São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

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TOSTADO E APROVADO

Cafés Tortoni, Richmond e El Querandí e confeitarias Las Violetas e Ideal evocam um passado glamouroso que inclui Gardel, Borges e Lorca

Roteiro desvela endereços antigos e casas pomposas

DE BUENOS AIRES

Para quem gosta do estilo antigo e pomposo, os cafés Tortoni, Richmond e El Querandí e as confeitarias Las Violetas e Ideal são imperdíveis. Valeria conhecê-los só pela arquitetura, com fachadas suntuosas em vidro e bronze. Além disso, porém, eles ainda oferecem exuberante decoração e qualidade gastronômica e de atendimento.
Um dos primeiros pontos de encontro de intelectuais e políticos, o café Tortoni é sofisticado. A fachada do edifício de três andares é toda de ferro e vidro, com varandas em estilo francês. No primeiro andar funciona a Academia Nacional de Tango.
O café fica no térreo. É amplo e tem as paredes recheadas de quase cem quadros e gravuras. Ainda no térreo, estão também um salão de bilhar e um de shows. No subsolo funciona uma bodega onde há concertos de tango e de jazz.
Ao redor das mesas do Tortoni já se sentaram o cantor Carlos Gardel, os escritores Federico Garcia Lorca e Jorge Luis Borges, o filósofo Ortega y Gasset, o pintor argentino Xul Solar e outras personalidades.
Com vitrais coloridos, piso de granito e pé-direito alto, a confeitaria Las Violetas é de 1884. Foi nela que Ricardo Stepens, o protagonista do conto "Noite Terrível", de Roberto Arlt, imaginou o abandono de sua amada.
Um pouco menos antiga, a confeitaria Ideal, aberta em 1912, tem uma fachada esplendorosa. São dois andares. No de baixo, o café e a confeitaria. No de cima, salão de tango onde há uma das milongas mais tradicionais da cidade.
O ex-presidente Hipólito Yrigoyen (1852-1933) mandava comprar biscoito do tipo palmeira ali nos ano 20. Na Ideal, Alan Parker gravou cenas do filme "Evita", estrelado por Madonna em 1996.
Em 1998, Las Violetas e a Ideal foram declaradas locais de proteção histórica e interesse cultural.
Ainda no estilo belle-époque, o café Richmond, que funciona desde 1917, tem a frente de vidro. O projeto é do arquiteto belga Julio Dorma, que dirigiu a última etapa das obras no teatro Colón.
Apreciadores de um estilo mais moderno devem conhecer o Notorious CDs Bar. Mistura de café e loja de CDs, ali o cliente ouve os discos em um computador enquanto toma um expresso ou almoça. Pode-se tomar um cafezinho e ficar horas ouvindo música sem ser incomodado.
Outros cafés também oferecem algo a mais. A Clássica e Moderna foi uma livraria entre 1938 e 1988, quando os donos abriram um café em volta da loja. Durante a noite há concertos de tango e jazz. É bom ficar de olho, a Clássica e Moderna sempre oferece atividades como cursos de narrativa.
A vitrine do Gato Negro, irresistível, é repleta de especiarias do mundo todo. A cada hora o local tem um cheiro diferente, depende da moenda que estiver funcionando no momento. São chás, cafés e temperos vendidos ali desde 1926. O Gato Negro introduziu em Buenos Aires os produtos da parisiense Fauchon.
Há cafés que são pura história.
O Britânico é um deles. Em frente ao parque Lezama, no bairro San Telmo, fica na Defensa, a rua das antigüidades. Ali, sentado na primeira mesa à esquerda da porta de entrada, bem ao lado da janela, Ernesto Sábato escreveu trechos de seu livro "Sobre Heróis e Tumbas". "Ele passava horas escrevendo, mas isso foi lá pelos anos 50", conta José Maria Trillo, um espanhol de La Coruña que há 44 anos serve ilustres e anônimos.
Em 1982, quando começou a Guerra das Malvinas, os donos tiraram as três primeiras letras do nome do café, que virou Tânico. Retomadas as relações diplomáticas entre Argentina e Inglaterra, o Britânico resgatou o nome original, que ganhou em 1930. Aproveite a viagem e atravesse a rua para visitar o Hipopotamus. Se estiver só, pode sentir vontade de chamar o garçom para se sentar à mesa. Intimista, o Hipopotamus convida a uma boa conversa.
Ainda em San Telmo, o café Bar Plaza Dorrego é tipicamente portenho. As mesas de madeira são cheias de assinaturas e declarações de amor. Nas paredes, fotos de Carlos Gardel e Roberto Goyeneche, também conhecido por "Polaco", e uma histórica foto do encontro de Jorge Luis Borges e Ernesto Sábato, nos anos 70.
Também valem a pena o Bar Bar O e o café Garcia, com chão quadriculado em branco e preto e paredes repletas de fotos e objetos, como uma camiseta da seleção argentina assinada por Maradona. A antiga máquina de expresso é uma atração à parte.
Outro cenário da literatura, o London City, próximo à plaza de Mayo, emprestou as mesas para Julio Cortázar escrever o romance "Os Prêmios". O edifício, remodelado em 1910, fica ao lado da suntuosa Casa da Cultura, ex-sede do jornal "La Prensa". Veja endereços ao lado. (Cláudia Dianni)

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