São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Contemplar geleiras requer 14 horas no barco

DA ENVIADA ESPECIAL

Uma montanha de gelo que não derrete se espalha num raio de 20 km, invade rios e forma paredões de gelo em suas extremidades. Isso é um glaciar. Ao todo, na Patagônia chilena há 19 deles.
O ponto mais visitado pelos turistas em busca dos glaciares da Patagônia é a laguna San Rafael. Lá está uma das extremidades da geleira do monte San Valentin.
O local é reservado a turistas pacientes, que topem encarar na ida meia dúzia de horas de barco.
Cinco empresas fazem o passeio até a geleira. Há saídas da cidade de Puerto Chacabuco, com barcos populares que podem levar 300 pessoas a bordo e que levam dez horas para chegar à laguna.
Para ir ao local com o catamarã Patagônia Express, o turista desembolsa US$ 250, com duas refeições, lanches e bar aberto. Por ano, ao todo, cerca de 3.000 pessoas passam no mínimo 14 horas em um barco, pelo percurso de ida e volta, mais as duas horas no local, onde se vêem os miniicebergs se soltando da geleira.
A grande quantidade de tempo no barco pode ser penosa para quem costuma marejar, mas a paisagem compensa. O percurso todo convida à contemplação.
Golfinhos, focas, patos selvagens e outros pássaros aparecem pelo caminho. Quedas-d'água dão um espetáculo, às vezes ao longe, nas encostas das montanhas, às vezes desembocando no canal por onde passa o barco.
Ao chegar à laguna e ver a geleira, o choque é inevitável. Do barco, vê-se um paredão de 1.600 m de frente e 45 m de altura formado de gelo. Esse paredão é a extremidade da geleira, que tem 4 km de altura e 20 km de raio.
As medidas são colossais, mas não é necessário sabê-las para perder o fôlego ao chegar ao local. Tão impressionante quanto o tamanho é a cor do gelo. Diferentemente do que se pode pensar, ele não é todo branco. Tons de azul turquesa, semelhantes ao de piscinas de fibra de vidro, intercalam-se com partes brancas, formando uma espécie de montanha listrada que se esparrama entre dois morros de florestas verde-escuras e rochas. Em todas as direções para as quais se olha no lago, há miniicebergs, pedaços de gelo soltos, azuis, com formas variadas. O visitante tem a sensação de ter chegado à Antártida.
Os turistas chegam perto do gelo em botes infláveis, de resgate. É preciso colocar uma capa de chuva e um colete salva-vidas e recomenda-se vestir agasalhos, cachecol, luva e gorro. Todas essas camadas de roupa dificultam os movimentos, como o de tirar fotografias, mas logo fica evidente a necessidade: o frio é cruel perto do gelo. Ir ao bote sem luvas é pedir para voltar com os dedos adormecidos e duros.
A principal dica para esse passeio, no entanto, é para os viajantes supersticiosos: coloque ovos no telhado para santa Clara afastar a chuva, pois o céu aberto torna a paisagem muito mais bonita.
No dia em que a Folha esteve na laguna San Rafael, o céu estava nublado na maior parte do tempo. O gelo estava azul, as matas, verdes, e a montanha, branca. Quando o céu abriu, perto do fim da tarde, o gelo passou a ter um azul mais intenso e brilhante, com partes transparentes e brancas; as matas eram de um verde vibrante, e a montanha de gelo, um degradê de brancos, azuis-claros e escuros, com pontos lilases. Ou seja, vale tentar a mandinga. Se conhecer outras, faça-as. (HHL)


Texto Anterior: Solo chileno: Geleiras e bosques cortam Patagônia
Próximo Texto: Chileno: Águas de vulcões relaxam turista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.