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Contemplar geleiras requer 14 horas no barco
DA ENVIADA ESPECIAL
Uma montanha de gelo que não
derrete se espalha num raio de 20
km, invade rios e forma paredões
de gelo em suas extremidades. Isso é um glaciar. Ao todo, na Patagônia chilena há 19 deles.
O ponto mais visitado pelos turistas em busca dos glaciares da
Patagônia é a laguna San Rafael.
Lá está uma das extremidades da
geleira do monte San Valentin.
O local é reservado a turistas pacientes, que topem encarar na ida
meia dúzia de horas de barco.
Cinco empresas fazem o passeio
até a geleira. Há saídas da cidade
de Puerto Chacabuco, com barcos
populares que podem levar 300
pessoas a bordo e que levam dez
horas para chegar à laguna.
Para ir ao local com o catamarã
Patagônia Express, o turista desembolsa US$ 250, com duas refeições, lanches e bar aberto. Por
ano, ao todo, cerca de 3.000 pessoas passam no mínimo 14 horas
em um barco, pelo percurso de
ida e volta, mais as duas horas no
local, onde se vêem os miniicebergs se soltando da geleira.
A grande quantidade de tempo
no barco pode ser penosa para
quem costuma marejar, mas a
paisagem compensa. O percurso
todo convida à contemplação.
Golfinhos, focas, patos selvagens e outros pássaros aparecem
pelo caminho. Quedas-d'água
dão um espetáculo, às vezes ao
longe, nas encostas das montanhas, às vezes desembocando no
canal por onde passa o barco.
Ao chegar à laguna e ver a geleira, o choque é inevitável. Do barco, vê-se um paredão de 1.600 m
de frente e 45 m de altura formado
de gelo. Esse paredão é a extremidade da geleira, que tem 4 km de
altura e 20 km de raio.
As medidas são colossais, mas
não é necessário sabê-las para
perder o fôlego ao chegar ao local.
Tão impressionante quanto o tamanho é a cor do gelo. Diferentemente do que se pode pensar, ele
não é todo branco. Tons de azul
turquesa, semelhantes ao de piscinas de fibra de vidro, intercalam-se com partes brancas, formando
uma espécie de montanha listrada que se esparrama entre dois
morros de florestas verde-escuras
e rochas. Em todas as direções para as quais se olha no lago, há miniicebergs, pedaços de gelo soltos,
azuis, com formas variadas. O visitante tem a sensação de ter chegado à Antártida.
Os turistas chegam perto do gelo em botes infláveis, de resgate. É
preciso colocar uma capa de chuva e um colete salva-vidas e recomenda-se vestir agasalhos, cachecol, luva e gorro. Todas essas camadas de roupa dificultam os
movimentos, como o de tirar fotografias, mas logo fica evidente a
necessidade: o frio é cruel perto
do gelo. Ir ao bote sem luvas é pedir para voltar com os dedos
adormecidos e duros.
A principal dica para esse passeio, no entanto, é para os viajantes supersticiosos: coloque ovos
no telhado para santa Clara afastar a chuva, pois o céu aberto torna a paisagem muito mais bonita.
No dia em que a Folha esteve na
laguna San Rafael, o céu estava
nublado na maior parte do tempo. O gelo estava azul, as matas,
verdes, e a montanha, branca.
Quando o céu abriu, perto do fim
da tarde, o gelo passou a ter um
azul mais intenso e brilhante, com
partes transparentes e brancas; as
matas eram de um verde vibrante,
e a montanha de gelo, um degradê
de brancos, azuis-claros e escuros,
com pontos lilases. Ou seja, vale
tentar a mandinga. Se conhecer
outras, faça-as.
(HHL)
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