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FRONTEIRA DA ÍNDIA
Vibrante e caótico, Rajastão é caleidoscópio à indiana
Com história marcada pelo domínio dos marajás, a região é turística e tem razoável infra-estrutura
PEDRO CARRILHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA ÍNDIA
Muitas linhas e páginas já foram gastas para descrever a Índia como um enorme assalto
aos sentidos, um tremendo
choque cultural. Da chegada à
partida, são raros os momentos
de quietude, paz ou tédio.
Na maior parte do tempo, o
viajante se vê envolto pelo turbilhão de mais um dia comum
para um bilhão e alguns poucos
milhões de indianos. As ruas
são uma cacofonia de buzinas e
músicas estridentes, o trânsito
é infernal, a miséria é exposta, a
comida é picante, os odores vão
do sublime ao repulsivo e a poluição é quase palpável.
Em meio ao caos urbano, porém, surgem logo imagens de
exotismo, fotogenia e cores,
muitas cores.
Distante do país de 1,1 bilhão
de habitantes que surpreende o
mundo com seu vigoroso crescimento econômico, o Rajastão
resume a Índia do imaginário
popular, dos marajás, dos turbantes e dos sáris. De palácios
suntuosos e fortes impenetráveis, é a "terra dos reis", um
perfeito caleidoscópio indiano.
Lar dos "rajputs", clãs de castas guerreiras que dominam a
região há cerca de mil anos, o
Rajastão de hoje é um mosaico
de antigos reinos feudais unificados há somente 60 anos, na
independência da Índia.
Antes disso, esses reinos
eram reconhecidos pelas proezas em batalhas. Repeliam
qualquer invasão estrangeira e
suas guerras mais sangrentas
foram contra invasores muçulmanos vindos da Ásia Central.
Cavalheirismo e honra eram
a ordem do dia, tal qual na Europa medieval. E, muitas vezes,
ferozes batalhas terminavam
de forma extremamente dramática, com os homens preferindo partir para a morte certa,
enquanto esposas e filhos se
imolavam em massa, em enormes piras funerárias.
Quando não estavam se defendendo de ameaças externas,
passavam boa parte do tempo
guerreando entre si, o que os
enfraqueceu e acabou levando-os a se tornarem Estados vassalos do Império Mughal, e, mais
tarde, a serem anexados ao Império Britânico.
Através de alianças com os
britânicos, começava a decadência dos marajás. O que antes era um estrito código de
honra guerreira transformou-se em extravagância e decadência. No início do século 20, os
marajás passavam boa parte do
tempo esbanjando-se em luxuosas viagens pelo mundo,
hospedando-se nos melhores
hotéis da Europa e dos EUA
com seus séquitos de concubinas e empregados, enquanto o
povo rajastani empobrecia.
Quando finalmente perderam seus títulos na década de
70, alguns conseguiram se
manter transformando seus
palácios em hotéis de luxo, enquanto outros não tiveram a
mesma sorte.
Excessos
Se, por um lado, os excessos
da comercialização do Rajastão
trouxeram alguns problemas,
por outro a infra-estrutura turística é uma das mais adequadas da Índia, o que torna a primeira experiência no país menos intimidadora para corações
e estômagos desacostumados.
A Índia é assim: alguns a
odeiam e não vêem a hora de
voltar para casa. Outros adoram a viagem e querem repetir
a experiência o quanto antes. O
impossível é sair totalmente
ileso desse país.
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