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São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2003

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BIORRITMO RIBEIRINHO

Cidade teve primeiro núcleo não-indígena da região, que em 1663 entrou em choque com silvícolas

Silves viu guerra de índios e portugueses

Rodrigo Rainho/Folha Imagem
O pôr-do-sol no Amazonas forma uma extensa cartela de tons de azul e amarelo


DO ENVIADO ESPECIAL AO AMAZONAS

Silves, embora fincada no meio da selva, aparentemente distante de embates, viu sua história ser maculada por batalhas cruéis.
Em 1660, o frei Raimundo, da ordem das Mercês, criou o povoado de Silves. Ele chegou ali com a missão de Sant'Ana de Sacará e, segundo historiadores, fundou o primeiro núcleo de população não-indígena do Amazonas.
Os donos da região, até a chegada dos europeus, eram os índios da tribo guanavenas. Dados arqueológicos extraídos de peças de cerâmica indicam que eles chegaram à selva amazônica há 1.700 anos. Foram descritos como "um povo amável e gentil" pelo frei Raimundo. Trabalhavam na roça, faziam armas e cestarias, pescavam e caçavam. As mulheres moldavam cerâmica e colhiam frutas e mandioca.
Em 1663, o rio Urubu, que dá acesso à ilha, foi palco de intensas batalhas entre a tríplice aliança -formada pelas tribos guanavenas, caboquenas e bararurus- e os portugueses.
Os indígenas não aceitavam a catequização e o trabalho escravo que eram impostos a eles de forma coercitiva e violenta.
Raimundo das Mercês tinha a missão de estabelecer "boa relação" com as tribos -o resultado dela foi brutal: 700 índios mortos e 400 escravizados.
Uma elegia à tribo guanavenas, escrita pelo poeta Glauber Quadros, sintetiza o espírito indígena que paira no ar de Silves: "Aqui repousa o espírito de um bravo povo que há quatro séculos deixou de existir, por culpa da feroz ganância da sociedade "civilizada". Jaz guanavenas! Jaz povo bravo, que até a morte lutou para não se submeter ao espólio insano de uma sociedade vil".
O poeta continua: "Os estrondos dos mosquetões invasores calaram os gritos de liberdade, inúteis foram os arcos e as flechas. (...) Índios guanavenas, tronco autêntico da raça brasileira, há milênios povoaram a imensidão das florestas amazônicas".
Segundo estimativas, o Brasil era a morada de 5 milhões de índios na época do descobrimento. Hoje, são pouco mais de 230 mil. Mais de 500 povos foram extintos. E, com eles, foram-se etnias e culturas, produtos de milhares de anos de evolução e adaptação.

Orçamento
O município de Silves sobrevive com um orçamento de pouco mais de R$ 300 mil, vindos do Fundo de Participação e de impostos municipais. Apenas R$ 50 mil são usados para obras na cidade, segundo o prefeito Aristides Queiroz (PSDB-AM). "É muito pouco, com isso consigo fazer pequenas melhorias", diz ele.
A economia é baseada no turismo, na pecuária e na agricultura.
Entre as obras da atual administração, estão a restauração da orla da ilha e de seu paisagismo. A cidadezinha abriga poucas atrações turísticas: a igreja Nossa Senhora da Conceição, uma das mais antigas da Amazônia, o cemitério municipal e o mercado de Silves, onde pescadores e feirantes vendem seus produtos, alguns dos mais exóticos da região.
(RODRIGO RAINHO)


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