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BIORRITMO RIBEIRINHO
Na ilha de Silves, a 200 km da capital do Amazonas, turista interage com caboclos, fauna e flora
Urbano perde "casca" em poucos dias de selva
RODRIGO RAINHO
ENVIADO ESPECIAL AO AMAZONAS
Milhares de espécies de plantas,
um bocado de animais e serenos
lagos. O ecossistema amazônico
pode ser apreciado em Silves, 200
km a leste de Manaus (AM).
Da capital, são três horas de ônibus para chegar a Itacoatiara, de
onde os barcos partem para o lago
Canaçari, onde está a ilha de Silves, pelo rio Urubu. O impacto da
imensidão da floresta e das águas
no urbanóide é de boquiabrir.
A casca urbana dos europeus
-maioria na ilha de Silves- e
dos brasileiros é extraída nos primeiros dias de expedição.
Durante a navegação de duas
horas (ou mais, se chover), vêem-se peixes, aves, céu azul sem igual
e paisagens das margens. Casas de
caboclos e de missionários pontuam o verde selvagem.
Nos complexos hoteleiros vizinhos à cidade de Silves, município
com 4.500 habitantes e 4.500 ribeirinhos, não há sinal de metrópole, só água e selva. Da sacada do
hotel, admira-se a opulência da
paisagem, atração primeira em
uma visita ao Amazonas.
Sinfonistas incansáveis, grilos,
cigarras e rãs, com cricridos e coaxos, produzem a trilha sonora
ininterrupta. No fim da tarde e da
noite, o canto de acasalamento
dos guaribas (espécie de macaco)
chamam a atenção dos forasteiros. Mas à menor aproximação, o
ritual pára -assustados, eles fogem para o miolo da floresta.
Após temporais e fortes raios,
muitos na Amazônia, as aves truvuís machos manifestam-se com
um chamado agradável para
atrair as fêmeas. O canto do japim
é frequente, mas engana. Essa ave,
que copia o som de outras, é grande imitadora da selva.
Essa ópera silvestre embala o
sono e alimenta os sonhos.
Os cuatás (macaco-aranha),
com seus braços e pernas longos e
finos, rosto nu e vermelho, e os
macacos-prego-do-peito-amarelo são habitués das manhãs dos
hóspedes. Eles posam para fotos e
pedem banana.
Na focagem de jacaretingas, filhotes do animal são mirados por
lanternas e dominados pelas forquilhas dos barqueiros. Eles têm a
boca travada pelas mãos dos guias
ou por mordaças. Então, os mais
corajosos podem pegá-los.
Por um breve instante, o jacaré
perde a sua majestade, recuperada ao ser jogado de volta no rio. O
comportamento inofensivo dos
bichos é explicado: eles só atacam
quando agredidos.
Outra atividade badalada é a
pescaria. Só os mais desajeitados
ficam sem um peixe. O aruanã caça gafanhotos; o tucunaré, o pacu
e o surubim são saborosos. O
tambaqui é o mais valorizado.
Mas, como manda a pesca esportiva, todos são devolvidos à água
após o ensaio fotográfico.
A navegação pelos igarapés
-rios estreitos cercados por copas de árvores -é imperdível.
Além da contemplação dos igapós (terras inundadas), as vitórias-régias canarana e as ninhadas
de garças dão o tom do espetáculo
verde e branco.
A caxembuva e a castanha-de-macaco são árvores resistentes à
água. Nos trajetos pelo lago Canaçari e seus confluentes, a presença
de animais é sempre comemorada: "Olha lá, um macaco!", grita o
barqueiro Audacir Bosco, apontando para alguns guaribas. Minutos depois, mais gritos: "Os botos!". Eles saltam sozinhos ou em
duplas. O dia tem um "grand finale": o pôr-do-sol, visto dos rios,
dos lagos ou das cabanas.
Quem topa acordar com os caboclos e índios é presenteado com
o sol nascente no rio Amazonas.
Das 4h45 às 6h, ver o sol raiar é se
saber em um verdadeiro paraíso.
Rodrigo Rainho viajou a convite da
Echo Operadora
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