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São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2003

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BIORRITMO RIBEIRINHO

Na ilha de Silves, a 200 km da capital do Amazonas, turista interage com caboclos, fauna e flora

Urbano perde "casca" em poucos dias de selva

RODRIGO RAINHO
ENVIADO ESPECIAL AO AMAZONAS

Milhares de espécies de plantas, um bocado de animais e serenos lagos. O ecossistema amazônico pode ser apreciado em Silves, 200 km a leste de Manaus (AM).
Da capital, são três horas de ônibus para chegar a Itacoatiara, de onde os barcos partem para o lago Canaçari, onde está a ilha de Silves, pelo rio Urubu. O impacto da imensidão da floresta e das águas no urbanóide é de boquiabrir.
A casca urbana dos europeus -maioria na ilha de Silves- e dos brasileiros é extraída nos primeiros dias de expedição.
Durante a navegação de duas horas (ou mais, se chover), vêem-se peixes, aves, céu azul sem igual e paisagens das margens. Casas de caboclos e de missionários pontuam o verde selvagem.
Nos complexos hoteleiros vizinhos à cidade de Silves, município com 4.500 habitantes e 4.500 ribeirinhos, não há sinal de metrópole, só água e selva. Da sacada do hotel, admira-se a opulência da paisagem, atração primeira em uma visita ao Amazonas.
Sinfonistas incansáveis, grilos, cigarras e rãs, com cricridos e coaxos, produzem a trilha sonora ininterrupta. No fim da tarde e da noite, o canto de acasalamento dos guaribas (espécie de macaco) chamam a atenção dos forasteiros. Mas à menor aproximação, o ritual pára -assustados, eles fogem para o miolo da floresta.
Após temporais e fortes raios, muitos na Amazônia, as aves truvuís machos manifestam-se com um chamado agradável para atrair as fêmeas. O canto do japim é frequente, mas engana. Essa ave, que copia o som de outras, é grande imitadora da selva.
Essa ópera silvestre embala o sono e alimenta os sonhos.
Os cuatás (macaco-aranha), com seus braços e pernas longos e finos, rosto nu e vermelho, e os macacos-prego-do-peito-amarelo são habitués das manhãs dos hóspedes. Eles posam para fotos e pedem banana.
Na focagem de jacaretingas, filhotes do animal são mirados por lanternas e dominados pelas forquilhas dos barqueiros. Eles têm a boca travada pelas mãos dos guias ou por mordaças. Então, os mais corajosos podem pegá-los.
Por um breve instante, o jacaré perde a sua majestade, recuperada ao ser jogado de volta no rio. O comportamento inofensivo dos bichos é explicado: eles só atacam quando agredidos.
Outra atividade badalada é a pescaria. Só os mais desajeitados ficam sem um peixe. O aruanã caça gafanhotos; o tucunaré, o pacu e o surubim são saborosos. O tambaqui é o mais valorizado. Mas, como manda a pesca esportiva, todos são devolvidos à água após o ensaio fotográfico.
A navegação pelos igarapés -rios estreitos cercados por copas de árvores -é imperdível. Além da contemplação dos igapós (terras inundadas), as vitórias-régias canarana e as ninhadas de garças dão o tom do espetáculo verde e branco.
A caxembuva e a castanha-de-macaco são árvores resistentes à água. Nos trajetos pelo lago Canaçari e seus confluentes, a presença de animais é sempre comemorada: "Olha lá, um macaco!", grita o barqueiro Audacir Bosco, apontando para alguns guaribas. Minutos depois, mais gritos: "Os botos!". Eles saltam sozinhos ou em duplas. O dia tem um "grand finale": o pôr-do-sol, visto dos rios, dos lagos ou das cabanas.
Quem topa acordar com os caboclos e índios é presenteado com o sol nascente no rio Amazonas. Das 4h45 às 6h, ver o sol raiar é se saber em um verdadeiro paraíso.


Rodrigo Rainho viajou a convite da Echo Operadora


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