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Guignard e Vinicius legam graça a hotel
Donati conserva pinturas do artista modernista e poema escrito de próprio punho pelo compositor carioca, seus antigos hóspedes
DA ENVIADA ESPECIAL A ITATIAIA (RJ)
Na casa central, lê-se, em uma
estaca que sustenta o teto: "Não
esquecer que neste andar tem
companheiros a descançar". Apesar do português ruim, a pintura
bem cuidada denota o autor do
aviso. É uma das marcas que o
pintor modernista Alberto da
Veiga Guignard (1896-1962) deixou no hotel Donati (quando ele
se chamava Repouso), fundado
em 1931 pelo alemão naturalizado
brasileiro Roberto Donati.
Após uma temporada de descanso na região, que ainda era
uma estação biológica, o europeu
então exilado no Rio de Janeiro
decidiu criar um hotel em plena
serra -o primeiro na área atual
do parque nacional. Um espírito
desbravador compartilhado também por seus primeiros hóspedes: a subida na mata era feita em
cavalos, enquanto burros carregavam as bagagens.
Guignard era um deles. Passando por dificuldades financeiras, o
pintor refugiava-se por longas
temporadas, entre 1940 e 1942, na
hospedaria do amigo, que havia
conhecido no Rio, ganhando até
um pequenino chalé (reformada e
ampliada, a cabana ainda recebe
hóspedes). Como nada lhe era cobrado, Guignard tentava retribuir
a ajuda com aquilo que fazia melhor: pintar.
Rebuscadas decorações florais
foram espalhadas por portas, janelas, batentes e móveis. Donati e
sua afilhada, Dora Vidal de Andrade, então com um ano de idade e imensos olhos azuis -cuja
família herdou a propriedade de
Donati e hoje gerencia, ao lado do
filho, o hotel- foram retratados
em 1941. Os quadros não ficam
expostos, mas Dora os exibe se o
visitante pedir.
Para que o tempo não deteriorasse as pinturas, portas e janelas
exteriores foram retiradas e levadas para o segundo andar da casa
central, que já concentrava a
maior parte das obras (lá ficavam
os quartos no início da hospedaria, antes de os chalés serem construídos), além, é claro, dos avisos
no teto, lembrando antigos hábitos ("Silêncio das 13h-15h e depois das 22h"). Assim, esse patamar do atual Donati tornou-se o
museu do hotel, com fotos, objetos antigos e outra relíquia presenteada ao alemão: um poema,
escrito de próprio punho por Vinicius de Moraes (1913-1980).
O "Poetinha" era outro amigo
ilustre de Donati e também passou alguns dias na região serrana
nas décadas de 30 e 40. O poema
(leia ao lado) homenageia a casa
de Donati, que ficava próxima ao
hotel e era chamada de Itaóca.
Finda a viagem histórica, vale
descer as escadas e rumar à cozinha, no térreo, de onde saem quitutes caprichados assinados por
Dora, ou aproveitar a piscina natural (cuja inauguração, em 58,
está retratada no "museu").
Um porém: para dormir, prefira
os chalés não-geminados (as paredes unidas deixam passar os
ruídos do quarto ao lado).
(JULIANA DORETTO)
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