São Paulo, quinta-feira, 09 de agosto de 2007

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Em Montevidéu, turista viaja no tempo

Com simplicidade e sobriedade, capital uruguaia impõe seu próprio ritmo desacelerado aos visitantes

AMARÍLIS LAGE
EM MONTEVIDÉU

Visitar Montevidéu é fazer uma viagem no tempo.
A princípio, sente-se um certo deslocamento. O ritmo, mesmo para um visitante em férias, soa devagar. Saboreia-se a comida sem pressa, as pessoas caminham com calma, e mesmo quem dirige não parece muito interessado em acelerar -além disso, muitos carros, você repara, são antigos.
Também não se vê, por ali, a urgência da moda. À exceção de algumas lojas de jovens estilistas, as vitrines exibem mantas e casacos de lã, de corte tradicional, feitos para enfrentar o frio de muitos invernos. Os sapatos, básicos, também parecem ignorar se a tendência no exterior é bico fino, plataforma ou "ankle boots". Tudo é simples e sóbrio, como os próprios montevideanos.
Ao redor, os prédios remetem ao art nouveau. Apesar de a cidade já ter abrigado o edifício mais alto da América Latina -o Palácio Salvo, de 1922-, a maioria das construções é de porte médio. Ao observar Montevidéu do alto da fortaleza do Cerro, apenas o edifício de uma companhia telefônica se destaca por suas laterais espelhadas e altura incomum -na verdade, parece deslocado na paisagem.
Mas, em pouco tempo, o forasteiro aprende a ajustar o relógio e o olhar. Descobre os bancos das praças, o ritual do mate e troca a visita corrida a cinco pontos turísticos por um fim de tarde na escollera Sarandí, na companhia dos pescadores, ou por um café demorado na confeitaria Oro del Rhin. Só assim se começa a entender e a curtir Montevidéu.
Com cerca de 1,4 milhão de habitantes, a cidade concentra quase um terço da população do Uruguai.
De acordo com o último censo, de 2004, um em cada cinco moradores da capital tinha mais de 60 anos. No país, os idosos correspondem a 17% da população. No Brasil, por exemplo, representam 8,6%.
A alta proporção de idosos não está ligada apenas à expectativa e à qualidade de vida: decorre também da ida de muitos jovens para a Europa, especialmente para a Espanha, em busca de trabalho. A economia do país, fortemente ligado à tradição rural, foi especialmente afetada pela crise da Argentina, alguns anos atrás.
Para os turistas brasileiros, isso acaba fazendo do Uruguai um destino muito barato, mais ainda do que Buenos Aires, principalmente no que se refere à alimentação.
Lá é possível encontrar ótimas carnes, ótimos queijos, doces e vinhos, além de artefatos de couro e peças de lã, por preços bem menores do que os cobrados no Brasil. Uma refeição completa num restaurante charmoso como o La Corte (www.lacorte.com.uy), por exemplo, sai por menos de R$ 20 por pessoa.
Apesar dessa vantagem para o bolso do turista brasileiro, é impossível, após conhecer o país, não desejar que o Uruguai volte a enriquecer e a ocupar uma posição de destaque. De preferência, sem perder esse ar retrô que deixa visitantes tão nostálgicos ao voltar para casa.


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