São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2008

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NUEVOS AIRES

Dama da coleção é rica, pop e controversa

Retratada pelo artista Andy Warhol, empresária é acusada de vínculos com a última ditadura do país

DE BUENOS AIRES

Amalia Lacroze de Fortabat, 87, dona do novo museu de Buenos Aires e conhecida como a mulher mais rica do país, é uma figura tão famosa quanto controversa na Argentina.
Mais conhecida como Amalita, a viúva do empresário Alfredo Fortabat (1894-1976), fundador das fábricas de cimento Loma Negra, herdou uma das principais fortunas do país. Há três anos, diante de problemas financeiros, foi obrigada a vender a empresa para o grupo brasileiro Camargo Corrêa.
A grave crise econômica que atingiu a Argentina em 2001 também atrasou a concretização do museu, que era um sonho da milionária desde o fim dos anos 90. E ainda a obrigou a vender 20 obras de arte dignas de estar em seu sonho, de Degas, Gauguin e Miró.
"Fui erguendo o museu à medida em que entrou dinheiro", disse a empresária à imprensa local no lançamento da coleção.
A paixão pela arte, conta a mecenas, surgiu aos 11 anos, quando se encantou por um quadro pré-rafaelita. E essa paixão a seguiu pela vida. Bem-nascida e casada com um dos principais empresários do país, a dama freqüentava o high-society argentino e internacional.
Foi grande amiga do pintor Antonio Berni, a quem ajudou na restauração dos murais das Galerias Pacífico, outro ponto turístico de Buenos Aires. Em troca, o artista lhe presenteou com retratos dos três netos de Amalia, expostos no museu.
A amizade com Andy Warhol era colorida. Ela tem mais duas versões de seu retrato feitas pelo artista, além da que está exposta no museu. "Acho que ele estava apaixonado por mim", justificou, ao afirmar que nunca posou para Warhol.
Apesar da paixão pela arte, Amalita se viu envolvida em uma polêmica há 11 anos, quando o prêmio literário da fundação que leva seu nome foi concedido ao livro "O Anatomista", de Federico Andahazi, sobre a descoberta do clitóris.
Ao saber da novidade, ela se recusou a entregar o prêmio de US$ 15 mil e classificou o livro de "obsceno e medíocre".

Ligações perigosas
Amalita é acusada por grupos de esquerda de vínculos com a última e violenta ditadura argentina (1976-1983). Esses grupos planejavam fazer um protesto quando o museu fosse inaugurado, mas o lançamento demorou tanto que os piqueteiros perderam a motivação.
Apesar de sua fortuna ter disparado devido a grandes contratos durante o regime militar, Amalia também foi beneficiada por outros governos.
O ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) a declarou embaixadora extraordinária e deu a ela o comando do Fundo Nacional de Artes.
Outro ex-presidente, Néstor Kirchner (2003-2007), destituiu a empresária do cargo de embaixadora. Hoje, sem intimidade com o governo atual, reclama a criação de uma lei de mecenato no país.
Apesar do pedido, Amalia diz que não tem vontade de comprar outras obras porque ainda tem guardadas tantas que encheriam outro museu. Dizem que seriam 4.000, espalhadas por suas várias casas na Argentina e nos EUA. (ADRIANA KÜCHLER)


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