o Shizi
Lin (jardim da grota do leão), talvez o melhor exemplo de um tipo
de jardim chinês construído com
rochas de formatos estranhos,
consequência de um processo deliberado de erosão após décadas
de imersão em rios ou lagos.
Nesse jardim, as pedras, dispostas em torno de um lago, formam
um verdadeiro labirinto, com caminhos tortuosos que sobem e
descem, desembocando em passagens estreitas ou grutas. Percorrê-lo é uma experiência divertida.
Finalmente, também vale conhecer o Zhuozheng Yuan (jardim do pequeno administrador),
idealizado por um funcionário
imperial que, após cair em desgraça, dedicou-se à jardinagem.
Embora não seja tão charmoso
quanto o primeiro nem tão lúdico
quanto o segundo, tem pavilhões
e vistas bonitas e coleções de bonsais, pedras e mármores.
Vistos esses três jardins, reserve
um pouco de tempo para conhecer o resto da cidade, que preserva
parte de sua muralha antiga e de
suas casas tradicionais -baixas e
sólidas, de paredes brancas e telhados curvos cinzas.
Suzhou também é cortada e circundada por canais. Em alguns
pontos, ainda há pontes antigas e
é possível passear em barcos tipicamente chineses, de madeira e
com bancos de palha trançada.
Embora Suzhou esteja vivendo,
como toda a China, uma renovação muito rápida, os prédios novos seguem o padrão das construções tradicionais: têm no máximo
dois ou três andares e são pintados de branco, o que dá à cidade
uma homogeneidade rara.
Além disso, é historicamente
uma cidade próspera. Fundada
em 600 a.C., ganhou importância
a partir de 700 d.C., com a construção do Grande Canal (leia texto abaixo). Por volta do século 12,
o poder central foi transferido do
norte da China para Hangzhou e,
posteriormente, para Nanquim.
Com a proximidade da corte, a cidade se tornou um importante
centro de produção de seda.
Nos últimos anos, está se tornando um pólo de informática.
Essa prosperidade reflete-se na
população: há muitos jovens, vestidos com roupas coloridas e modernas; as ruas, de dia e de noite,
estão sempre cheias; o comércio é
variado; há bons hotéis, restaurantes, cafés e cibercafés.
Apesar do movimento, o trânsito flui bem, com muitas bicicletas,
e não há tanto barulho. Isso torna
a visita a Suzhou uma experiência
relaxante, algo não muito comum
na China.
(OTÁVIO DIAS)
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