São Paulo, quinta-feira, 08 de outubro de 2009

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no mundo das ondas

Desde a era do pranchão, surfe se reinventa

ENERGIA Originário do Havaí, esporte renasceu no séc. 20 e foi dar na modalidade tow-in, na qual jet-ski auxilia surfista

SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

Dos primórdios de seu renascimento, no início do século 20, até os dias atuais, o surfe viajou do Havaí à Califórnia, nos anos 1910; foi renovado em 1968/ 1969, quando Bob MacTavish e um grupo de australianos criaram as "minimodels", pranchas menores; e chegou à modalidade tow-in, na qual o surfista entra na onda puxado por jet-ski.
Nativo do arquipélago havaiano e lá tido por um "esporte dos reis", foi proibido por missionários calvinistas, que chegaram às então chamadas ilhas Sandwich nos idos de 1820.
Empenhados na catequese dos polinésios, esses religiosos coibiram não só o surfe, mas também o hula (dança típica) e inúmeras tradições nativas.
Embora banido, o surfe hibernou décadas sem ser esquecido pelos havaianos. E renasceu depois que o atleta Duke Paoa Kahanamoku encantou o mundo ao amealhar medalha de ouro na natação na Olimpíada de Estocolmo (1912).
Apelidado de The Duke, esse havaiano corpulento e carismático que despontou para o estrelado mundial dos esportes ganhando, ao todo, três medalhas olímpicas de ouro e uma de prata em três Jogos Olímpicos (1912, 1920 e 1924), levou o surfe do Havaí para a Califórnia e, depois, para a Austrália.
Em exibições patrocinadas pelo Exército da Salvação, Duke Kahanomoku visitou Santa Cruz, na Califórnia, numa das primeiras jornadas. Lá, até hoje, um pequeno museu situado num farol, o "The Lighthouse", exibe as imensas pranchas de madeira do reinício do esporte.
Kahanamoku fez furor, eletrizando a audiência na praia e, depois, em 1915, foi à Austrália, onde a primeira pessoa a surfar, no balneário de Manly, próximo a Sydney, foi Isabel Letham.

Um príncipe nativo
Nascido em 1890, Duke Paoa Kahinu Makoe Kahanomoku passou a infância à beira-mar, perto da praia de Waikiki, na ilha de Oahu. Seu pai foi policial em Honolulu e, por parte de mãe, ele descendia dos Paoa, membros da nobreza nativa e donos da área onde fica o hotel Hilton Hawaiian Village.
The Duke se jactava de ter nadado todos os dias de sua vida -e cresceu reverenciando o mar e pescando, numa comunidade onde havia abundância.
Aos 18 anos, quando ganhou seu primeiro ouro olímpico das mãos do rei Gustavo, da Suécia, por bater o recorde dos 100 m, ele talvez não soubesse que abria alas para a volta das reais tradições havaianas. E, quando fez 42 anos, já celebridade e lenda viva, integrou o time de pólo-aquático dos EUA nas Olimpíadas de Verão em Los Angeles (1932).
Além disso, atuou em filmes de Hollywood, foi fotografado dançando hula com Elizabeth, a "rainha-mãe" do Reino Unido e, aos 45, virou xerife de Honolulu, cargo para o qual foi reeleito 13 vezes consecutivas.
Ao resgatar o espírito do Havaí, ele também formou surfistas que fizeram o surfe contemporâneo evoluir, caso de Thomas Edward Blake (1902-1994). Nascido em Milwaukee (Winsconsin), Tom Blake foi um dos seus discípulos.
Levado ao Havaí nos anos 1920, Blake, que era salva-vidas na Califórnia, foi um pioneiro fotógrafo que, inspirado nos barcos a vela, dotou as pesadas pranchas, feitas de madeira, de quilhas. A inovação aumentou a manobravilidade nas ondas num tempo em que uma prancha pesava até 80kg.
Imagens feitas por Blake enquanto surfafa com a câmera à prova d'água, que criou, mostram, na prancha ao lado, um elegante Duke Kahanamoku deslizando, de braços abertos, em Waikiki, praia emoldurada pela montanha Diamond Head.
Um autorretrato no alto desta pág., de 1930, mostra Tom Blake diante de prachas de madeira, umas com formas bicudas, outras com rabetas quadradas, atestando a experimentação e o desenvolvimento que imprimiu ao equipamento.
Outros surfistas culturam The Duke, caso de Joey Cabell, Reno Abelira, Barry Kanaiaupuni e Gerry Lopez. E hoje, em Waikiki, uma estátua adornada por colares florais (os "lei") homenageia o atleta que morreu do coração em 1968, aos 77.

Surfe contemporâneo
Depois de The Duke, o esporte renasceu e virou febre no fim dos anos 1950 e início dos 1960, época dos surfistas Dale Velzy, Rusty Miller e Hobie Alter.
Em 1966, "The Endless Summer" (ou "Alegria de Verão"), filme de Bruce Brown, mostrou Robert August e Mike Hynson e seus pranchões - aliás, feitos por Hobie Alter de fibra de vidro e poliuretano- numa volta ao mundo atrás da onda perfeita: obra determinante na popularização mundial do esporte.
O resto é história: as pranchas diminuíram e o surfe está em locais como África do Sul, Nova Zelândia, Brasil, México, Peru e Japão -e chegou ao máximo com o norte-americano Kelly Slater, nove vezes campeão mundial.


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