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ROTA SUL-AMERICANA
Por terra, culturas vizinhas se exaltam
Aventura de carro até Buenos Aires compensa por revelar fusão entre Sul do Brasil, Argentina e Uruguai
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
ENVIADO ESPECIAL À ARGENTINA
E AO URUGUAI
O vôo até Buenos Aires hoje
custa em torno de R$ 600 (ida e
volta) e dura duas horas. De
carro, a viagem de 2.500 km é
menos segura, mais demorada,
levando três dias para chegar
até lá sem muita pressa, e pode
ser mais cara. Um automóvel
1.0 faz todo o percurso gastando cerca de R$ 900 em gasolina,
aos quais se somam cerca de R$
200 de pedágio, mais gastos de
hospedagem e comida.
Só que tem um detalhe: ao
viajar de avião, atravessando os
Pampas por sobre as nuvens,
perde-se a paisagem, a rotina e
as peculiaridades que acontecem em terra firme.
Você não verá coelhos pulando de lá para cá nas estradas do
Uruguai, por exemplo. Ou ainda um píer em ruínas na ponta
de uma cidade histórica. Ou as
plantações de mate sacudindo
ao sabor do vento, como no
norte da Argentina; ou a frase
"Las Islas Malvinas son argentinas!", escrita em placas, e as
imagens de santos, pontuando
as marginais das rodovias.
Lá do alto, não é preciso fazer
cara de bonzinho para um policial da fronteira, parar várias
vezes para encher o tanque, pedir informações para um milhão de pessoas, olhar o mapa,
voltar do caminho errado para
o certo, ficar cansado.
Mas de carro, há ganhos incontáveis. É possível ver o pôr-do-sol à beira de um precipício
da serra Gaúcha, se embrenhar
pelas ruínas das missões jesuíticas no norte da Argentina depois de comer um bife de chorizo à beira da estrada, assistir à
brisa que vem do Atlântico soprar contra um cassino decadente em uma praia de Montevidéu, fazer uma parada rápida,
só para registrar em foto bois,
ovelhas e cavalos passando lentamente rente ao caminho.
Em outras palavras, viajar
para Buenos Aires de carro,
embora tenha como objetivo final chegar à capital argentina
propriamente dita, significa
curtir uma pequena aventura
que vai revelar a cultura do Sul
do Brasil e como ela se funde às
culturas uruguaia e argentina,
em passeios pincelados pela
história das colonizações espanhola e portuguesa, das pequenas batalhas travadas no campo entre os colonos dos dois
reinos, dos índios catequizados, dos imigrantes, das repúblicas reduzidas aos cacos reunidos pelos museus e cemitérios das capitais.
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