São Paulo, segunda-feira, 08 de abril de 2002

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MUSICAL

Paisagem é protagonista no RJ e mero cenário em SP

FREE-LANCE PARA A FOLHA

As músicas dedicadas a cada cidade herdam as características de sua geografia e de sua população. Canções mais reflexivas, com situações de uma pessoa olhando pela janela, como em "Corcovado", de Tom Jobim, ou "Morro Dois Irmãos", de Chico Buarque, são tipicamente cariocas. "A possibilidade de um paulistano ficar parado numa janela, observando uma paisagem natural que atraia muito sua atenção, é praticamente nula", comenta Luiz Tatit, músico e pesquisador do tema.
Vide a bossa nova, um movimento que só poderia ter surgido no Rio. Não é preciso dizer de uma forma explícita que as imagens descritas em canções como "Garota de Ipanema", "Wave" e "O Barquinho" vieram da capital fluminense. Provavelmente as canções dessa fase são as que mais falam de paisagens no cancioneiro nacional.
"A feia fumaça que sobe apagando as estrelas", verso de Caetano Veloso em "Sampa", é apenas uma das várias situações urbanas citadas em músicas sobre a capital paulista.
"Não temos horizontes em São Paulo", diz Tatit. "Enquanto Rio e Bahia têm natureza por todos os lados, São Paulo é constantemente anulada por recortes arquitetônicos e urbanísticos."
Porém o que há em abundância na grande metrópole são bons personagens, como "a japonesa loura", "a nordestina moura" e as "gatinhas punks" citadas por Oswaldo, Biafra, Claus, Marcelo e Wandy em "São Paulo São Paulo". Assim, as odes à cidade acabam se caracterizando como músicas de costumes, com "visitas" a lugares paulistanos.
De origem italiana, Adoniran Barbosa conseguiu representar com maestria em suas letras o cotidiano e o estilo de vida das pessoas que habitam Sampa.
Quando canta "Saudosa Maloca" ou "Despejo na Favela", o local da ação está indiretamente inserido no contexto, nas características dos personagens, na posição social em que se encontram.
No Rio, um personagem tipicamente carioca está representado na figura do malandro, com um estilo de vida adequado à paisagem onde vive. Um dos redutos da malandragem carioca, o bairro da Lapa, teve sua vez na letra satírica de "Homenagem ao Malandro", de Chico Buarque.
(CAROL FREDERICO)


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