|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LOGO ALI
Em Montevidéu, turista viaja no tempo
Com simplicidade e sobriedade, capital uruguaia impõe seu próprio ritmo desacelerado aos visitantes
AMARÍLIS LAGE
EM MONTEVIDÉU
Visitar Montevidéu é fazer
uma viagem no tempo.
A princípio, sente-se um certo deslocamento. O ritmo, mesmo para um visitante em férias,
soa devagar. Saboreia-se a comida sem pressa, as pessoas caminham com calma, e mesmo
quem dirige não parece muito
interessado em acelerar -além
disso, muitos carros, você repara, são antigos.
Também não se vê, por ali, a
urgência da moda. À exceção de
algumas lojas de jovens estilistas, as vitrines exibem mantas e
casacos de lã, de corte tradicional, feitos para enfrentar o frio
de muitos invernos. Os sapatos,
básicos, também parecem ignorar se a tendência no exterior é bico fino, plataforma ou
"ankle boots". Tudo é simples e
sóbrio, como os próprios montevideanos.
Ao redor, os prédios remetem ao art nouveau. Apesar de a
cidade já ter abrigado o edifício
mais alto da América Latina -o
Palácio Salvo, de 1922-, a
maioria das construções é de
porte médio. Ao observar Montevidéu do alto da fortaleza do
Cerro, apenas o edifício de uma
companhia telefônica se destaca por suas laterais espelhadas
e altura incomum -na verdade,
parece deslocado na paisagem.
Mas, em pouco tempo, o forasteiro aprende a ajustar o relógio e o olhar. Descobre os
bancos das praças, o ritual do
mate e troca a visita corrida a
cinco pontos turísticos por um
fim de tarde na escollera Sarandí, na companhia dos pescadores, ou por um café demorado
na confeitaria Oro del Rhin. Só
assim se começa a entender e a
curtir Montevidéu.
Com cerca de 1,4 milhão de
habitantes, a cidade concentra
quase um terço da população
do Uruguai.
De acordo com o último censo, de 2004, um em cada cinco
moradores da capital tinha
mais de 60 anos. No país, os
idosos correspondem a 17% da
população. No Brasil, por
exemplo, representam 8,6%.
A alta proporção de idosos
não está ligada apenas à expectativa e à qualidade de vida: decorre também da ida de muitos
jovens para a Europa, especialmente para a Espanha, em busca de trabalho. A economia do
país, fortemente ligado à tradição rural, foi especialmente
afetada pela crise da Argentina,
alguns anos atrás.
Para os turistas brasileiros,
isso acaba fazendo do Uruguai
um destino muito barato, mais
ainda do que Buenos Aires,
principalmente no que se refere à alimentação.
Lá é possível encontrar ótimas carnes, ótimos queijos, doces e vinhos, além de artefatos
de couro e peças de lã, por preços bem menores do que os cobrados no Brasil. Uma refeição
completa num restaurante
charmoso como o La Corte
(www.lacorte.com.uy), por
exemplo, sai por menos de R$
20 por pessoa.
Apesar dessa vantagem para
o bolso do turista brasileiro, é
impossível, após conhecer o
país, não desejar que o Uruguai
volte a enriquecer e a ocupar
uma posição de destaque. De
preferência, sem perder esse ar
retrô que deixa visitantes tão
nostálgicos ao voltar para casa.
Texto Anterior: Passagem aérea para a capital quase vira pacote Próximo Texto: Com aeroportos fechados, bilhete quase vira pacote Índice
|