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TERRA DO SEMPRE
Comida brasileira vira assunto em Knightsbridge
Inau guração do restaur ante Mocotó leva a culinári a e o Brasil para a pauta de dois jornais ingleses
DO INDEPENDENT
A expressão "getting a Brazilian", de difícil tradução, costumava significar, em Londres,
passar por uma forma desapiedada de remover os pêlos. Depois, passou a se referir a aquisições de jogadores de futebol
latino-americanos. Agora, significa sair para jantar.
A onda de recentes inaugurações fashion inclui o Boteca Carioca, em Fitzrovia, o cubano
La Bodeguita del Medio, em
Kensington, e o argentino Santa Maria del Buen Ayre.
Agora, após um longo atraso
e um investimento declarado
de 5 milhões de libras, o maior e
mais ambicioso restaurante
brasileiro em Londres está finalmente aberto, no lugar do
Isola, de Oliver Peyton. O restaurante se chama Mocotó.
O proprietário é Davis Ponté.
Nascido no Brasil, Ponté conseguiu bravamente cumprir sua
missão de recriar a ruidosa cena noturna brasileira em
Knightsbridge. Quase tudo
(menos o chef inglês Darryl
Healey) vem do Brasil.
O teto está coberto por troncos de árvores brasileiras, a iluminação é feita por postes de
luzes brasileiros e as cadeiras
são feitas de antigo jacarandá
brasileiro.
Jantar
Havia quatro pessoas na porta quando eu cheguei. Todos
eles se amontoaram quando eu
pedi um aperitivo no bar do segundo andar, desculpando-se
por estarem atrasados com a
minha mesa. Mas uma caipirinha espera, suavemente preparada por um "barman" muito
cuidadoso, que utiliza apenas
cachaça da melhor qualidade. O
bar parece mais uma amigável
rede de café do que um bar sexy
que serve coquetéis, com suas
mesas compartilhadas e estantes cheias de revistas.
Eu mal tive tempo de aprender como se pronuncia "cachaça" antes que chegassem para
me levar para a sala de jantar do
andar de baixo.
Essa estipulação rígida de regras e tempo não me pareceu
muito relaxada nem brasileira.
Com grandes arranjos de flores, toalhas brancas e um bar
tropical decorado com ornamentos que imitam folhagem, o
ambiente combinaria com um
tranqüilo hotel. A música está
muda e todos falam em tons
apressados e baixos.
O cardápio, claro, é brasileiro, o que quer dizer com um
pouco de influências indígena,
africana, portuguesa, alemã, libanesa e caribenha.
Alguns pratos têm toque internacional, como o carpaccio
de peixe com folhas e vinagrete
de baunilha 8,50 libras.
Os pratos principais vão mais
ao ponto. A feijoadinha (16 libras) é um prato delicioso, ou
melhor, pratos. O primeiro é
uma grande cumbuca de um
ótimo feijão preto com carne de
porco defumada, lingüiça e carne seca. O segundo é um torresmo crocante servido com arroz,
e o terceiro, uma pequena cumbuca de farofa -no caso de você
ainda estar com fome. Na mesa
ao lado, uma brasileira magérrima tenta em vão impedir que
seus pais mergulhem suas colheres nos feijões dela. Ela pode
relaxar, há o suficiente para
quatro.
A picanha (21 libras), uma
grossa fatia de um suculento bife brasileiro, é cortada sem piedade, com uma camada de gordura distribuída igualmente na
lateral da carne e com um sabor
profundo e que permanece.
Acompanha mandiocas fritas.
O zeloso e ansioso sommelier
sugere um Quinta de Seival
Castas Portuguesas 2004 (31 libras), um intenso e sério vinho
tinto feito de variedades de
uvas portuguesas pela Miolo
-vinícula brasileira.
Sobremesas são exibidas, como uma pirâmede perfeita de
chocolate, café e doce de leite
servida com chocolate e sorvete de paçoca (7 libras).
A cozinha: acertou mais do
que errou. O serviço: desigual,
mas doce. Atmosfera: estranhamente combinada. O que
está faltando: espontaneidade e
o ritmo do samba.
O restaurante é brasileiro,
mas suavizado pelo estilo internacional. O sangue quente parece que foi sedado pelo inverno britânico. Mesmo assim é
bom, mas parece projetado para estar na Inglaterra, muito repressivo e educado. Pena. Eu
queria ser transportado ao Brasil, e não ficar preso no SW1.
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