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foco
Passeio deixa entrever paixão pelo futebol
SERGIO LEVINSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quando os "barras bravas"
(torcedores fanáticos) do time de futebol Boca Juniors,
conhecidos como "La 12"
(por se enxergarem como o
jogador nº 12 do time), tiveram a ideia de organizar um
tour oficial -que chamaram
de "Pura Adrenalina"- para
torcidas estrangeiras ou de
outras Províncias argentinas, eles foram originais,
mas não inteiramente.
Há anos já são promovidos
passeios por Buenos Aires
para que os participantes
possam percorrer a cidade e
respirar por cada um de seus
poros a paixão profunda que
desperta o futebol. Cerca de
40 estádios -alguns enormes, outros médios, mas
quase todos com capacidade
para mais de 10 mil espectadores- e times das primeiras três divisões das competições oficiais dão a medida
do orgulho de jogar em casa,
encerrando arquiteturas diversas e culturas distintas.
Partindo do centro turístico (pela av. Corrientes), convém dirigir-se ao sudeste, e
em 25 minutos chega-se ao
bairro de La Boca, tipicamente napolitano e genovês,
com casas multicoloridas.
La Boca é um lugar que alguns chamam simplesmente
de "A República de la Boca".
Ela possui a particularidade
rara de ter dado origem aos
dois maiores clubes da Argentina, e os que possuem as
maiores torcidas: o Boca Juniors e o River Plate.
O River nasceu antes (em
1901), mas terminou mudando-se para uma área mais rica ao norte, Núñez, mas que
ainda assim margeia o rio, a
uns 45 minutos de viagem.
Mesmo assim, restou um dos
grandes monumentos dos
portenhos, a "Bombonera",
também chamada de estádio
"Camilo Cichero", com capacidade para 60.245 espectadores. Dizem que há poucas
chances de ver um espetáculo comparável ao do estádio
do Boca lotado. Tanto que há
quem diga que quando ele se
move, não treme, "pulsa".
Perto da "Bombonera", a
apenas 15 minutos de distância, encontraremos em outro
bairro portenho tradicional,
Parque de los Patrícios, um
estádio formoso como o é,
sem dúvida, o palácio Tomás
A. Ducó (48.314 espectadores), pertencente ao Huracán, o lugar onde foram rodadas cenas de "O Segredo dos
Seus Olhos", que recém recebeu o Oscar de melhor filme
estrangeiro de 2010.
Embora não sejam estritamente em Buenos Aires, não
se pode deixar de mencionar
o fenômeno do fato de dois
estádios gigantes estarem separados por apenas uma rua.
Eles são nada mais, nada menos que Racing Club e Independiente, dois dos clubes
que têm as maiores torcidas
e que pertencem a Avellaneda, na Grande Buenos Aires,
separada da capital apenas
por uma ponte situada a dez
minutos do estádio do Boca,
embora em outra jurisdição.
O Racing tem o estádio "El
Cilindro" que, com o tempo,
foi reduzido dos 100 mil espectadores que abrigava no
passado para os 64.161 de hoje, e cujo nome real é Juan
Domingo Perón, enquanto o
Independiente reconstruiu
seu velho estádio (o primeiro
de cimento no país), para terminar de erguer no mesmo
lugar outro chamado Libertadores de América, para 50
mil pessoas. Na inauguração,
em 2009, os torcedores do
Racing colocaram na entrada
da cidade cartaz irônico que
dizia "Bem-vindos ao estádio
único de Avellaneda".
SERGIO LEVINSKY, jornalista e sociólogo, é
autor do livro "Maradona, Rebelde con Causa" (1996).
Tradução de Clara Allain
Leia texto de Sergio
Levinsky sobre tour nos
arredores de Buenos
Aires em
www.folha.com.br
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