São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

MINHA HISTÓRIA José Jurandy Félix, 55

Ravel da Paraíba

(...) Naquele momento me chegou como uma mensagem: ‘Vou tocar em um barquinho’ (...) Nesta semana, fiz a minha apresentação de número 3.770

Priscila Pastre-Rossi/Folhapress
José Jurandy Félix toca o ‘Bolero’, de Ravel, em seu sax em um barquinho na praia do Jacaré

Depoimento a(...)
PRISCILA PASTRE-ROSSI
ENVIADA À PARAÍBA

Em 1993 eu gravei um disco como saxofonista. No lançamento, fui a um restaurante chamado Jacaré Bar. Foi ali, e naquele momento, que minha história com o "Bolero" de Ravel, o barquinho, o rio e o pôr do sol começou.
Seis anos depois, em 1999, durante o entardecer, eu tive uma vontade muito grande de tocar. Então, passei a ir à praia do Jacaré, sozinho.
Um dia, quando eu já tocava quase todos os dias por ali, lá pelo ano 2000, fiquei no píer observando o crepúsculo. Tive um "insight" e me vi dentro do rio, dentro d'água. Naquele momento eu ouvi uma espécie de mensagem. Eu dizia a mim mesmo: "Vou tocar o "Bolero" de Ravel dentro do rio".
Desde então, conto quantas vezes já repeti este ritual. Nesta semana, fiz a minha apresentação de número 3.770. Quando iniciei essa história do barco, as pessoas começaram a frequentar mais a praia do Jacaré no fim da tarde, para me ver. A notícia correu boca a boca de um jeito muito rápido.
De repente, veio a imprensa local. E começou a vir mais gente para me assistir. Algo que eu fazia para mim, que me emocionava, começou a emocionar os outros.
Chegaram os turistas. Depois, a imprensa nacional. A coisa cresceu, tomou uma dimensão que eu nunca imaginaria que pudesse tomar.
O movimento começou a atrair a abertura de restaurantes e lojinhas. O prefeito percebeu que estava nascendo um produto turístico e criou o alambrado. O artesanato chegou. E hoje a comunidade participa bastante. Pra você ter ideia, mais de cem pessoas vendem bijuterias e afins por aqui.
Dá uma alegria muito grande, porque acho que ajudei a fazer com que a Paraíba, tão escondidinha, tão pequena, tão longe, passasse a ser mais conhecida.
Em 2005, recebi uma carta do governo francês, que me agradecia por divulgar a música francesa. E fui convidado a conhecer as raízes do compositor da música.
Lá, fui recebido por autoridades, toquei o "Bolero" no rio Sena, na Torre Eiffel e no túmulo de Ravel, uma das maiores emoções que senti.
Fiz algumas matérias para TV francesa e para outros canais de TV da Europa e dos EUA e continuo a levar a Paraíba por esse mundo afora.
De onde eu vim? Nasci em Princesa Isabel, no sertão da Paraíba. E me mudei, aos cinco anos, para Livramento, que fica no Cariri.
Meu contato com a música aconteceu desde muito cedo. Aos oito anos, em Livramento, comecei a estudar. Fui tocar na banda local. E logo estava tocando bem clarinete.
Na adolescência, foi a vez de entrar para as bandas de baile. Quando eu saí de Livramento, o sax e a música instrumental voltaram a me interessar. Foi quando vim para João Pessoa.


Texto Anterior: Paraíba quer atrair turistas pela boca
Próximo Texto: Raio-X
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.