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TRAGOS LETRADOS
Bebida tradicional, que reúne café, creme, uísque e açúcar, foi inventada há 60 anos após tempestade
Aeroporto internacionaliza "irish coffee"
DA ENVIADA ESPECIAL À IRLANDA
Antes de alçar vôos mais altos
pelo mundo, o "irish coffee"
-drinque irlandês tão popular
quanto a nossa caipirinha- foi
servido num lugar bem propício:
o aeroporto de Foynes. O Brasil
ainda teve uma certa participação
no nome da estranha composição
de café, uísque, açúcar e creme,
criada em 1943 pelo chef Joe Sheradon, na pequena cidade de Foynes, no Condado de Limerick.
História 1: tempo ruim para
voar, passageiros e pilotos aguardam no aeroporto. Faz frio. Pegaria mal para o barman servir bebida alcoólica para pilotos. Tem
uma idéia. Barman disfarça e adiciona uísque ao café dos pilotos.
História 2: capitão de aeronave
rumo à Nova York, no meio do
caminho, precisa voltar para Foynes por causa de uma tempestade.
Passageiros chegam de volta ao
aeroporto e estão batendo o queixo. Não há muitos ingredientes
para preparar algo. Barman usa
criatividade. Para esquentar os
friorentos passageiros, decide pôr
uma dose do destilado no café.
Variações sobre o mesmo tema
são contadas com mais ou menos
pitadas de humor. A história oficial contada em Foynes, que hoje
abriga um museu, é a segunda.
Num vídeo, aprende-se que o
aeroporto de Foynes foi o primeiro da Irlanda a fazer viagens transatlânticas. Na época, eram grandes hidroaviões que cruzavam o
oceano. O local também foi usado
como base na Segunda Guerra
Mundial, apesar de a Irlanda ter
sido neutra no conflito. As operações foram encerradas em 1945,
quando não era mais necessário
às aeronaves amerissar (pousar
na água), e transferidas para
Shannon, no mesmo Condado.
Voltando ao café irlandês. Em
Shannon, o criativo Sheradon
continuou a servir o drinque inventado em Foynes. Num aeroporto, não foi difícil que a receita
voasse para a América e depois alçasse outros vôos pelo resto do
mundo. Em 1950, um jornalista
americano levou a receita para o
Buena Vista Café, em San Francisco. Dois anos depois, o próprio
Sheradon foi convidado a trabalhar no bar da Califórnia.
E o Brasil?
Onde entra a participação do
Brasil nessa história? Ao experimentar a bebida, um passageiro
americano indaga: "É café brasileiro?". "Não", responde o chef.
"É café irlandês."
Em tempo. Para não cometer
uma gafe, jamais mexa o creme
que fica no topo do café com a colher, como se faz com cafezinho.
"É um crime da mais alta periculosidade", alerta Margaret O'Shaughnessy, curadora do museu.
O segredo, diz ela, é conservar o
creme no copo até a última gota
tomada. "Slainta!" (Saúde, em
gaélico.)
(MARGARETE MAGALHÃES)
Museu Foynes - Funciona de 31 de março a 31 de outubro todos os dias, das 10h
às 18h; Condado de Limerick; tel.: 00/xx/3/53/696-5416; www.webforge.net/foynes.
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