Legado maçônico caracteriza o centro

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando chegar a Paraty, entre no centro histórico pela rua da Ferraria -ou rua Comendador José Luiz. E pule a corrente. Segundo os moradores,é um ritual para que o visitante volte. Embora a entrada mais usada seja a da rua da Lapa, a rua da Ferraria era a entrada oficial, onde havia um portão de ferro que era trancado à noite para evitar ataques indígenas.
As pedras que calçam as ruas são originais, mas já foram retiradas e recolocadas -tornando o chão irregular e difícil de andar. Só mulheres muitos acostumadas conseguem caminhar por ali de salto. A remoção mais recente das pedras foi no ano passado, quando a prefeitura abriu o chão para enterrar a fiação da cidade.

Herança maçônica
As faixas com símbolos nas fachadas de algumas casas vêm da época em que os maçons viveram na cidade. Como Paraty era um local de passagem -tanto na época do ouro como depois, na do café-, a ideia era que os viajantes maçônicos pudessem identificar as casas de seus colegas para pedir abrigo.
"Mas aí o morador que não era maçom achava bonito e copiava", diz o guia Ricardo. "Então, nem todos os símbolos são verdadeiramente maçônicos." Um que é verdadeiro é o do sobrado dos Abacaxis, na rua Doutor Ferreira -ou rua da Praia, como é mais conhecida. O imóvel é rico em detalhes arquitetônicos e o nome se refere aos 20 abacaxis na fachada. O enfeite demonstrava status.
A rua da Praia tem esse nome porque antigamente era "a rua da praia". Isso porque o mar chegava ali até ser feito um aterro para aumentar a cidade. É nessa parte aterrada, onde está a rua Fresca, que está o sobrado do Príncipe, que pertence à família real. Mora lá dom João de Orleans e Bragança.
Outra herança maçônica são os cunhais -saliências nas paredes dos imóveis de esquina. Todas as esquinas da cidade têm três cunhais de pedra, e não quatro, uma vez que quatro casas formam a esquina. O trio era para representar o triângulo, que representa a Santíssima Trindade, símbolo dos maçons. Quando visitar Paraty, repare: onde há esquina com duas ruas se cruzando e quatro imóveis, há apenas três cunhais. (LUISA ALCANTARA E SILVA)