|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MUSICAL
Paisagem é protagonista no RJ e mero cenário em SP
FREE-LANCE PARA A FOLHA
As músicas dedicadas a cada cidade herdam as características de
sua geografia e de sua população.
Canções mais reflexivas, com situações de uma pessoa olhando
pela janela, como em "Corcovado", de Tom Jobim, ou "Morro
Dois Irmãos", de Chico Buarque,
são tipicamente cariocas. "A possibilidade de um paulistano ficar
parado numa janela, observando
uma paisagem natural que atraia
muito sua atenção, é praticamente nula", comenta Luiz Tatit, músico e pesquisador do tema.
Vide a bossa nova, um movimento que só poderia ter surgido
no Rio. Não é preciso dizer de
uma forma explícita que as imagens descritas em canções como
"Garota de Ipanema", "Wave" e
"O Barquinho" vieram da capital
fluminense. Provavelmente as
canções dessa fase são as que mais
falam de paisagens no cancioneiro nacional.
"A feia fumaça que sobe apagando as estrelas", verso de Caetano Veloso em "Sampa", é apenas uma das várias situações urbanas citadas em músicas sobre a
capital paulista.
"Não temos horizontes em São
Paulo", diz Tatit. "Enquanto Rio e
Bahia têm natureza por todos os
lados, São Paulo é constantemente anulada por recortes arquitetônicos e urbanísticos."
Porém o que há em abundância
na grande metrópole são bons
personagens, como "a japonesa
loura", "a nordestina moura" e as
"gatinhas punks" citadas por Oswaldo, Biafra, Claus, Marcelo e
Wandy em "São Paulo São Paulo". Assim, as odes à cidade acabam se caracterizando como músicas de costumes, com "visitas" a
lugares paulistanos.
De origem italiana, Adoniran
Barbosa conseguiu representar
com maestria em suas letras o cotidiano e o estilo de vida das pessoas que habitam Sampa.
Quando canta "Saudosa Maloca" ou "Despejo na Favela", o local da ação está indiretamente inserido no contexto, nas características dos personagens, na posição social em que se encontram.
No Rio, um personagem tipicamente carioca está representado
na figura do malandro, com um
estilo de vida adequado à paisagem onde vive. Um dos redutos
da malandragem carioca, o bairro
da Lapa, teve sua vez na letra satírica de "Homenagem ao Malandro", de Chico Buarque.
(CAROL FREDERICO)
Texto Anterior: Beleza da Mangueira está no modo de vida de sua gente Próximo Texto: Embalo de videoclipe dá o tom de Sampa Índice
|