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CORES DA CIDADE
Revitalizado pelo arquiteto italiano, o museu e biblioteca assentado em 1906 foi reaberto em abril
Coleção Morgan se rejuvenesce com obra de Renzo Piano
DO ENVIADO ESPECIAL A NY
Nos primórdios da literatura
nacional, Washington Irving
começava um conto escrevendo: "Num remoto período da
história nacional, isto é, 30
anos atrás..."
Ironizava sobre a brevidade
dessa história, mas dizia também que é uma história intensa
e rápida, que 30 anos podem
ser um longo período na América. Irving morreu em 1859.
Cerca de 30 anos depois,
Pierpont Morgan, um banqueiro nova-iorquino que tinha estudado na Europa, começou a
montar uma eclética coleção de
arte antiga e, sobretudo, de livros raros e manuscritos. Um
pouco por patriotismo, um
pouco para reagir a seus ataques de depressão e um pouco,
talvez, para compensar com alguma solidez a brevidade e a rapidez da história, às quais acenava Washington Irving.
Seja como for, logo se tornou
necessário construir um novo
espaço adjacente à sua moradia
para hospedar os livros. Em
1906 estava pronto. O estilo escolhido foi o dos palácios da Renascença italiana.
Pierpont Morgan morreu em
1913; em poucos anos seu filho
J.P. Morgan percebeu que a biblioteca tinha se tornado importante demais para ficar em
mãos privadas e a transformou
em instituição pública, uma pérola de Nova York.
Após três anos fechado, o
Museu e Biblioteca Morgan foi
reaberto em abril, revitalizado
por um projeto de Renzo Piano,
arquiteto italiano.
Um jornalista do "New York
Times" declarou que contou os
dias para a reabertura: "Nós reverenciamos o Metropolitan,
adoramos a Frick Collection,
mas o Morgan é extra-especial,
único em seu gênero".
O projeto de Piano custou
US$ 106 milhões. É o primeiro
que o arquiteto completa na cidade de Nova York (em curso
há a Columbia University, no
Harlem). Ele trabalhou com
aço e vidro, criando um espaço
transparente que liga os edifícios originais.
Colar de pérolas
A biblioteca é um exemplo de
como devem ser expostos livros e manuscritos, um modelo
que poderia inspirar tanto as
bibliotecas públicas como as
privadas (por enquanto fechadas ao público) no Brasil.
Na sala dos desenhos, admiram-se Albrecht Dürer (1471-1528), Michelangelo (1475-1564), Jacopo Pontormo (1494-1557), Correggio (c.1490-1534),
Jean-Auguste-Dominique Ingres (1780-1867), um fantástico
Watteau (1684-1721) em três
pastéis, Picasso (1881-1973).
Na sala dos manuscritos, partituras de Mozart (1756-1791),
Beethoven (1770-1827) e Schumann (1810-1856), anotações
de Galileu (1564-1642) sobre
Saturno, esboços de Jean de
Brunhoff (1899-1937), pai de
Babar, o elefantinho que em
abril fez 70 anos.
Na sala dos livros, a Bíblia de
Gutemberg (c.1400-1468), que
não poderia faltar, esplêndidos
volumes da Idade Média e da
Renascença, o "De Re Aedificatoria", de Leon-Battista Alberti
(Renzo Piano deve ter gostado),
as "Viagens de Gulliver", com
ilustrações de Grandeville coloridas à mão.
(VINCENZO SCARPELLINI)
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