São Paulo, quinta-feira, 08 de novembro de 2007

Próximo Texto | Índice

FRESTA PARA TURISTA

Restrições persistem, mas Líbia se abre para viajantes

Com sítios arqueológicos significativos, país vive há 38 anos sob o poder ditatorial de Muammar Gaddafi

PEDRO CARRILHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA LÍBIA

Um dos maiores países da África, a Líbia é um dos menos explorados no norte do continente. O Saara domina 90% do país. Resta uma faixa litorânea, onde fica Trípoli, a capital, e a maior parte da população. São as regiões mediterrâneas da Tripolitânia, a oeste, e da Cyrenaica, a leste.
É para esta última que rumava o avião fretado pelo governo líbio para jornalistas rumo à cerimônia de assinatura da "Declaração de Cyrene". A maioria deles jamais havia pisado em solo líbio, e todos pareciam ansiosos para conhecer o país que só há pouco tempo abriu -discretamente- as portas aos visitantes. No aeroporto de Labraq, vans aguardavam o grupo, com a efígie do coronel Muammar Gaddafi colada no capô.
O comboio segue para as ruínas gregas de Cyrene, local do evento, cercado e vigiado por soldados e policiais à paisana. No caminho, outdoors comemoram os 38 anos de poder de Gaddafi. Quando o assunto é a Líbia, sabe-se muito mais mundo afora sobre seu polêmico líder do que sobre suas cidades, monumentos e paisagens. Assim, apesar do propósito turístico da visita, todos pareciam mais interessados em Gaddafi e seu filho Saif al-Islam, apontado como seu sucessor, que comanda o projeto. Por trás do pano de fundo político, o fato é que a Líbia tem alguns dos mais impressionantes sítios arqueológicos do mundo e, melhor, pouco explorados. Enquanto a Tripolitânia ostenta ruínas romanas de dar inveja a Roma, como Leptis Magna; na Cyrenaica os gregos deixaram sua marca.
O norte da Cyrenaica tem uma das mais ricas concentrações de sítios arqueológicos do Mediterrâneo. Entre tantas, destacam-se as ruínas da antiga cidade de Cyrene, espalhadas pelas Montanhas Verdes, conhecidas em árabe como Jebel al-Akhdar, de onde se avista o azul do Mediterrâneo.
São as mais completas ruínas gregas no norte africano, apelidadas de Atenas da África. Fundada por gregos da atual ilha de Santorini no ano de 630 a.C., teve seu auge no século 5º a.C. Era a principal cidade entre Alexandria, no Egito, e Cartago, na atual Túnis, Tunísia. Cyrene tornou-se uma província romana em 74 d.C. Mesmo com insurreições e a concorrência comercial de Alexandria e Cartago, manteve sua importância como centro urbano. Foi com um terremoto em 365 d.C. que o destino da cidade foi selado.
Nos séculos seguintes, a região ficou deserta, exceto por nômades que vagavam pelas ruínas. Além da herança arqueológica e das belezas naturais, a região é conhecida pelas manifestações culturais, representadas principalmente por poetas, contadores de histórias. Devido à grande migração de árabes para lá no início do século 20, os laços culturais com a península arábica são mais fortes ali que no restante do país, onde é presente a cultura dos beduínos. Muitos costumam dizer que o Oriente Médio começa, de fato, na Cyrenaica.
Quase intocada e inexplorada pelo turismo, a região é descrita pela ONG WWF (World Wild Foundation) como um dos últimos "paraísos" no Mediterrâneo pode virar destino cobiçado.


PEDRO CARRILHO viajou a convite da GMCDA (sigla em inglês para Autoridade de Conservação e Desenvolvimento Montanha Verde)



Próximo Texto: Pacotes para a Líbia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.