|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ÁFRICA DO SUL
Museu patacudo empolga os viajantes
Com 350 peças de ouro, exposição fica em um dos casarões coloniais mais antigos da cidade do Cabo
DA ENVIADA ESPECIAL
Apesar de ser pequeno, o museu Ouro da África pode tomar
horas do visitante. Cada uma
das 350 peças de ouro exige um
punhado de minutos para ser
observada de verdade. Tá bom
que, depois de algum tempo, os
olhos começam a se embaralhar diante de tanto dourado,
mas mesmo retinas desbaratadas voltam a se impressionar
diante dos brincos, sandálias,
ídolos, pentes e afins decorados
com toda a fauna africana.
A coleção Barbier-Mueller é
simbolizada pelo leão de ouro
maciço vindo de Gana que está
exposto sozinho dentro de uma
caixinha de vidro em uma sala
só para ele em que fica, em looping, um som de rugidos felinos. Esse é o final da visita.
A visita começa antes de o visitante entrar no museu. Isso
porque o acervo fica instalado
na casa Martin Melk, um dos
mais antigos casarões coloniais
da Cidade do Cabo. Com projeto do arquiteto francês Louis
Thibault, a casa, construída no
fim do século 18, é tida como
um dos principais exemplos da
arquitetura típica da cidade.
Entre
Finda a contemplação da fachada histórica, do lado de dentro o visitante sobe uma escada
e vê o começo da exposição: fotos de reis e rainhas tribais
usando seus trajes rituais e
seus acessórios imensos e dourados dão um aperitivo do que
está no andar de cima.
A primeira sala está coberta
por uma sucessão de datas e
mapas que contextualizam a
extração do ouro e a produção
de artefatos do metal na África.
É quase impossível sentir
vontade de ler o que está escrito -são metros e metros de painéis com letras miúdas e desenhos lindos. Mas, ali no meio
dessas paredes, a impressão
que se tem é a de que você caiu
dentro de um atlas. Cercado
por backlights de mapas amarelados com ilustrações de nativos africanos, essa sala desliga
o visitante do zunzunzum da
rua e o joga no contexto do que
vai encontrar museu: objetos
mágicos, valiosos e brilhantes.
"Te direi quem és"
A função mágica desses objetos está ligada à tradição de
provérbios relacionados a animais. O museu dá a dica: "O aspecto mais impactante do
adorno de ouro africano é a riqueza de imagens proverbiais".
Os animais, figuras recorrentes
nesses objetos, têm, cada um,
seu significado. A lógica é a
mesma da máscara: ao usar o
adorno com a figura do animal,
o portador veste também suas
qualidades. Funciona como um
acessório-adjetivo.
Nesse dicionário próprio, o
elefante representa o poder do
chefe. O leopardo é a imagem
da falsidade, da ingratidão. O
crocodilo responde pela versatilidade. O leão é... acertou
quem pensou em coragem. O
porco-espinho é a invencibilidade. A vaca, a perseverança. A
galinha, a disposição de ouvir
os mais velhos. E o bagre, a responsabilidade.
Apresentados aos significados dessa extensa fauna dourada, é hora de mergulhar na
grande sala repleta de vitrines
lotadas de objetos, iluminados
dramaticamente.
Mais é mais
No meio desses tantos objetos, duas coisas ficam evidentes. A adoração ao adorno de
ouro é comprovada pela presença de dois chinelinhos de
dedo cobertos do metal. E o
gosto por muito ouro, em larga
escala, é declarado pelo tamanho de anéis, pulseiras e brincos. Enormes e com desenhos
de deixar Pierre Cartier de
queixo caído, são mostrados
nas vitrines e contextualizados
em fotos em que mulheres e
homens se exibem com os acessórios gigantes. O mais impressionante de todos é o brinco em
formato de carambola -com
pequenos detalhes gravados
nas faces-, que chega a encostar nos ombros das mulheres.
(HELOISA LUPINACCI)
GOLD OF AFRICA
Strand street, 96; aberto de seg. a
sáb., das 9h30 às 17h. Ingresso: 20
rands (R$ 5,38)
www.goldofafrica.com
Texto Anterior: Café: Expresso equivale a curto, "double" é o normal Próximo Texto: África do Sul: Hotel funciona em antiga prisão Índice
|