São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2011

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Terreno do país equivale à metade da área de Sergipe

Trabalhadores estrangeiros se submetem à "kalafa", espécie de servidão

DO ENVIADO A DOHA

Como em muitos países da região, no Qatar, bebidas alcoólicas são difíceis de obter. Só são servidas em raros bares controlados, em hotéis, a preços exorbitantes e com a apresentação de passaporte.
A carne de porco está ausente dos cardápios, mas não será surpresa encontrar bacon no café da manhã.
E quase todo mundo fala (ou entende) inglês.
O país tem aproximadamente 11,6 mil km² (pouco mais que a metade de Sergipe). Três quartos dos cerca de 848 mil habitantes são estrangeiros.
A minoria de qatarianos (ou qataris) nada de braçada na riqueza advinda do gás natural e do petróleo: o país tem o maior PIB per capita do planeta, segundo uma estimativa de 2010 (www.cia.gov).
No poder está o emir (rei) Hamad Bin Khalifa al Thani. Ele tomou o governo do próprio pai em 1995, quando este gozava férias na Suíça. Desde então, iniciou várias reformas políticas, como estender o direito de voto às mulheres, promulgar uma Constituição para a monarquia e dar certa liberdade para o jornalismo inovador da emissora internacional de TV Al Jazeera.

PASSAPORTES RETIDOS
Quase não há violência nem crimes. No entanto, as leis qatarianas não consideram delito o regime de quase servidão a que os trabalhadores estrangeiros são submetidos pelos patrões locais.
Seus passaportes ficam retidos pelo período do contrato de trabalho, em geral de dois anos, no regime conhecido como "kafala" (uma espécie de adoção).
Mais de 1 milhão de indianos, paquistaneses, cingaleses, filipinos e árabes de todas as nacionalidades aceitam condição subalterna, na esperança de arrumar a vida.
Enxameiam o gigantesco canteiro de obras em que se transformou o país, sede da Copa de 2022 e candidato a hospedar os Jogos Olímpicos de 2020.
O plano é converter a economia do petróleo no Qatar, maior emissor per capita de gases do efeito estufa no mundo, em "economia do conhecimento" -até 2030. No comando do processo está a FQ (Fundação Qatar), dirigida por sua alteza Sheikha Moza bint Nasser, segunda das três mulheres do emir (as outras cônjuges não aparecem em público).
Para isso, a FQ dispõe de um campus de 15 km², a Cidade da Educação. Ali estudam quase 4.000 bolsistas, metade deles qatarianos. Instalações faraônicas abrigam universidades de classe internacional: Cornell, Texas A&M, Carnegie Mellon, Georgetown, Northwestern e University College de Londres. Por ali estão também os estábulos com ar-condicionado do Al Shaqab, criatório de cavalos árabes campeões.
Fora o aspecto trabalhista, no contexto árabe as leis são consideradas até liberais. O Qatar goza da reputação de país aberto ao Ocidente e teve papel chave na Guerra do Golfo como base de operações dos EUA. Com apenas 10% dos muçulmanos de origem xiita, não se tem notícia de manifestações contra a elite governante sunita, como no vizinho Bahrein (onde um levante foi massacrado com ajuda de forças sauditas).
A Primavera Árabe não chegou ao Qatar, onde todos os nacionais têm renda e teto garantidos, e as mulheres podem dirigir carros livremente. A gasolina custa um dólar por galão, ou menos de R$ 0,40 por litro.
Passear de táxi é uma pechincha, mesmo porque não dá para andar muito tempo na rua na maior parte do ano. O risco de insolação é alto. (MARCELO LEITE)


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