São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

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Contrastando ao caos de outras localidades, predominam nesta cidade harmonia, tradição e refinamento

Jardins em Suzhou aguçam os sentidos

NA CHINA

Num país onde as cidades são, em geral, caóticas, poluídas e carentes de uma arquitetura marcante, Suzhou destaca-se pelos seus encantadores jardins, escondidos atrás de muros caiados de branco, e pelo ambiente descontraído e relaxado.
Ao contrário dos amplos jardins de Pequim, os de Suzhou são relativamente pequenos, porém mais representativos da essência do jardim chinês tradicional, que persegue quatro qualidades fundamentais: balanço, harmonia, proporção e variedade.
Os jardins, alguns deles em ótimo estado de conservação, combinam água, pedra, pavilhões, corredores, pontes de madeira, plantas, peixes e aves num conjunto que não pretende parecer natural, mas reunir infinitas riquezas num pequeno espaço.
Há cerca de mil anos, Suzhou começou a estabelecer sua tradição de construir alguns dos jardins mais bonitos da China (só os de Hangzhou, cidade não muito distante, podem ser comparados) e chegou a ter mais de 200. Ainda há um bom número deles, mas três são fundamentais.
O mais refinado é o Wangshi Yuan (jardim do mestre das redes), que foi a casa de um funcionário público de alto escalão. É formado por diversos pequenos halls, pavilhões e pátios interligados por passarelas e pontes. No centro de tudo, tem um lago.
Pequeno e acolhedor, o jardim exige atenção para os detalhes: o formato das janelas, o trabalho em madeira das portas, as manchas naturais dos mármores incrustados nos móveis, a harmonia entre a área construída, a vegetação e os espelhos de água.
Nada é gratuito, cada canto é pensado para estimular ao máximo os sentidos, mesclando com sutileza os diversos elementos à disposição para proporcionar beleza e relaxamento.
Outro jardim belíssimo é o Shizi Lin (jardim da grota do leão), talvez o melhor exemplo de um tipo de jardim chinês construído com rochas de formatos estranhos, consequência de um processo deliberado de erosão após décadas de imersão em rios ou lagos.
Nesse jardim, as pedras, dispostas em torno de um lago, formam um verdadeiro labirinto, com caminhos tortuosos que sobem e descem, desembocando em passagens estreitas ou grutas. Percorrê-lo é uma experiência divertida.
Finalmente, também vale conhecer o Zhuozheng Yuan (jardim do pequeno administrador), idealizado por um funcionário imperial que, após cair em desgraça, dedicou-se à jardinagem.
Embora não seja tão charmoso quanto o primeiro nem tão lúdico quanto o segundo, tem pavilhões e vistas bonitas e coleções de bonsais, pedras e mármores.
Vistos esses três jardins, reserve um pouco de tempo para conhecer o resto da cidade, que preserva parte de sua muralha antiga e de suas casas tradicionais -baixas e sólidas, de paredes brancas e telhados curvos cinzas.
Suzhou também é cortada e circundada por canais. Em alguns pontos, ainda há pontes antigas e é possível passear em barcos tipicamente chineses, de madeira e com bancos de palha trançada.
Embora Suzhou esteja vivendo, como toda a China, uma renovação muito rápida, os prédios novos seguem o padrão das construções tradicionais: têm no máximo dois ou três andares e são pintados de branco, o que dá à cidade uma homogeneidade rara.
Além disso, é historicamente uma cidade próspera. Fundada em 600 a.C., ganhou importância a partir de 700 d.C., com a construção do Grande Canal (leia texto abaixo). Por volta do século 12, o poder central foi transferido do norte da China para Hangzhou e, posteriormente, para Nanquim. Com a proximidade da corte, a cidade se tornou um importante centro de produção de seda.
Nos últimos anos, está se tornando um pólo de informática. Essa prosperidade reflete-se na população: há muitos jovens, vestidos com roupas coloridas e modernas; as ruas, de dia e de noite, estão sempre cheias; o comércio é variado; há bons hotéis, restaurantes, cafés e cibercafés.
Apesar do movimento, o trânsito flui bem, com muitas bicicletas, e não há tanto barulho. Isso torna a visita a Suzhou uma experiência relaxante, algo não muito comum na China.
(OTÁVIO DIAS)


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