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SUL DOS EUA
Museu expõe quilts feitos por afro-americanas do Alabama
Retalhos ganham status de arte moderna
EM ATLANTA
Mais de 60 colchas de retalho
confeccionadas de 1930 a 2000 viraram peças de arte e estão penduradas nas paredes do High Museum, em Atlanta. Os chamados
quilts, que antes esquentavam os
corpos das famílias de uma pequena comunidade rural com
menos de 500 habitantes no Alabama, revelam parte da alma e da
história de quatro gerações de
mulheres afro-americanas.
A exposição "The Quilts of
Gee's Bend" mostra desde simples composições de trapos e retalhos tortos costurados rusticamente a figuras que mais parecem
pinturas abstratas modernas.
Os quilts de cerca de 40 mulheres de Gee's Bend destoam das
colchas simetricamente cerzidas
de origem européia. Sem precisão
geométrica e com pontos alinhavados de forma bruta, muitos
quilts de Gee's Bend têm cor desbotada e foram confeccionados a
partir de sacos de algodão e de tecidos velhos ou esgarçados. Há
também colchas em veludo, algodão e brim. Mas o material é o
menos relevante perto de como
os quilts foram feitos.
Fazer os quilts era necessidade,
e não um hobby, para as mulheres
da comunidade pobre do Alabama. "Usávamos tiras de roupas
velhas já desgastadas. Eu não tinha tesoura, rasgava as peças",
lembra-se Mary Lee Bendolph, 70
para o jornal local, o "Atlanta
Journal Constitution".
Uma das primeiras colchas no
segundo andar do museu foi feita
de restos de calças jeans muito
surradas usadas pelo pai de uma
família, que, após sua morte, não
teriam nenhuma utilidade no
guarda-roupa. Outra artista diz
ter recebido um conjunto de tailleur que ela jamais usaria. Ficou
lindo como um quilt.
Outra se recusava a usar a tesoura, e as tiras para fazer o quilt
era todas rasgadas à mão. Nem a
política passou batida nos quadrados. Em um dos quilts está
bordado "vote", uma manifestação da artista contra os muitos
trabalhadores que perderam o
emprego após se registrarem para
votar, numa época em que os negros lutavam pelos direitos civis.
Cada uma das mulheres adota
um estilo e tem sua técnica de preferência. Mas, se perguntar como
elas fazem, a resposta é "do meu
jeito". O início pode ter sido com
padrões como lazy gal (garota
preguiçosa, com longas tiras), log
cabin e housetop (basicamente
formam quadrados), evoluindo
para outras variações. Com a prática, as fazedoras de quilt se enveredam por caminhos sofisticados.
A composição de cores é vibrante,
e o olhar só é desviado quando
lançado para outra peça.
Um quilt de Gee"s Bend hoje vale uma nota. São vendidos em galerias de arte a preços que variam
de US$ 2.000 a US$ 28 mil.
As peças pertencem à coleção
da fundação Tinwood Alliance,
baseada em Atlanta, que apóia a
arte afro-americana. Em 1997, o
fundador, William Arnett, viajou
até o Alabama atrás de uma das
artistas (que até então nem imaginava que poderia se tornar famosa, Annie Mae Young), pois havia
visto um de seus quilts numa revista. Annie o apresentou à comunidade de Gee's Bend.
A mostra, que fica em cartaz até
18 de junho, faz parte de um giro
por 11 museus norte-americanos,
iniciado em 2002, no Museu de
Belas Artes de Houston.
(MARGARETE MAGALHÃES)
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