São Paulo, quinta-feira, 09 de abril de 2009

Próximo Texto | Índice

OLHAR CARIOCA

Passeio evoca memória musical da cidade

Letras inspiradas pelo Rio servem de trilha sonora afetiva para tour por Lapa, Copacabana e Vila Isabel

Pedro Carrilho/Folha Imagem
Inaugurada em 1931, a estátua do Cristo Redentor, que fica a 710 m de altitude, no cume do morro do Corcovado

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

O Rio é uma cidade musical, dizem as pedras portuguesas dos calçadões de Vila Isabel e Copacabana.
Caminha-se na avenida 28 de setembro -ou faz-se o passeio no bulevar, como se diria no tempo dos três apitos da fábrica de tecidos, hoje um supermercado- sobre partituras de músicas de Noel Rosa.
No meio do caminho há Noel em pedra, uma estátua. Mas o artista está mais bem representado no chão pisado, homem das ruas que aproximou brancos e pretos, asfalto e morro, erudição e simplicidade.
Noel é o Rio real.
Fazendo jus ao nome, é um Rio de Janeiro sinuoso, como as curvas desenhadas na avenida Atlântica, onde Copacabana ostenta o título de "princesinha do mar", dado por Braguinha e Alberto Ribeiro.
Um Rio que, só para ficar nos bairros citados, convive em Vila Isabel, zona norte, com o feitiço dos petiscos e chopes deliciosos de seus bares e com a turbulência eventual de seus morros; impressiona em Copacabana, zona sul, com a "gargantilha acesa" da orla à noite e com as recentemente convulsionadas "favelas no coração", nas duas visões do letrista Aldir Blanc.
O Rio de Janeiro continua lindo no Pão de Açúcar e no Corcovado, mas para conhecê-lo de fato é preciso descer até suas contradições, seus estranhos limites, olhar sua "civilização encruzilhada", como cantou Chico Buarque.
Por exemplo: comer uma porção de polvo na pequena Adega Pérola, registrada pelo fotógrafo Pedro Carrilho, mesmo sabendo que ali do lado está a agora demonizada ladeira dos Tabajaras.
"Rio de ladeiras", como as que levam ao bairro de Santa Teresa, versão bem acariocada de Montmartre, confluência de artistas, loucos, beberrões, chefs, marchands.
E agora, com a recuperação consolidada após cinco decadentes décadas (entre os anos 40 e 90), é fácil não esquecer de recomendar a Lapa. Quem irá resistir a passar por seus belos arcos e se deparar com centenas de bares, um ao lado do outro, um boêmio em cima do outro (no bom sentido, embora pensões e hotéis para solteiros estejam abertos 24 horas)?
"Um samba/Um sorriso de mulher/Bate-papo de café/Eis aí a Lapa", retrataram Wilson Batista e Marino Pinto em "Largo da Lapa", nos anos 40. A receita continua valendo. O Rio continua valendo, apesar de todas as penas.


Próximo Texto: Colônia de pescadores Z-13
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.