São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2008

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Drauzio Varella apóia um cerco total ao cigarro

DA REDAÇÃO

Para Drauzio Varella, médico cancerologista e colunista da Folha, falar em direito dos fumantes é um absurdo. Ao caderno Turismo, diz que o direito de fumar "está garantidíssimo". "O que não dá é pra querer que o outro respire a sua fumaça." (PRISCILA PASTRE-ROSSI)

 

FOLHA - Como o senhor vê a lei de restrição ao fumo que o governador José Serra quer implantar em São Paulo?
DRAUZIO VARELLA
- De um lado você tem um projeto como esse, que já está em vigor em vários países. Do outro, essa discussão absurda sobre os direitos dos fumantes. Por R$ 1 você compra um maço de cigarro no Brasil. Vendem para qualquer faixa etária, na padaria, na banca de jornal.
Cigarro mais livre que no Brasil é impossível. Somos é supertolerantes com o cigarro, com os fumantes...

FOLHA - A lei não vai contra o direito de liberdade individual?
VARELLA
- Não é questão de você negar direito algum. Qualquer um tem o direito de comprar cigarros e fumar.
O que a lei proíbe é fumar em lugar fechado. Você não pode alegar que tem o direito de fazer os outros fumarem o seu cigarro. E não é verdade o que estão dizendo, que essa lei pode prejudicar o setor de turismo. Em Nova York não caiu a freqüência nos hotéis porque é proibido fumar. Os fumantes são minoria, e mesmo eles estão de acordo.
É só ver a pesquisa que saiu na Folha no domingo [referindo-se à pesquisa nacional do Datafolha, que diz que 81% dos brasileiros apóiam lei contra o fumo em ambientes coletivos fechados].

FOLHA - Donos de bares e restaurantes também reclamam...
VARELLA
- É um absurdo eles não se preocuparem com a saúde dos funcionários, dos garçons, que passam seis, oito horas no meio da fumaça. Se você dosar a cotinina [metabólico da nicotina] no sangue ou na urina de um menino desses, verá que ele fumou o equivalente a mais de meio maço por dia, sem nunca ter dado nenhuma tragada. Há estudos no mundo inteiro que provam isso. E tem essa bobagem de separar fumantes de não-fumantes nos estabelecimentos. Isso é ridículo. Fumaça de cigarro vai pra tudo que é lado. Quem diz que isso funciona é porque é ignorante no assunto.

FOLHA - E se ao invés da proibição o Estado fizesse um trabalho voltado à educação da população quanto aos malefícios do cigarro?
VARELLA
- Se dependêssemos de um trabalho de educação não estaríamos usando cinto de segurança. Ninguém imaginou que no Brasil, seis meses depois da lei, usaríamos mais cinto de segurança do que no Canadá. Precisaria de séculos para que isso acontecesse por meio da educação.
A pessoa não tem o direito de fazer os outros fumarem o seu cigarro. Ponto.

FOLHA - O que acontece com o fumante passivo?
VARELLA
- A nicotina que sai da ponta do cigarro chega no pulmão do não-fumante com uma concentração de nicotina e poluentes mais alta do que aquela que o fumante exala. Porque toda a fuligem do que o fumante exalou já ficou presa no pulmão dele. E a nicotina já foi absorvida.
Mas a que sai da ponta do cigarro, essa vem com tudo: com fuligem, nicotina, hidrocarbonetos e outras substâncias cancerígenas. Sem falar dos gastos que o governo tem para tratar de doenças decorrentes do tabagismo. Esses gastos são maiores do que é divulgado porque só entram na conta oficial as despesas com câncer e enfisema, doenças de fumantes. Não entram na conta os dias perdidos de trabalho, gripes prolongadas, resfriados que complicam com a sinusite...

FOLHA - O senhor seria a favor de medidas ainda mais extremadas, como proibir o tabagismo em certas regiões da cidade?
VARELLA
- Acho que no futuro o fumante vai ser tratado como um dependente de droga. Agora, não é função do Estado proteger o cidadão do mal que ele causa a si mesmo. Porque se ele tiver de fazer isso, terá de acabar com todos os prédios, porque eu posso me jogar pela janela. A função do Estado é proteger os cidadãos contra o mal que terceiros possam causar. Então, nesse caso é muito claro: o fumante que fuma em público causa mal para terceiros. E a função do Estado é proteger esses terceiros.



"Qualquer um tem o direito de fumar. O que a lei proíbe é fumar em lugar fechado. Você não pode alegar que tem o direito de fazer os outros fumarem o seu cigarro. E não é verdade que essa lei pode prejudicar o setor de turismo. Em Nova York não caiu a freqüência nos hotéis porque é proibido fumar. Os fumantes são minoria, e mesmo eles estão de acordo. É só ver a pesquisa que saiu na Folha no domingo"
DRAUZIO VARELLA
médico e colunista da Folha



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