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AMAZÔNIA DE A A Z
Colorido e "caboquice" inspiram artista
O fotógrafo paraense Luiz Braga é um dos dois representantes do país nessa edição da Bienal de Veneza
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A Amazônia é, sim, verde.
Mas a Amazônia retratada pelo
paraense Luiz Braga também é
vermelha, amarela e de todas as
cores possíveis.
Um dos dois artistas brasileiros selecionados para representar o Brasil na Bienal de Veneza, um importante evento do
circuito artístico internacional,
Braga busca com suas lentes fotográficas captar a "caboquice",
como define a cultura da região. À Folha, ele fala de cheiros, sons e aromas da região,
que inspiram seu trabalho.
(MAURÍCIO MORAES)
FOLHA - Você se refere a um termo,
a "caboquice", para falar de sua obra.
Do que se trata?
LUIZ BRAGA - Aqui em Belém, infelizmente, é um termo usado
com o sentido de brega e que eu
utilizo de outra forma: para definir aquilo que nos diferencia
do resto do mundo. "Caboquice", para mim, é a maneira de
pintar os barcos, as casas, o jeito de deixar a camiseta em volta
do pescoço para driblar o calor.
É o tucupi, o açaí com pirarucu,
o cheiro da piprioca e por aí vai.
Num mundo em que tanta coisa é igual, essa é a nossa graça, e
deveria ser mais valorizada.
FOLHA - Quando você tomou a decisão de fotografar a Amazônia?
BRAGA - Minha decisão foi natural, da mesma forma que um
russo fotografa seu lugar. Em
nenhum momento tive a intenção de produzir documentos
exóticos, e sim manifestações
de afeto. Aí fui construindo um
território feito de imagens que
antes de tudo revelam o meu
encanto pela fotografia, que
descobri aos 11 anos de idade.
FOLHA - A palavra Amazônia, aos
que não vivem na região, remete a
um cenário de selva sem fim. Ao que
a Amazônia lhe remete?
BRAGA - Vastidão dos sentidos.
Uma vastidão proporcional aos
equívocos e estereótipos gerados em seu nome.
FOLHA - Há uma predominância de
turistas estrangeiros entre os que visitam a região. Você acha que o brasileiro ainda tem uma ideia equivocada da floresta?
BRAGA - Conhecer para amar,
em suma: educação é a chave.
Os que se permitiram conhecer
e vieram mergulhar a alma na
Amazônia não se arrependeram. Puderam perceber que
aqui existe uma cultura rica,
uma natureza generosa, além
de um povo hospitaleiro.
FOLHA - Seus trabalhos retratam a
região. Como foi a recepção na Bienal de Veneza?
BRAGA - Excelente. Nos dias em
que estive lá pude perceber o
fascínio das pessoas pela simplicidade das cores e da luz das
minhas imagens. As pessoas ficavam diante da foto do barco
em Santarém (uma viagem que
eu sugiro) admiradas com a vida que pulsa no quadro.
FOLHA - Suas imagens exploram o
impacto visual da região. A Amazônia também aguça em você outros
sentidos?
BRAGA - Eu expresso em minhas fotos um "blend" de afeto
e sensações adquiridas: os sons
do "pó-pó-pó" do motor dos
barcos, o gosto do tucupi, o
cheiro do cupuaçu e do vento
de chuva, a sensação gélida da
água dos igarapés. É o que chamo de território do olhar.
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