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CURITIBA À MESA
Linha férrea edificada na rocha é caminho para a pequena Morretes, que farta turista com receita típica
Trilhos nas alturas conduzem a barreado
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CURITIBA
Faz um calor de matar: uma
temperatura nada adequada ao
prato típico da cidade. Porém,
quando a panela de barro fumegante chega à mesa, o aroma que
sai dela faz esquecer a temperatura lá de fora.
A cidade é Morretes, a apenas 68
km de Curitiba. O prato, o barreado -um cozido de carnes que, de
tão macias, derretem na boca-,
servido com farinha de mandioca. Mas esse é o
fim de um passeio que começa
bem cedinho, na capital.
A partida é três horas antes, na
ferroviária. O trem, relativamente
conservado, mas muito lento,
desce a serra do Mar em direção à
cidade histórica, fundada em
1721. No caminho, dá-lhe curvas,
pontes e trilhos erguidos nas alturas. No viaduto Carvalho, assentado nas rochas, o trem parece
flutuar: olha-se para baixo e não
se vê a linha férrea, só o abismo.
Outro ponto que dá frio na barriga é a ponte São João, a 55 m do
chão. Os mais corajosos metem a
cara na janela; os medrosos, encolhem-se no assento.
A ferrovia data de mais de cem
anos atrás, liga Curitiba a Paranaguá, no litoral, e continua transportando cargas, sobretudo
grãos, além dos turistas. A construção começou em 1880 e terminou cinco anos depois, com 102
km e um saldo trágico: dos 9.000
trabalhadores, 5.000 morreram.
Receita de festa
Na saída da estação de trem,
Morretes parece apenas mais
uma cidade pequena do interior.
Mas, à medida que o visitante caminha em direção ao centro, vai
encontrando um casario colonial
preservado, erguido ao redor do
rio Nhundiaquara e abençoado
por uma igreja matriz de 1812.
Como chega-se na hora do almoço, a primeira parada é nos
restaurantes que se esmeram no
preparo do barreado, receita famosa do litoral do Estado, especialmente no Carnaval. Diz a lenda que o prato era perfeito para
que as mulheres também aproveitassem a festa, já que, mesmo requentado, mantém o sabor.
O nome vem do ato de "barrear" a tampa da panela, ou seja,
vedá-la com farinha e cinza, para
que o vapor não se perca, e as carnes não se ressequem.
Na volta, prefira o ônibus (cuja
passagem deve ser comprada logo
na chegada, porque os horários
não são muitos). Afinal, depois de
alguns pratos de barreado, o chacoalhar do trem pode não ser uma
boa idéia.
(JULIANA DORETTO)
Serra Verde Express - diariamente,
com partida às 8h15 (trem) e às 9h15
(automotriz). Passagem: crianças (de três
a 12 anos), R$ 38 a R$ 51; adultos, de R$
70 a R$ 105.
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