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Falta só cheiro de sangue e suor em área do sítio arqueológico de terracota que ainda passa por escavações
Soldados de barro, 2.200, virão de Xian a SP
NA CHINA
Os brasileiros terão o gostinho
de ver pela primeira vez no país 11
cavaleiros de terracota da dinastia
Qin, em tamanho natural, que serão expostos na maior mostra sobre cultura chinesa realizada no
Brasil, com abertura no dia 29 de
outubro na Oca, em São Paulo.
É uma pitada do que se vê em
Xian. Cabeças separadas dos torsos, pedaços de corpos humanos
misturados aos de cavalos, lanças
despontando do chão empoeirado: trata-se de uma enorme praça
de guerra, congelada no tempo
após uma batalha dramática.
É essa a impressão que se tem ao
percorrer as extensas escavações
do Exército de Terracota de Xian,
um dos principais sítios arqueológicos da China, situado a 28 km da
capital da Província de Shaanxi.
Formado por cerca de 8.000
guerreiros, devidamente paramentados com armaduras, elmos, escudos e armas e acompanhados de grande número de cavalos e de carros de guerra, o exército foi idealizado por Qin Shi
Huang (221 a.C.-210 a.C.), que há
cerca de 2.200 anos unificou os diversos povos em conflito e fundou a dinastia Qin, tornando-se o
primeiro imperador da China.
Para guardar sua tumba, que até
hoje permanece inviolada no interior de uma colina artificial de
dezenas de metros de altura, ele
mandou modelar um exército de
terracota em tamanho natural,
cujos integrantes distinguem-se
por roupas e acessórios, segundo
suas funções e hierarquia e pelas
expressões dos rostos.
Os integrantes da impressionante força armada foram dispostos em três áreas a algumas centenas de metros do túmulo do imperador.
Os fossos foram divididos, em
intervalos regulares, por grossas
paredes de barro e, em cada nicho, os guerreiros, os cavalos e toda a parafernália bélica foram cuidadosamente enfileirados, em
formação de batalha.
Em seguida, o conjunto foi protegido por um teto feito de madeiras nobres e coberto de terra, permanecendo oculto e esquecido
durante mais de 2.000 anos.
Apenas em 1974 o exército foi
redescoberto por camponeses
que perfuravam um poço. Desde
então, iniciou-se um complexo
trabalho de pesquisa, que está
longe de terminar, o que dá ao visitante a oportunidade única de
presenciar o processo de escavação de um dos mais importantes
sítios arqueológicos do mundo.
Sobre os três fossos foram erguidos três grandes galpões com
passarelas, de onde se pode ver as
estátuas de barro de cima. Ao entrar no primeiro -e maior- galpão, o visitante depara-se imediatamente com a visão mais conhecida do Exército de Terracota de
Xian: cerca de mil guerreiros de
barro em pé e enfileirados, armados e prontos para a batalha.
Essa foi provavelmente a imagem idealizada por Qin Shi
Huang para desencorajar eventuais violadores de sua tumba.
Mas ela teve de ser recriada pelos
arqueólogos a partir dos pedaços
de estátuas resgatados no período
das escavações. Nos séculos que
permaneceu sob a terra, o exército foi duramente vitimado pela
ação do tempo, por elementos naturais, vandalismo e roubo.
Partes das coberturas de madeira ruíram, destruindo e soterrando as estátuas que estavam embaixo. Hoje, o que se vê nas áreas
que estão sendo escavadas lembra
um campo de guerra, repleto de
braços, pernas, cabeças e torsos
humanos e de animais, misturados a diversos artefatos bélicos.
Tudo parece saltar das entranhas da terra, já que partes do
exército permanecem enterradas
enquanto outras emergem do
chão empoeirado. É uma visão
aterradora e, ao mesmo tempo,
poética. Por um lado, há uma forte dose de realismo, parece haver
cheiro de sangue e suor no ar.
Por outro, são só restos de estátuas de barro, embora feitas por
mãos humanas 2.200 anos atrás.
Conhecer o Exército de Terracota de Xian é, sem dúvida, uma
experiência grandiosa, uma mistura de história e ficção.
É como a representação, em
grande escala, de uma cena da
"Ilíada". Ou melhor, de um correspondente chinês ao épico de
Homero.
(OTÁVIO DIAS)
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