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BALBÚRDIA Y TORTILHAS
Livro lançado em 2005 reúne fotografias e histórias do esporte e espetáculo mais popular do país
Máscaras dão brilho à luta livre mexicana
DA ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO
Em menos de cinco minutos,
ouvem-se dezenas de xingamentos em espanhol. Não é um jogo
de futebol, embora esse esporte
seja bastante popular no México.
Em vez de 11 de cada lado, aqui
há três. E eventualmente um mascote nada politicamente correto:
um anão fantasiado. E, menos politicamente correto ainda: o anão
pode apanhar.
Mas é de mentirinha, apesar de
a torcida levar tudo muito a sério.
Quem chega de fora entra dando
risada. Mas na última luta pode
estar de pé, gritando desaforos como "pinche presumido!", algo como "seu metidão".
São duas horas da mais pura diversão por 50 pesos (R$ 10). Esse é
o preço do ingresso para a luta livre na arena Coliseo (rua República de Peru, 77, Centro).
Os lutadores mexicanos são folclóricos: em sua maioria usam
máscaras coloridas. Houve lutador que era padre, lutador gigante
e lutador anão.
As disputas são sempre entre os
técnicos -que seguem as regras- e os rudos -vilões trapaceiros. Em geral são quatro lutas,
sendo a última a mais legal, pois
os lutadores estão, no mínimo,
em forma. A primeira pode ser
protagonizada entre gordinhos, e
aí a platéia grita "pinche panzón"
(algo como p... pançudo).
Todas as lutas são estilo melhor
de três e, teoricamente, cada uma
deveria ser protagonizada por um
lutador de cada equipe. Mas em
pouco tempo já está a maior confusão, com todos lutando contra
todos, dentro e fora do ringue.
O momento mais enlouquecedor é quando um lutador tenta tirar a máscara do outro. Essa é a
regra de ouro: não pode desmascarar. Mas os rudos podem tudo.
Ao menor sinal de um lutador
desamarrar a máscara do rival, todos, mesmo a sua torcida, ruge.
Isso não pode! Seu pinche ladrão!
Vaias e mais vaias, xingamentos,
dedos em riste...
E, se a máscara por acaso afinal
sair -ultraje!-, o lutador desmascarado cobre o rosto e sai correndo para se esconder.
A exceção é o combate máscara
versus máscara ou versus cabeleira. Funciona assim: quando a rivalidade entre dois lutadores fica
grande, eles podem se desafiar individualmente para essa luta. Se
os dois forem mascarados, ao final, o perdedor perde a máscara
na frente de todo mundo. Se um
não tiver máscara, ao final tem o
cabelo raspado no ringue.
Ninguém sabe a identidade dos
mascarados. A não ser quando
eles se aposentam e, em geral,
abrem restaurantes ou bares.
Lembrança
A luta livre é a expressão máxima da cultura kitsch popular engraçada mexicana. E quem enlouquecer na torcida não terá imagens para se lembrar dos duelos,
pois é proibido tirar fotos.
Mas não é preciso desesperar-se. Foi lançado em 2005 o livro
"Espetacular de Lucha Livre" (em
média 220 pesos -R$ 46- nas
livrarias), com fotos de Lourdes
Grobet. No livro, há histórias de
personagens, como a Doña Virginia, que ia a todos os confrontos e
dava guarda-chuvadas nos rudos.
Ela colecionava máscaras e madeixas de lutadores.
Há destaque para Santo, el Enmascarado de Plata, ou Rodolfo
Guzman Huerta (1917-1984). Ele é
um mito da luta livre que lutou
por 40 anos, de 1942 a 1982, quando oficialmente se aposentou.
Santo é o protagonista de uma série de filmes à la James Bond em
uma versão trash. Uma coleção de
DVDs foi lançada recentemente.
Cada filme custa, em média, 96
pesos (R$ 20).
(HELOISA LUPINACCI)
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