São Paulo, segunda, 17 de março de 1997.

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ILHA DOS GOLFINHOS
Status político-administrativo do arquipélago acende o debate entre ilhéus e pernambucanos
Polêmica marca o dia-a-dia de Noronha

Silvio Cioffi/Folha Imagem
Vista aérea de Fernando de Noronha


do enviado especial a Fernando de Noronha

É consenso que Fernando de Noronha tem uma das mais belas paisagens insulares do planeta, mas também é certo que o arquipélago anda cercado de polêmica por todos os lados.
Distando 345 km de Natal e 561 km de Recife, esse conjunto de ilhas vulcânicas praticamente intocado é distrito estadual de Pernambuco desde a promulgação da Constituição de 1988 e recebe em média 420 turistas por dia.
Dono de uma história movimentada (leia texto na pág. 6-14), Fernando de Noronha já havia pertencido a Pernambuco.
Hospedou uma base norte-americana de observação de teleguiados na Segunda Guerra Mundial, teve sua fase de Território Federal administrado pelas Forças Armadas e, quando voltou a ser pernambucano, ganhou o Parque Nacional Marinho controlado pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Em nossos dias, muitos de seus quase 2.000 habitantes -chamados de ilhéus- concordam com o atual status político-administrativo do arquipélago.
Esse é o caso de José Maria Coelho Sultano, conselheiro distrital de Fernando de Noronha e dono de uma das melhores pousadas locais, para quem "o arquipélago pertenceu historicamente a Pernambuco e a sua reintegração resgatou a cidadania dos ilhéus".
Pernambucano como José Maria, Hayrton Menezes de Almeida, que é diretor da operadora de mergulho Águas Claras, acha que o arquipélago "tem agora menos recursos do que na época em que pertencia à União, mas os ilhéus têm hoje mais identidade".
Para ele, "os exemplos desse progresso são a regularização das cerca de 70 pousadas familiares, a legalização dos barcos de passeio, jipes e buggys de aluguel".
Uma nova corrente discute agora se, em vez de pertencer a Pernambuco, Fernando de Noronha não deveria estar administrativamente ligado a Recife.
Pesquisa realizada pelo Datafolha para o "Jornal do Commercio" de Recife mostrou que, na capital pernambucana, a tese de devolver as ilhas para a União é bem-vinda para 47% dos recifenses -e que 29% advogam a permanência da atual situação.
No arquipélago, essa tendência é defendida pelo grupo SOS Noronha e foi externada como "opinião pessoal" por Marco Aurélio, chefe-substituto do Parque Nacional Marinho, durante palestra noturna do Ibama.
Já o administrador-geral, Tadeu Lourenço de Lima, diz que "Fernando de Noronha tem de ser visto como um espaço pequeno, de ecossistema frágil", e que, embora Pernambuco gaste R$ 14 milhões anualmente no arquipélago -o que resulta numa média anual de R$ 7.000 para cada um dos 2.000 ilhéus-, esse é o preço de manter o local intacto, preservando sua natureza e reciclando o lixo.
O administrador-geral afirma ainda que "o lixo é o principal problema" e explica que "o material reciclável é enviado para o continente e o biodegradável é trabalhado na ilha, a um custo anual de R$ 450 mil".
Mas, se há polêmica em torno de quem deve ter a responsabilidade de gerir o arquipélago, todos concordam com a necessidade de proteger o ecossistema único dessas 21 ilhas e ilhotas. (SILVIO CIOFFI)

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