São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2007

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TERRA DO SEMPRE

Comida brasileira vira assunto em Knightsbridge

Inau guração do restaur ante Mocotó leva a culinári a e o Brasil para a pauta de dois jornais ingleses

DO INDEPENDENT

A expressão "getting a Brazilian", de difícil tradução, costumava significar, em Londres, passar por uma forma desapiedada de remover os pêlos. Depois, passou a se referir a aquisições de jogadores de futebol latino-americanos. Agora, significa sair para jantar.
A onda de recentes inaugurações fashion inclui o Boteca Carioca, em Fitzrovia, o cubano La Bodeguita del Medio, em Kensington, e o argentino Santa Maria del Buen Ayre.
Agora, após um longo atraso e um investimento declarado de 5 milhões de libras, o maior e mais ambicioso restaurante brasileiro em Londres está finalmente aberto, no lugar do Isola, de Oliver Peyton. O restaurante se chama Mocotó.
O proprietário é Davis Ponté. Nascido no Brasil, Ponté conseguiu bravamente cumprir sua missão de recriar a ruidosa cena noturna brasileira em Knightsbridge. Quase tudo (menos o chef inglês Darryl Healey) vem do Brasil.
O teto está coberto por troncos de árvores brasileiras, a iluminação é feita por postes de luzes brasileiros e as cadeiras são feitas de antigo jacarandá brasileiro.

Jantar
Havia quatro pessoas na porta quando eu cheguei. Todos eles se amontoaram quando eu pedi um aperitivo no bar do segundo andar, desculpando-se por estarem atrasados com a minha mesa. Mas uma caipirinha espera, suavemente preparada por um "barman" muito cuidadoso, que utiliza apenas cachaça da melhor qualidade. O bar parece mais uma amigável rede de café do que um bar sexy que serve coquetéis, com suas mesas compartilhadas e estantes cheias de revistas.
Eu mal tive tempo de aprender como se pronuncia "cachaça" antes que chegassem para me levar para a sala de jantar do andar de baixo.
Essa estipulação rígida de regras e tempo não me pareceu muito relaxada nem brasileira.
Com grandes arranjos de flores, toalhas brancas e um bar tropical decorado com ornamentos que imitam folhagem, o ambiente combinaria com um tranqüilo hotel. A música está muda e todos falam em tons apressados e baixos.
O cardápio, claro, é brasileiro, o que quer dizer com um pouco de influências indígena, africana, portuguesa, alemã, libanesa e caribenha.
Alguns pratos têm toque internacional, como o carpaccio de peixe com folhas e vinagrete de baunilha 8,50 libras.
Os pratos principais vão mais ao ponto. A feijoadinha (16 libras) é um prato delicioso, ou melhor, pratos. O primeiro é uma grande cumbuca de um ótimo feijão preto com carne de porco defumada, lingüiça e carne seca. O segundo é um torresmo crocante servido com arroz, e o terceiro, uma pequena cumbuca de farofa -no caso de você ainda estar com fome. Na mesa ao lado, uma brasileira magérrima tenta em vão impedir que seus pais mergulhem suas colheres nos feijões dela. Ela pode relaxar, há o suficiente para quatro.
A picanha (21 libras), uma grossa fatia de um suculento bife brasileiro, é cortada sem piedade, com uma camada de gordura distribuída igualmente na lateral da carne e com um sabor profundo e que permanece. Acompanha mandiocas fritas.
O zeloso e ansioso sommelier sugere um Quinta de Seival Castas Portuguesas 2004 (31 libras), um intenso e sério vinho tinto feito de variedades de uvas portuguesas pela Miolo -vinícula brasileira.
Sobremesas são exibidas, como uma pirâmede perfeita de chocolate, café e doce de leite servida com chocolate e sorvete de paçoca (7 libras).
A cozinha: acertou mais do que errou. O serviço: desigual, mas doce. Atmosfera: estranhamente combinada. O que está faltando: espontaneidade e o ritmo do samba.
O restaurante é brasileiro, mas suavizado pelo estilo internacional. O sangue quente parece que foi sedado pelo inverno britânico. Mesmo assim é bom, mas parece projetado para estar na Inglaterra, muito repressivo e educado. Pena. Eu queria ser transportado ao Brasil, e não ficar preso no SW1.


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