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BIORRITMO RIBEIRINHO
Cidade teve primeiro núcleo não-indígena da região, que em 1663 entrou em choque com silvícolas
Silves viu guerra de índios e portugueses
Rodrigo Rainho/Folha Imagem
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O pôr-do-sol no Amazonas forma uma extensa cartela de tons de azul e amarelo |
DO ENVIADO ESPECIAL AO AMAZONAS
Silves, embora fincada no meio
da selva, aparentemente distante
de embates, viu sua história ser
maculada por batalhas cruéis.
Em 1660, o frei Raimundo, da
ordem das Mercês, criou o povoado de Silves. Ele chegou ali com a
missão de Sant'Ana de Sacará e,
segundo historiadores, fundou o
primeiro núcleo de população
não-indígena do Amazonas.
Os donos da região, até a chegada dos europeus, eram os índios
da tribo guanavenas. Dados arqueológicos extraídos de peças de
cerâmica indicam que eles chegaram à selva amazônica há 1.700
anos. Foram descritos como "um
povo amável e gentil" pelo frei
Raimundo. Trabalhavam na roça,
faziam armas e cestarias, pescavam e caçavam. As mulheres moldavam cerâmica e colhiam frutas
e mandioca.
Em 1663, o rio Urubu, que dá
acesso à ilha, foi palco de intensas
batalhas entre a tríplice aliança
-formada pelas tribos guanavenas, caboquenas e bararurus- e
os portugueses.
Os indígenas não aceitavam a
catequização e o trabalho escravo
que eram impostos a eles de forma coercitiva e violenta.
Raimundo das Mercês tinha a
missão de estabelecer "boa relação" com as tribos -o resultado
dela foi brutal: 700 índios mortos
e 400 escravizados.
Uma elegia à tribo guanavenas,
escrita pelo poeta Glauber Quadros, sintetiza o espírito indígena
que paira no ar de Silves: "Aqui
repousa o espírito de um bravo
povo que há quatro séculos deixou de existir, por culpa da feroz
ganância da sociedade "civilizada".
Jaz guanavenas! Jaz povo bravo,
que até a morte lutou para não se
submeter ao espólio insano de
uma sociedade vil".
O poeta continua: "Os estrondos dos mosquetões invasores calaram os gritos de liberdade, inúteis foram os arcos e as flechas.
(...) Índios guanavenas, tronco
autêntico da raça brasileira, há
milênios povoaram a imensidão
das florestas amazônicas".
Segundo estimativas, o Brasil
era a morada de 5 milhões de índios na época do descobrimento.
Hoje, são pouco mais de 230 mil.
Mais de 500 povos foram extintos.
E, com eles, foram-se etnias e culturas, produtos de milhares de
anos de evolução e adaptação.
Orçamento
O município de Silves sobrevive
com um orçamento de pouco
mais de R$ 300 mil, vindos do
Fundo de Participação e de impostos municipais. Apenas R$ 50
mil são usados para obras na cidade, segundo o prefeito Aristides
Queiroz (PSDB-AM). "É muito
pouco, com isso consigo fazer pequenas melhorias", diz ele.
A economia é baseada no turismo, na pecuária e na agricultura.
Entre as obras da atual administração, estão a restauração da orla
da ilha e de seu paisagismo. A cidadezinha abriga poucas atrações
turísticas: a igreja Nossa Senhora
da Conceição, uma das mais antigas da Amazônia, o cemitério
municipal e o mercado de Silves,
onde pescadores e feirantes vendem seus produtos, alguns dos
mais exóticos da região.
(RODRIGO RAINHO)
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