São Paulo, quinta-feira, 18 de junho de 2009

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AMAZÔNIA DE A A Z

Colorido e "caboquice" inspiram artista

O fotógrafo paraense Luiz Braga é um dos dois representantes do país nessa edição da Bienal de Veneza

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Amazônia é, sim, verde.
Mas a Amazônia retratada pelo paraense Luiz Braga também é vermelha, amarela e de todas as cores possíveis.
Um dos dois artistas brasileiros selecionados para representar o Brasil na Bienal de Veneza, um importante evento do circuito artístico internacional, Braga busca com suas lentes fotográficas captar a "caboquice", como define a cultura da região. À Folha, ele fala de cheiros, sons e aromas da região, que inspiram seu trabalho. (MAURÍCIO MORAES)

 

FOLHA - Você se refere a um termo, a "caboquice", para falar de sua obra. Do que se trata?
LUIZ BRAGA
- Aqui em Belém, infelizmente, é um termo usado com o sentido de brega e que eu utilizo de outra forma: para definir aquilo que nos diferencia do resto do mundo. "Caboquice", para mim, é a maneira de pintar os barcos, as casas, o jeito de deixar a camiseta em volta do pescoço para driblar o calor.
É o tucupi, o açaí com pirarucu, o cheiro da piprioca e por aí vai.
Num mundo em que tanta coisa é igual, essa é a nossa graça, e deveria ser mais valorizada.

FOLHA - Quando você tomou a decisão de fotografar a Amazônia?
BRAGA
- Minha decisão foi natural, da mesma forma que um russo fotografa seu lugar. Em nenhum momento tive a intenção de produzir documentos exóticos, e sim manifestações de afeto. Aí fui construindo um território feito de imagens que antes de tudo revelam o meu encanto pela fotografia, que descobri aos 11 anos de idade.

FOLHA - A palavra Amazônia, aos que não vivem na região, remete a um cenário de selva sem fim. Ao que a Amazônia lhe remete?
BRAGA
- Vastidão dos sentidos. Uma vastidão proporcional aos equívocos e estereótipos gerados em seu nome.

FOLHA - Há uma predominância de turistas estrangeiros entre os que visitam a região. Você acha que o brasileiro ainda tem uma ideia equivocada da floresta?
BRAGA
- Conhecer para amar, em suma: educação é a chave.
Os que se permitiram conhecer e vieram mergulhar a alma na Amazônia não se arrependeram. Puderam perceber que aqui existe uma cultura rica, uma natureza generosa, além de um povo hospitaleiro.

FOLHA - Seus trabalhos retratam a região. Como foi a recepção na Bienal de Veneza?
BRAGA
- Excelente. Nos dias em que estive lá pude perceber o fascínio das pessoas pela simplicidade das cores e da luz das minhas imagens. As pessoas ficavam diante da foto do barco em Santarém (uma viagem que eu sugiro) admiradas com a vida que pulsa no quadro.

FOLHA - Suas imagens exploram o impacto visual da região. A Amazônia também aguça em você outros sentidos?
BRAGA
- Eu expresso em minhas fotos um "blend" de afeto e sensações adquiridas: os sons do "pó-pó-pó" do motor dos barcos, o gosto do tucupi, o cheiro do cupuaçu e do vento de chuva, a sensação gélida da água dos igarapés. É o que chamo de território do olhar.


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