São Paulo, quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

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Na Capadócia, cenário tem aspecto lunar

Ritual rumo aos céus de Uçhisar começa às 5h, hora de acordar para pegar jipe e se preparar para decolar

SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

Cinco da manhã: toca o despertador e, da janela, o nascer do sol apenas se enuncia em Uçhisar, na Capadócia. Hora de acordar e de esperar o transporte para o local onde o balão é inflado antes de decolar.
Meia hora depois, o jipão já rola na estrada, ainda com os faróis acessos, para a ronda que pega turistas em hotéis.
Seis horas e, na base improvisada no sopé de curiosas formações rochas características dessa região da Turquia, a equipe enche o "envelope" do balão com um maçarico potente; no entorno, despontam outros balões inflados com ar quente.
Na Capadócia, muitas empresas fazem passeios aéreos panorâmicos desse tipo, como revela o site www.turkeybaloons.com/index2.html. Na Sky Way Baloons (www.skywaybaloons.com), o voo de balão custa 150 -e o passeio dura uma hora. Neles, embora a segurança seja quase total, não se sabe ao certo onde o balão vai pousar após voar ao sabor dos ventos.
O resgate, feito por caminhonetes, costuma ser rápido e, nas instruções que antecedem a decolagem, o piloto mostra aos passageiros onde ficam as cintas de couro a serem usadas em casos extremos. Eventualmente, a cesta pode tombar depois de quicar no solo durante a última fase da aterrissagem.

Doce sensação
Por volta das 6h30, depois de meia hora no ar, são diversos os balões ao redor, tocados por diferentes ventos. A paisagem tem aspecto lunar e a geologia, peculiar, serviu de cenário para filmagens de "Guerra nas Estrelas", de George Lucas.
O sol já ilumina francamente a terra pálida, as plantações aqui e ali, e, às 7h da manhã, os montes de pedra em cujo interior foram construídas moradias e igrejas insólitas ficaram para trás. Dependendo do vento, o monte Erciyes, de 3.916 m, estará no horizonte.
Foi esse vulcão extinto que forjou a paisagem quando, há 30 milhões de anos, cobriu de lava uma área de 20.000 km2 que, com o tempo, foi erodida pelo vento e pelo clima até formar aquela paisagem.
Durante o percurso, sob o balão, um e outro riozinho intermitente é avistável -e o sobrevoo revela arbustos e árvores metidos entre as rochas, vegetação que só se vê do alto.
O vento bate no envelope multicolorido do balão, lembrando um barco a vela. As pessoas se deslumbram com a vista e se exasperam com o balonista, que coloca o fogo do maçarico à toda, evitando suavemente uma colisão com os imensos cogumelos de rocha.
O passeio, programado para acabar em uma hora, continua ainda por minutos -e é aí que se nota ter perdido a noção do tempo. Exceto pelo frenesi das câmeras fotográficas, tudo parece se mover bem lentamente: a paisagem, os demais balões, o horizonte mutante e surreal.
Hábil, aos 50 minutos de sobrevoo, o piloto já havia falado ao rádio com o resgate. Às 7h05, ele inicia a descida. Aterrissa, depois de uma hora e 15 minutos, quase dentro do reboque. As pessoas desembarcam e, ato contínuo, recebem uma taça de espumante e até ganham um diploma.
Nessa modalidade de passeio turístico que ganha adeptos em todo o mundo, uma hora e pouco de voo pacato resulta em memórias para toda a vida.


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