São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 2011 |
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ANÁLISE Cidade parece uma "Disney" para quem gosta de alta cultura No entorno da Postdamer Platz, a arquitetura é uma espécie de laboratório de visualidades do século 21 JOÃO BATISTA NATALI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Berlim é hóspede das imagens que produziu em seus oito séculos. A mais trágica foi a de um documentário rodado a partir de um avião soviético, depois que, em 8 de maio de 1945, caiu o famigerado Terceiro Reich. É uma metrópole em ruínas. Os prédios parecem ser milhares de dentes quebrados um pouco acima da raiz. O escritor alemão W. G. Sebald, insuspeito de simpatia pelo nazismo, relata que, a exemplo das outras 130 cidades alemãs pesadamente bombardeadas, os berlinenses viveriam nos anos seguintes entre escombros, mas sem menção à guerra em canções ou na literatura. Reconstruíram uma cidade dividida até o fim de 1989 entre comunismo e capitalismo, os dois mundos antagônicos da Guerra Fria. Passados 21 anos da reunificação e não há quase mais diferenças no acabamento ou no conforto nos prédios dos setores Leste e Ocidental. E, para alguns, não há mais tampouco uma disputa com Londres ou Paris pela reputação de capital da cultura na União Europeia. A superioridade de Berlim é em alguns campos incontestável. Há o bloqueio do idioma, menos cortejado que o inglês, o espanhol ou o francês. A cidade tem 3,4 milhões de habitantes -um terço da população de São Paulo. Possui 153 museus, 50 teatros, três casas de ópera com programação diária e sete orquestras sinfônicas. Para quem consome alta cultura, é uma "Disney" com a maior concentração mundial de requintados "brinquedos". Dois exemplos: a Gemäldegalerie (galeria de pinturas; www.smb.spk-de), que reúne um acervo extraordinário de telas e esculturas da Idade Média ao século 18. Ou o Berliner Philharmonie (www.berliner-phiharmoniker.de), com dois auditórios que totalizam 3.620 lugares e que é, desde 1963, a sede permanente da Orquestra Filarmônica de Berlim. Quanto à música popular, há a tradição das canções de cabaré dos anos 1920, em que o compositor Kurt Weill é o principal nome. Ou, então, quanto à música recente, o punk rock e a influência do Kraftwerk na produção do rock eletrônico e na mistura desse com outros gêneros. Mas há outras particularidades. Uma delas é urbanística. Um terço da sua área é ocupada por lagos, parques ou bosques. O Zoológico (www.zoo-berlin.de) -onde morreu no mês passado o ursinho polar Knut- tem grande área verde. E no falar em centro, nos tempos do Muro de Berlim a cidade tinha dois, um ocidental e um oriental. Com a reunificação, surgiu um terceiro centro, ao lado do ex-bunker de Hitler, em torno da Postdamer Platz. Ali, a arquitetura não é só grandiosa e de um modernismo extremado. É uma espécie de laboratório de visualidades do século 21, um despudor e uma predisposição para mostrar como serão no futuro os centros comerciais. A maior ousadia arquitetônica, no caso, veio no ano de 2001, com seis prédios encimados por uma única cobertura de vidro e metal, que se ilumina à noite. Texto Anterior: Obra e museu fazem mea-culpa e condenam época do Holocausto Próximo Texto: Caminhadas desvelam várias eras e histórias Índice | Comunicar Erros |
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