São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2004

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Carruagem e serpente povoam imaginação

NO MARANHÃO

"Acorda "mademoiselle" serpente/ desfila na rua da inveja dessa gente/ vem que o touro encantado/ já te espera acordado/ ouve o coro do meu batalhão pesado." A estrofe da bela canção do músico maranhense Zeca Baleiro, 38, fala de duas das mais conhecidas lendas do Maranhão.
Uma conversa com a população da ilha de São Luís também deve fazer parte do roteiro turístico.
A "mademoiselle" citada por Zeca Baleiro é a serpente que dormiria nas galerias subterrâneas -que cortam o centro histórico- e incita a imaginação dos habitantes locais.
Dois pontos turísticos fazem parte dessa lenda: as fontes do Ribeirão e a das Pedras, portas de entrada para as galerias.
A serpente estaria adormecida desde a fundação da cidade. Durante seu sono, ela estaria em crescimento e, segundo a lenda, quando sua cabeça encontrar a cauda, acordará e, com seu tamanho descomunal, arrastará a ilha para as profundezas do mar, afogando todos os habitantes dali.
"O isolamento da ilha, com um grande contingente de negros, gerou esse misticismo, que também era reforçado pelos portugueses", diz Zelinda Machado de Castro Lima, 77, diretora do Centro de Criatividade Odylo Costa, Filho.
A crendice é tão forte que, durante a dança do tambor-de-mina, um das manifestações mais populares do Maranhão, que periodicamente acontece no largo da fonte do Ribeirão, os brincantes nunca dão as costas para a fachada do local.
Outra lenda muito popular na ilha encantada é a da carruagem assombrada de Ana Jansen, puxada por cavalos com chamas no lugar das cabeças e guiada por um esqueleto. No interior do veículo, estaria o fantasma de Jansen, rica comerciante que ficou famosa pelas atrocidades que cometia contra seus escravos.
Segundo a lenda, a tal carruagem assombrada ainda anda pelas ruas do centro histórico, condenada a vagar assim pela eternidade em conseqüência das maldades de Ana Jansen.

Sebastianismo
Há ainda no Maranhão quem espere pela volta de dom Sebastião, monarca português que desapareceu no norte da África, possivelmente na região onde hoje fica o Marrocos, durante a batalha de Alcácer Quibir, no século 16.
No imaginário maranhense, o rei, que jamais retornou a Portugal, volta na forma de um touro encantado, com uma estrela na testa. Quem acertar a estrela despertará a serpente -ou até mesmo trará de volta dom Sebastião.
"Existem mais de 200 lendas por todo o Estado do Maranhão. Elas mudam de acordo com a paisagem", relata Zelinda. (CF)


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