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BELEZA CAPITAL
Em 1960, edificada sobre o plano piloto de Lucio Costa, Brasília trouxe ares novos à arquitetura moderna
Niemeyer plantou suas curvas líricas no planalto Central
JULIANA DORETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BRASÍLIA (DF)
Você vem do aeroporto por
uma via rápida, rodeada por prédios de apartamentos -todos
baixos, de mesmo padrão-, passa por baixo de um viaduto (que
na verdade abriga a rodoferroviária), enfrenta um acentuado declive na via e, na subida, se depara
com o cenário do telejornal. Aí,
sim, se sente de fato em Brasília.
A amplitude das ruas, a beleza
das curvas, a simetria das formas,
os gramados e os pátios de concreto sem fim. Tudo tem magnitude e potência. E, apesar de fazer
parte do repertório imagético de
qualquer brasileiro, essa paisagem revela-se inédita ao turista
que chega à capital federal. Porque a tela da TV é pequena demais para tanto vigor.
O plano piloto em formato de
avião arquitetado por Lucio Costa
é composto por duas grandes
vias, o Eixo Monumental (Leste e
Oeste) e o Eixo Rodoviário (Norte
e Sul), que se cruzam. No Monumental Leste estão os prédios-símbolos da cidade: a catedral, a
Esplanada dos Ministérios, o Palácio do Itamaraty e o Ministério
da Justiça (nesse caso, um de frente para o outro). Separando tudo,
um enorme gramado; fechando
tudo, o Palácio do Congresso Nacional. Atrás dele, a praça dos
Três Poderes, com o Planalto e o
Supremo Tribunal Federal.
No Oeste, ficam a torre de TV (o
mirante a 75 m do chão é plataforma interessante para fotos) e o
Memorial JK.
Como ornamento dessa amplidão arquitetônica, a vastidão celeste. Talvez em razão do terreno
plano e dos prédios baixos, o céu
claro sempre ocupa uns três quartos do raio de visão do visitante.
De todo o conjunto, do que um
dos criadores, Oscar Niemeyer,
98, gosta mais? "Talvez o Eixo
Monumental. Com ele, Lucio
Costa procurou conferir a Brasília
a monumentalidade que ela merecia ter", diz à Folha.
E do que o senhor menos gosta?
"Por que essa preocupação de encontrar defeitos em tudo que é
realizado? Por que não lembrar
como Brasília foi importante, levando o progresso para o interior
do país? Por que não dizer que ela
atendeu ao objetivo que JK tanto
perseguiu?"
O turista concorda com ele.
Mesmo quando está torrando sob
o sol forte da cidade (evite os meses de junho a setembro, quando
chove pouco), caçando desesperadamente um sorveteiro que caminha solitário pela Esplanada
(há só dois ou três deles no Eixo
Monumental, e é golpe de sorte
ver um dando sopa desse jeito).
Porque o cenário majestoso de
concreto branco e traços ousados
é para ser admirado primeiro
-analisado depois.
Quebra-cabeça
Brasília é inóspita para explorações a pé. Trata-se de uma infinidade de vias largas, com muitas
mãos e nenhuma calçada. Os prédios estão longe das ruas -muitos e muitos metros de grama depois. Ônibus são raros. Portanto,
alugue um carro e peça um mapa.
Esteja preparado para se perder
muitas vezes (a sinalização por
vezes é confusa) e para enfrentar
excêntricas indicações de endereços, como SHN ou SQS.
As siglas indicam setores. Há o
de hotéis (Setor Hoteleiro Norte,
no exemplo acima), o hospitalar,
o de clubes esportivos, o bancário,
o comercial... E há as Superquadras, Norte e Sul (SQS), áreas
mais residenciais, que ocupam a
maior parte da Asas Sul e Norte.
Cada uma delas é dividida de 2 a
16 no sentido do Eixo Rodoviário
e de 1 a 9 na direção do Monumental (número pares para o leste, ímpares para o oeste).
Parece complicado. E é. Mas, se
você não esmorecer e decidir explorar o cenário, verá que Brasília
é uma excelente notícia.
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