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Engenheiro e funcionário público, Euclides morreu assassinado pelo amante da mulher em 1909
Vida do escritor intriga tanto quanto obra
DA ENVIADA A SÃO JOSÉ DO RIO PARDO
O cidadão Euclides Rodrigues
Pimenta da Cunha intriga tanto
quanto sua obra. Nasceu em 20 de
janeiro de 1866 no arraial de Santa
Rita do Rio Negro, atual Euclidelândia, em Cantagalo (RJ), ficou
órfão aos três anos, quando a mãe
morreu de tuberculose, e foi criado pela tia Rosinda.
Autodidata, foi expulso da escola militar em 1888 por jogar sua
espada de cadete aos pés do ministro da Guerra do Império. O
médico da escola chegou a classificá-lo de "doente dos nervos".
Mais tarde, com a República, foi
readmitido no Exército.
Segundo o diretor da Casa de
Cultura Euclides da Cunha, Álvaro Ribeiro de Oliveira Netto, enquanto o escritor viveu na cidade,
acordava às 6h, ia para o trabalho
e voltava ao entardecer. Tinha úlcera e fumava bastante. "Ele costumava dizer: "Leio, como e fumo
por vício"." Tais informações Netto obteve de seu tio, Oswaldo Galotti, idealizador das comemorações euclidianas, morto em 2001.
Foi na casa do amigo Sólon Ribeiro que Euclides conheceu Anna, na época com 15 anos, nove
anos mais jovem que ele. Nesse
dia, ele lhe teria entregado um bilhete, segundo Joel Bicalho Tostes, 77, viúvo da neta do escritor
que há 50 anos estuda a vida e a
obra euclidiana, dizendo: "Entrei
nesta casa com a imagem da República e saio daqui com a imagem dessa moça". Casaram-se e
tiveram cinco filhos.
Euclides da Cunha começou a
trabalhar como engenheiro no
Departamento de Obras Públicas
quando morava em São Paulo.
Quando o movimento de Canudos irrompeu, já escrevia para "O
Estado de S.Paulo". Como republicano, expressou o perigo que
via em tal foco de resistência ao
novo regime no artigo "A Nossa
Vendéia", em referência à luta
dos republicanos franceses contra um reduto de monarquistas
da região de Vendéia.
Depois que foi enviado como
correspondente a Canudos (BA),
começou a atacar a República, fazendo sua maior crítica com "Os
Sertões". Ele pagou à editora Livraria Laemmert mais de um salário mensal de engenheiro para
publicar o livro. Estima-se que a
primeira tiragem, lançada em 2
de dezembro de 1902, tenha sido
de 2.000 exemplares, esgotados
em poucas semanas. Segundo o
sociólogo Rodolpho Del Guerra,
estudioso da obra euclidiana, o
escritor teria encontrado ao menos 80 erros na primeira edição.
"Euclides corrigiu vários exemplares, um a um, com tinta nanquim da cor da impressão."
A obra lhe rendeu uma cadeira
de imortal na Academia Brasileira de Letras, mas o emprego público em São Paulo foi cortado
por falta de verba. Então participou de uma comissão no Alto
Purus para fixar os limites territoriais entre o Brasil e o Peru.
Na volta, com sintomas de tuberculose, suspeitou que Anna o
traía com o aspirante do Exército
Dilermando de Assis, bem mais
novo que ele. Mas não quis se separar, contrariando a mulher.
No livro "Anna de Assis, História de um Trágico Amor", escrito
por Judite Ribeiro de Assis, uma
dos oito filhos que Anna teve
com Dilermando, a autora diz
que Euclides matou seu quarto filho com Anna, Mauro, por inanição. Segundo Judite, que escreveu o livro com base em cartas e
declarações da mãe, Euclides deixou Anna trancada no quarto vários dias, impedindo-a de amamentar o recém-nascido, e teria
enterrado o bebê no quintal. Os
Cunha estão processando Judite
por calúnia e difamação.
No dia 15 de agosto de 1909, Euclides invadiu a casa de Dilermando armado, dizendo que estava lá para matar ou morrer.
Disparou cinco tiros, errando todos. Conforme o livro "Um Conselho de Guerra", Dilermando teria dito para Euclides fugir. O
conselho não foi atendido e o jovem matou o escritor. Cinco anos
depois, seu filho Euclides, o
Quindinho, foi morto por Dilermando, quando este quis vingar a
morte do pai. Mais tarde, Dilermando abandonou Anna. Ambos morreram em 1951.
Os estudiosos comparam o fim
de Euclides com o de Antônio
Conselheiro. Ambos foram construtores itinerantes, um de igrejas
e cemitérios, o outro de pontes e
estradas; foram traídos pelas mulheres e tiveram suas vidas marcadas pela luta sangrenta de suas
famílias e pelas posições que assumiram frente à República.
Segundo um dos maiores estudiosos da obra de Euclides, Roberto Ventura, morto em agosto
deste ano, "ao agir como os heróis antigos ou como os valentões
sertanejos, a vida de Euclides se
tornou uma ficção trágica".
(MD)
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