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NUEVOS AIRES
Dama da coleção é rica, pop e controversa
Retratada pelo artista Andy Warhol, empresária é acusada de vínculos com a última ditadura do país
DE BUENOS AIRES
Amalia Lacroze de Fortabat,
87, dona do novo museu de
Buenos Aires e conhecida como a mulher mais rica do país, é
uma figura tão famosa quanto
controversa na Argentina.
Mais conhecida como Amalita, a viúva do empresário Alfredo Fortabat (1894-1976), fundador das fábricas de cimento
Loma Negra, herdou uma das
principais fortunas do país. Há
três anos, diante de problemas
financeiros, foi obrigada a vender a empresa para o grupo brasileiro Camargo Corrêa.
A grave crise econômica que
atingiu a Argentina em 2001
também atrasou a concretização do museu, que era um sonho da milionária desde o fim
dos anos 90. E ainda a obrigou a
vender 20 obras de arte dignas
de estar em seu sonho, de Degas, Gauguin e Miró.
"Fui erguendo o museu à medida em que entrou dinheiro",
disse a empresária à imprensa
local no lançamento da coleção.
A paixão pela arte, conta a
mecenas, surgiu aos 11 anos,
quando se encantou por um
quadro pré-rafaelita. E essa
paixão a seguiu pela vida. Bem-nascida e casada com um dos
principais empresários do país,
a dama freqüentava o high-society argentino e internacional.
Foi grande amiga do pintor
Antonio Berni, a quem ajudou
na restauração dos murais das
Galerias Pacífico, outro ponto
turístico de Buenos Aires. Em
troca, o artista lhe presenteou
com retratos dos três netos de
Amalia, expostos no museu.
A amizade com Andy Warhol
era colorida. Ela tem mais duas
versões de seu retrato feitas pelo artista, além da que está exposta no museu. "Acho que ele
estava apaixonado por mim",
justificou, ao afirmar que nunca posou para Warhol.
Apesar da paixão pela arte,
Amalita se viu envolvida em
uma polêmica há 11 anos, quando o prêmio literário da fundação que leva seu nome foi concedido ao livro "O Anatomista",
de Federico Andahazi, sobre a
descoberta do clitóris.
Ao saber da novidade, ela se
recusou a entregar o prêmio de
US$ 15 mil e classificou o livro
de "obsceno e medíocre".
Ligações perigosas
Amalita é acusada por grupos
de esquerda de vínculos com a
última e violenta ditadura argentina (1976-1983). Esses grupos planejavam fazer um protesto quando o museu fosse
inaugurado, mas o lançamento
demorou tanto que os piqueteiros perderam a motivação.
Apesar de sua fortuna ter disparado devido a grandes contratos durante o regime militar,
Amalia também foi beneficiada
por outros governos.
O ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) a declarou
embaixadora extraordinária e
deu a ela o comando do Fundo
Nacional de Artes.
Outro ex-presidente, Néstor
Kirchner (2003-2007), destituiu a empresária do cargo de
embaixadora. Hoje, sem intimidade com o governo atual,
reclama a criação de uma lei de
mecenato no país.
Apesar do pedido, Amalia diz
que não tem vontade de comprar outras obras porque ainda
tem guardadas tantas que encheriam outro museu. Dizem
que seriam 4.000, espalhadas
por suas várias casas na Argentina e nos EUA.
(ADRIANA KÜCHLER)
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