São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Paisagem compensa 22 h de ônibus

Sergio Andrade/Folha Imagem
Centro de Bariloche, que carrega herança da colonização européia do início do século passado


MARCELO PLIGER
NA ARGENTINA

Decidir atravessar os 1.680 km que separam Buenos Aires de Bariloche em um ônibus pode adicionar um tempero de aventura à viagem. Vale também pela paisagem e pelo baixo custo em detrimento do conforto e da rapidez de um avião. São até 22 horas de viagem com no máximo três paradas, mas há companhias que fazem o caminho em 18 horas, conforme a rota. As passagens custam até 70 pesos (aproximadamente o mesmo valor em reais).
A opção vem se tornando comum entre mochileiros de olho em paisagens diferentes e baixo custo. Após a saída de Buenos Aires, o cenário dos pampas argentinos se estende plano por muitos quilômetros. A estrada é reta até se perder de vista. É possível contar nos dedos das mãos quantas curvas há em todo o trecho.
De vez em quando surge um rebanho e, a cada quilômetro, uma árvore solitária. Apenas duas horas após a saída, já quase não se vêem pessoas ou casas. E outros carros também são raros.
A companhia tenta entreter os passageiros com filmes, mas a maioria prefere assistir à paisagem que passa. Mesmo os ônibus mais simples são bastante confortáveis, equipados com banheiro, aparelhos de televisão e chá a bordo. Aos poucos o sol vai descendo até desaparecer, desenhando uma faixa laranja no horizonte baixo. Nesse momento, o céu ganha um tom quase roxo.
Pela manhã o cenário muda completamente: o deserto da Patagônia perde-se no horizonte. Não há mais árvores ou animais de grande porte, e a estrada rasga uma terra seca, salpicada por algumas poucas gramíneas.
Até mesmo o asfalto parece empoeirado. Surgem alguns montes baixos, que aos poucos vão aumentando de tamanho e freqüência, aproximando os passageiros das cordilheiras. Com sorte e céu claro, surge pela janela a primeira cadeia de montanhas coberta de neve. Ainda muito longe e azulada pela distância.
A partir daí elas aparecem uma atrás da outra, e o ônibus mergulha entre os montes em busca dos primeiros lagos, até chegar ao grande Nahuel Huapi, onde está Bariloche, emoldurada por picos nevados. É, sem dúvida, a maneira mais bonita de chegar à cidade.


Texto Anterior: Esqui logo ali: Chocolate e chá temperam a estação
Próximo Texto: Pacotes para Bariloche
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.