São Paulo, quinta-feira, 15 de março de 2007

Próximo Texto | Índice

FRONTEIRA DA ÍNDIA

Vibrante e caótico, Rajastão é caleidoscópio à indiana

Com história marcada pelo domínio dos marajás, a região é turística e tem razoável infra-estrutura

PEDRO CARRILHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA ÍNDIA

Muitas linhas e páginas já foram gastas para descrever a Índia como um enorme assalto aos sentidos, um tremendo choque cultural. Da chegada à partida, são raros os momentos de quietude, paz ou tédio.
Na maior parte do tempo, o viajante se vê envolto pelo turbilhão de mais um dia comum para um bilhão e alguns poucos milhões de indianos. As ruas são uma cacofonia de buzinas e músicas estridentes, o trânsito é infernal, a miséria é exposta, a comida é picante, os odores vão do sublime ao repulsivo e a poluição é quase palpável.
Em meio ao caos urbano, porém, surgem logo imagens de exotismo, fotogenia e cores, muitas cores.
Distante do país de 1,1 bilhão de habitantes que surpreende o mundo com seu vigoroso crescimento econômico, o Rajastão resume a Índia do imaginário popular, dos marajás, dos turbantes e dos sáris. De palácios suntuosos e fortes impenetráveis, é a "terra dos reis", um perfeito caleidoscópio indiano.
Lar dos "rajputs", clãs de castas guerreiras que dominam a região há cerca de mil anos, o Rajastão de hoje é um mosaico de antigos reinos feudais unificados há somente 60 anos, na independência da Índia.
Antes disso, esses reinos eram reconhecidos pelas proezas em batalhas. Repeliam qualquer invasão estrangeira e suas guerras mais sangrentas foram contra invasores muçulmanos vindos da Ásia Central.
Cavalheirismo e honra eram a ordem do dia, tal qual na Europa medieval. E, muitas vezes, ferozes batalhas terminavam de forma extremamente dramática, com os homens preferindo partir para a morte certa, enquanto esposas e filhos se imolavam em massa, em enormes piras funerárias.
Quando não estavam se defendendo de ameaças externas, passavam boa parte do tempo guerreando entre si, o que os enfraqueceu e acabou levando-os a se tornarem Estados vassalos do Império Mughal, e, mais tarde, a serem anexados ao Império Britânico.
Através de alianças com os britânicos, começava a decadência dos marajás. O que antes era um estrito código de honra guerreira transformou-se em extravagância e decadência. No início do século 20, os marajás passavam boa parte do tempo esbanjando-se em luxuosas viagens pelo mundo, hospedando-se nos melhores hotéis da Europa e dos EUA com seus séquitos de concubinas e empregados, enquanto o povo rajastani empobrecia.
Quando finalmente perderam seus títulos na década de 70, alguns conseguiram se manter transformando seus palácios em hotéis de luxo, enquanto outros não tiveram a mesma sorte.

Excessos
Se, por um lado, os excessos da comercialização do Rajastão trouxeram alguns problemas, por outro a infra-estrutura turística é uma das mais adequadas da Índia, o que torna a primeira experiência no país menos intimidadora para corações e estômagos desacostumados.
A Índia é assim: alguns a odeiam e não vêem a hora de voltar para casa. Outros adoram a viagem e querem repetir a experiência o quanto antes. O impossível é sair totalmente ileso desse país.


Próximo Texto: Estado figura entre os mais pobres do país
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.