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no mundo das ondas
Desde a era do pranchão, surfe se reinventa
ENERGIA Originário do Havaí, esporte renasceu no séc. 20 e foi dar na modalidade tow-in, na qual jet-ski auxilia surfista
SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO
Dos primórdios de seu renascimento, no início do século 20,
até os dias atuais, o surfe viajou
do Havaí à Califórnia, nos anos
1910; foi renovado em 1968/
1969, quando Bob MacTavish e
um grupo de australianos criaram as "minimodels", pranchas
menores; e chegou à modalidade tow-in, na qual o surfista entra na onda puxado por jet-ski.
Nativo do arquipélago havaiano e lá tido por um "esporte
dos reis", foi proibido por missionários calvinistas, que chegaram às então chamadas ilhas
Sandwich nos idos de 1820.
Empenhados na catequese
dos polinésios, esses religiosos
coibiram não só o surfe, mas
também o hula (dança típica) e
inúmeras tradições nativas.
Embora banido, o surfe hibernou décadas sem ser esquecido pelos havaianos. E renasceu depois que o atleta Duke
Paoa Kahanamoku encantou o
mundo ao amealhar medalha
de ouro na natação na Olimpíada de Estocolmo (1912).
Apelidado de The Duke, esse
havaiano corpulento e carismático que despontou para o
estrelado mundial dos esportes
ganhando, ao todo, três medalhas olímpicas de ouro e uma de
prata em três Jogos Olímpicos
(1912, 1920 e 1924), levou o surfe do Havaí para a Califórnia e,
depois, para a Austrália.
Em exibições patrocinadas
pelo Exército da Salvação, Duke Kahanomoku visitou Santa
Cruz, na Califórnia, numa das
primeiras jornadas. Lá, até hoje, um pequeno museu situado
num farol, o "The Lighthouse",
exibe as imensas pranchas de
madeira do reinício do esporte.
Kahanamoku fez furor, eletrizando a audiência na praia e,
depois, em 1915, foi à Austrália,
onde a primeira pessoa a surfar,
no balneário de Manly, próximo a Sydney, foi Isabel Letham.
Um príncipe nativo
Nascido em 1890, Duke Paoa
Kahinu Makoe Kahanomoku
passou a infância à beira-mar,
perto da praia de Waikiki, na
ilha de Oahu. Seu pai foi policial
em Honolulu e, por parte de
mãe, ele descendia dos Paoa,
membros da nobreza nativa e
donos da área onde fica o hotel
Hilton Hawaiian Village.
The Duke se jactava de ter
nadado todos os dias de sua vida -e cresceu reverenciando o
mar e pescando, numa comunidade onde havia abundância.
Aos 18 anos, quando ganhou
seu primeiro ouro olímpico das
mãos do rei Gustavo, da Suécia,
por bater o recorde dos 100 m,
ele talvez não soubesse que
abria alas para a volta das reais
tradições havaianas. E, quando
fez 42 anos, já celebridade e
lenda viva, integrou o time de
pólo-aquático dos EUA nas
Olimpíadas de Verão em Los
Angeles (1932).
Além disso, atuou em filmes
de Hollywood, foi fotografado
dançando hula com Elizabeth,
a "rainha-mãe" do Reino Unido
e, aos 45, virou xerife de Honolulu, cargo para o qual foi reeleito 13 vezes consecutivas.
Ao resgatar o espírito do Havaí, ele também formou surfistas que fizeram o surfe contemporâneo evoluir, caso de Thomas Edward Blake (1902-1994). Nascido em Milwaukee
(Winsconsin), Tom Blake foi
um dos seus discípulos.
Levado ao Havaí nos anos
1920, Blake, que era salva-vidas
na Califórnia, foi um pioneiro
fotógrafo que, inspirado nos
barcos a vela, dotou as pesadas
pranchas, feitas de madeira, de
quilhas. A inovação aumentou
a manobravilidade nas ondas
num tempo em que uma prancha pesava até 80kg.
Imagens feitas por Blake enquanto surfafa com a câmera à
prova d'água, que criou, mostram, na prancha ao lado, um
elegante Duke Kahanamoku
deslizando, de braços abertos,
em Waikiki, praia emoldurada
pela montanha Diamond Head.
Um autorretrato no alto desta pág., de 1930, mostra Tom
Blake diante de prachas de madeira, umas com formas bicudas, outras com rabetas quadradas, atestando a experimentação e o desenvolvimento que
imprimiu ao equipamento.
Outros surfistas culturam
The Duke, caso de Joey Cabell,
Reno Abelira, Barry Kanaiaupuni e Gerry Lopez. E hoje, em
Waikiki, uma estátua adornada
por colares florais (os "lei") homenageia o atleta que morreu
do coração em 1968, aos 77.
Surfe contemporâneo
Depois de The Duke, o esporte renasceu e virou febre no fim
dos anos 1950 e início dos 1960,
época dos surfistas Dale Velzy,
Rusty Miller e Hobie Alter.
Em 1966, "The Endless Summer" (ou "Alegria de Verão"),
filme de Bruce Brown, mostrou
Robert August e Mike Hynson
e seus pranchões - aliás, feitos
por Hobie Alter de fibra de vidro e poliuretano- numa volta
ao mundo atrás da onda perfeita: obra determinante na popularização mundial do esporte.
O resto é história: as pranchas diminuíram e o surfe está
em locais como África do Sul,
Nova Zelândia, Brasil, México,
Peru e Japão -e chegou ao máximo com o norte-americano
Kelly Slater, nove vezes campeão mundial.
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