São Paulo, quinta-feira, 14 de maio de 2009

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CAPITAL GAÚCHA

"Grande dama do jazz" reúne plateia no porão de casa

Ivone Pacheco fundou o Take Five há 27 anos e faz sessões musicais semanais dela com outros jazzistas

DA REDAÇÃO

Ivone Pacheco não toca sozinha. Aos 77 anos, decidiu que daqui em diante só abrirá o piano quando tiver gente para ouvir. "Preciso de plateia", diz.
Mas Ivone não se refere a uma plateia de milhares de pessoas no palco de um teatro famoso.
"Eu abro as portas da minha casa e toco no porão", conta.
Conhecida em Porto Alegre como "a grande dama do jazz" ela fundou, há 27 anos, o Take Five. Uma vez por semana, durante anos, o portão só encostado era a senha para quem quisesse entrar para ouvir a sessão musical encabeçada por ela.
Bastava entrar, como quem passa para visitar um amigo, para ser agraciado com a música de Ivone e outros jazzistas.
Em entrevista à Folha, ela conta como nasceu o Take Five -cujos encontros, apesar de menos frequentes, ainda acontecem- e como foi tocar nas ruas de Paris e Nova Orleans.

 

FOLHA - Como surgiu o clube de jazz Take Five?
IVONE PACHECO
- Estava andando de bicicleta na praia de Tramandaí quando ouvi, de longe, uma música. Segui o som e cheguei ao piano que ficava à disposição dos alunos da universidade do Rio Grande do Sul. Quem sabia, chegava e tocava. Eu não era aluna, mas me sentei e toquei. O pessoal gostou do meu estilo. Um menino chegou perto e disse que eu era jazzista. Ele perguntou: "Em que bar a senhora toca?". Eu não tocava em lugar nenhum. Tinha quase 50 anos, era casada, já tinha três filhos. Não era bonito uma mulher desacompanhada ir para o bar à noite. Na época, meu marido cuidava da fazenda da família e eu me sentia muito sozinha. Então decidi que toda semana receberia outros músicos para sessões de improvisação. A gente deixava o portão aberto e o pessoal ia chegando. Um amigo ia avisando o outro e, em pouco tempo, já tinha fila na porta de casa. Tocávamos das 21h até as 3h, 4h, 5h...

FOLHA - Ainda há sessões?
PACHECO
- Sim, mas com menos frequência. No mês passado, fizemos uma especial, de aniversário. No período das festas juninas estamos programando outra. Contando com essa, até o final do ano devem acontecer mais umas duas. Mas dá trabalho, sabe? Tem de limpar antes e depois, fazer salgadinhos para receber as pessoas. E eu não ando mais tão bem de saúde. Agora, quando acontece, procuramos restringir mais aos amigos ligados à música.

FOLHA - Como aprendeu a tocar?
PACHECO
- Eu tinha quatro anos quando me sentei no piano do hotel onde morava [o pai era dono de um hotel] pela primeira vez. Aos oito comecei aulas com uma professora particular. Mas aos 18 abandonei o piano. Tinha de arrumar meu baú com enxoval e me casar. Aí vieram três filhos na sequência. Não deu para continuar. Minha mãe morreu... Retomei anos depois.

FOLHA - E como foi voltar?
PACHECO
- Pedi para uma das minhas filhas me levar pra Nova Orleans. Eu queria tocar lá, no berço do jazz. Queria tocar na rua, ver a reação das pessoas que eram pegas de surpresa pela minha música. E fiz isso. Em Nova Orleans e em Paris. Em Nova York e em Nova Jersey toquei em vagão de trem. Acordeon, gaita francesa...

FOLHA - A senhora já viu seus vídeos na internet?
PACHECO
- Minhas filhas já me mostraram. Quem não teve a chance de me ver no porão, agora pode me ver no YouTube.
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)


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