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Degustação "batiza" a ponta do nariz
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Da bandeja saem duas xícaras.
Do mesmo formato, da mesma
cor, com quantidades iguais de líquido (obtido pelo método da filtração). O ritual começa. O nariz
da professora some dentro da xícara, e você faz o mesmo. Claro
que vai com muita sede ao pote e
erra no cálculo da distância. Como resultado, percebe que o nariz
deve ter uma mancha marrom
bem na ponta. O começo da aula
não é nada promissor.
Mas o degustador iniciante vence a vergonha, tira o nariz da xícara e o limpa em tom de brincadeira (melhor do que achar que o líquido escorrendo na cara vai passar despercebido). O cheiro -ou
o pouco que o vexame permitiu
sentir- lembrava serragem. Segue-se para a outra xícara. Dessa
vez o nariz acerta o rumo, e o aroma chega às narinas. Parece bom,
lembra alguma frutinha, como
uma amêndoa.
O segundo passo é tomar um
gole, distribuindo o líquido por
toda a boca, e engolir. Passa-se à
segunda xícara, que recebe igual
tratamento. "Qual das duas você
repetiria?", pergunta a professora.
Pensando em qual seria a resposta
certa e sem se lembrar muito bem
da vergonhosa primeira xícara,
segue a frase, titubeante: "Seria a
segunda?". "A segunda é um café
robusta, sem qualidade. A primeira é arábica", vem a resposta.
Ainda que a estréia seja catastrófica, o apreciador amador não
deve desistir. Depois da enésima
xícara, as respostas certas começarão a surgir, e o aluno se pegará
exclamando: "Tem uma boa finalização, achocolatada".
Esse é o método ensinado pela
cafeóloga Eliana Relvas, 34, a
quem quer se iniciar na arte de degustar café. A consultora do Pão
de Açúcar e coordenadora do
Centro de Preparação de Café do
Sindicafé (Sindicato da Indústria
de Café do Estado de São Paulo)
explica que, ao experimentar dois
cafés diferentes ao mesmo tempo,
as diferenças entre as duas bebidas se ressaltam, e o degustador
percebe mais facilmente as características de cada xícara.
Entre um café e outro, pode-se
ou não tomar um gole de água
sem gás, à temperatura ambiente.
E não é preciso tomar todo o café;
basta experimentar. Mas quem
quiser repetir alguma xícara pode
fazê-lo sem medo, até o último
gole: "A ingestão do pó restante
no fundo da xícara só deixará a finalização mais intensa", explica
Relvas.
Esse não é o procedimento realizado pelos degustadores profissionais, que fazem a chamada
prova de xícara. O pó, com moagem grossa, é depositado no fundo de pequenos recipientes e molhado com água quente. Quando
ocorre a sedimentação do pó,
"quebra-se a xícara", ou seja, quebra-se a crosta que se forma na
superfície, usando uma colher.
Com esse mesmo instrumento,
mexe-se o líquido, dando três voltas. A colher então é cheirada, e o
restante da crosta é retirado. O degustador prova a bebida, mas não
engole, a cospe, já que pode ter de
fazer isso com dezenas de xícaras.
Língua, para que te quero!
Sim, é como se fosse uma ginástica, e a língua precisa estar em
forma para a degustação. Com o
café na boca, a primeira característica a ser notada é a doçura,
sentida logo na ponta da língua.
Mas, na verdade, ela vem junto de
todas as outras, nos cinco segundos em que o café fica na boca: sabor (marcante, agradável); corpo
(sensação de peso no paladar; como um leite integral "pesa" mais
que o desnatado); acidez (se o café
for mais ácido, a boca saliva quando a bebida é engolida, principalmente na parte lateral; se for adstringente, sente-se certa secura
atrás do dente); e amargor (percebido na hora de engolir e que de
preferência não deve ser intenso).
Por fim, na finalização (sabor que
fica na boca após a degustação), o
gosto deve ser agradável, "provocando a vontade de repetir", explica a cafeóloga.
No caso do expresso -preferencialmente curto-, observa-se
um item a mais: o creme. Ele não
deve ser muito claro, e sim ter
tons de marrom avermelhado,
além de ser espesso (para isso,
mergulhe a colher no pó e a levante; se o creme não cair, ele está no
ponto certo).
E, se o nariz ficar manchado, o
degustador já sabe o que fazer.
(JD)
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