São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUL DOS EUA

Museu expõe quilts feitos por afro-americanas do Alabama

Retalhos ganham status de arte moderna

EM ATLANTA

Mais de 60 colchas de retalho confeccionadas de 1930 a 2000 viraram peças de arte e estão penduradas nas paredes do High Museum, em Atlanta. Os chamados quilts, que antes esquentavam os corpos das famílias de uma pequena comunidade rural com menos de 500 habitantes no Alabama, revelam parte da alma e da história de quatro gerações de mulheres afro-americanas.
A exposição "The Quilts of Gee's Bend" mostra desde simples composições de trapos e retalhos tortos costurados rusticamente a figuras que mais parecem pinturas abstratas modernas.
Os quilts de cerca de 40 mulheres de Gee's Bend destoam das colchas simetricamente cerzidas de origem européia. Sem precisão geométrica e com pontos alinhavados de forma bruta, muitos quilts de Gee's Bend têm cor desbotada e foram confeccionados a partir de sacos de algodão e de tecidos velhos ou esgarçados. Há também colchas em veludo, algodão e brim. Mas o material é o menos relevante perto de como os quilts foram feitos.
Fazer os quilts era necessidade, e não um hobby, para as mulheres da comunidade pobre do Alabama. "Usávamos tiras de roupas velhas já desgastadas. Eu não tinha tesoura, rasgava as peças", lembra-se Mary Lee Bendolph, 70 para o jornal local, o "Atlanta Journal Constitution".
Uma das primeiras colchas no segundo andar do museu foi feita de restos de calças jeans muito surradas usadas pelo pai de uma família, que, após sua morte, não teriam nenhuma utilidade no guarda-roupa. Outra artista diz ter recebido um conjunto de tailleur que ela jamais usaria. Ficou lindo como um quilt.
Outra se recusava a usar a tesoura, e as tiras para fazer o quilt era todas rasgadas à mão. Nem a política passou batida nos quadrados. Em um dos quilts está bordado "vote", uma manifestação da artista contra os muitos trabalhadores que perderam o emprego após se registrarem para votar, numa época em que os negros lutavam pelos direitos civis.
Cada uma das mulheres adota um estilo e tem sua técnica de preferência. Mas, se perguntar como elas fazem, a resposta é "do meu jeito". O início pode ter sido com padrões como lazy gal (garota preguiçosa, com longas tiras), log cabin e housetop (basicamente formam quadrados), evoluindo para outras variações. Com a prática, as fazedoras de quilt se enveredam por caminhos sofisticados. A composição de cores é vibrante, e o olhar só é desviado quando lançado para outra peça.
Um quilt de Gee"s Bend hoje vale uma nota. São vendidos em galerias de arte a preços que variam de US$ 2.000 a US$ 28 mil.
As peças pertencem à coleção da fundação Tinwood Alliance, baseada em Atlanta, que apóia a arte afro-americana. Em 1997, o fundador, William Arnett, viajou até o Alabama atrás de uma das artistas (que até então nem imaginava que poderia se tornar famosa, Annie Mae Young), pois havia visto um de seus quilts numa revista. Annie o apresentou à comunidade de Gee's Bend.
A mostra, que fica em cartaz até 18 de junho, faz parte de um giro por 11 museus norte-americanos, iniciado em 2002, no Museu de Belas Artes de Houston.
(MARGARETE MAGALHÃES)


Texto Anterior: Sul dos EUA: Aquário de Atlanta é isca para mais turismo
Próximo Texto: Campanha: Mister Suíça convida as mulheres a fugir da Copa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.