São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 2005

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CURITIBA À MESA

Linha férrea edificada na rocha é caminho para a pequena Morretes, que farta turista com receita típica

Trilhos nas alturas conduzem a barreado

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CURITIBA

Faz um calor de matar: uma temperatura nada adequada ao prato típico da cidade. Porém, quando a panela de barro fumegante chega à mesa, o aroma que sai dela faz esquecer a temperatura lá de fora.
A cidade é Morretes, a apenas 68 km de Curitiba. O prato, o barreado -um cozido de carnes que, de tão macias, derretem na boca-, servido com farinha de mandioca. Mas esse é o fim de um passeio que começa bem cedinho, na capital.
A partida é três horas antes, na ferroviária. O trem, relativamente conservado, mas muito lento, desce a serra do Mar em direção à cidade histórica, fundada em 1721. No caminho, dá-lhe curvas, pontes e trilhos erguidos nas alturas. No viaduto Carvalho, assentado nas rochas, o trem parece flutuar: olha-se para baixo e não se vê a linha férrea, só o abismo. Outro ponto que dá frio na barriga é a ponte São João, a 55 m do chão. Os mais corajosos metem a cara na janela; os medrosos, encolhem-se no assento.
A ferrovia data de mais de cem anos atrás, liga Curitiba a Paranaguá, no litoral, e continua transportando cargas, sobretudo grãos, além dos turistas. A construção começou em 1880 e terminou cinco anos depois, com 102 km e um saldo trágico: dos 9.000 trabalhadores, 5.000 morreram.

Receita de festa
Na saída da estação de trem, Morretes parece apenas mais uma cidade pequena do interior. Mas, à medida que o visitante caminha em direção ao centro, vai encontrando um casario colonial preservado, erguido ao redor do rio Nhundiaquara e abençoado por uma igreja matriz de 1812.
Como chega-se na hora do almoço, a primeira parada é nos restaurantes que se esmeram no preparo do barreado, receita famosa do litoral do Estado, especialmente no Carnaval. Diz a lenda que o prato era perfeito para que as mulheres também aproveitassem a festa, já que, mesmo requentado, mantém o sabor.
O nome vem do ato de "barrear" a tampa da panela, ou seja, vedá-la com farinha e cinza, para que o vapor não se perca, e as carnes não se ressequem.
Na volta, prefira o ônibus (cuja passagem deve ser comprada logo na chegada, porque os horários não são muitos). Afinal, depois de alguns pratos de barreado, o chacoalhar do trem pode não ser uma boa idéia. (JULIANA DORETTO)


Serra Verde Express - diariamente, com partida às 8h15 (trem) e às 9h15 (automotriz). Passagem: crianças (de três a 12 anos), R$ 38 a R$ 51; adultos, de R$ 70 a R$ 105.

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