COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Achar um restaurante charmoso, com clima romântico, cardápio criativo e uma carta de bons vinhos (com preços longe de ser exorbitantes), escondido numa rua escura, é um esporte para o viajante que chega a Roma. Achar tudo isso e descobrir que o lugar era visitado pelo gênio renascentista Rafael (Raffaello Sanzio, 1483-1520) é indescritível. Algo como acertar em uma Mega-Sena gastronômica, já que o restaurante não é local farto de turistas. Pois é assim que você se sentirá ao entrar pela porta do Romolo Nel Giardino Della Fornarina. Romolo é o nome do proprietário. Fornarina, palavra que pode ser traduzida como "aquela que faz pão", era o apelido de Margherita Luti, amante do pintor Rafael.
Amante com "A" maiúsculo. Pouco depois da morte dele, ela se internou num convento, onde ficou até o fim da vida. Há sete anos, durante o restauro da tela "La Fornarina", a última obra pintada por Rafael, descobriu-se uma camada de tinta que escondia a imagem de um anel com uma pedra vermelha no anular esquerdo da modelo. A jóia teria sido coberta há cinco séculos com finas pinceladas pelo próprio artista, gesto que foi entendido como declaração a seu amor secreto, Margherita.
Romance à parte, o Giardino Della Fornarina é um dos melhores restaurantes romanos. Você aproveitará mais se for à noite e escolher uma mesa no terraço (faça reserva), sob umbrelones e estrelas. Da cozinha, comandada por Marisa, filha do dono, saem pratos típicos da cidade como massas, é claro, mas também bons peixes. E o mais incrível: um atendimento atencioso, educado, coisa nem sempre muito comum em Roma. Se estiver disposto a experiências mais ricas, peça fritto di cervella e carciofi (fritada de miolo e alcachofra) e um bom Amarone de Valpolicella. Vai ser difícil não se sentir o próprio gênio renascentista num jantar no século 16.
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)