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Drauzio Varella apóia um cerco total ao cigarro
DA REDAÇÃO
Para Drauzio Varella, médico cancerologista e colunista da Folha, falar em direito dos fumantes é um absurdo. Ao caderno Turismo,
diz que o direito de fumar
"está garantidíssimo". "O
que não dá é pra querer que o
outro respire a sua fumaça."
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)
FOLHA - Como o senhor vê a lei
de restrição ao fumo que o governador José Serra quer implantar
em São Paulo?
DRAUZIO VARELLA - De um lado
você tem um projeto como
esse, que já está em vigor em
vários países. Do outro, essa
discussão absurda sobre os
direitos dos fumantes. Por
R$ 1 você compra um maço
de cigarro no Brasil. Vendem
para qualquer faixa etária, na
padaria, na banca de jornal.
Cigarro mais livre que no
Brasil é impossível. Somos é
supertolerantes com o cigarro, com os fumantes...
FOLHA - A lei não vai contra o direito de liberdade individual?
VARELLA - Não é questão de
você negar direito algum.
Qualquer um tem o direito
de comprar cigarros e fumar.
O que a lei proíbe é fumar em
lugar fechado. Você não pode
alegar que tem o direito de
fazer os outros fumarem o
seu cigarro. E não é verdade
o que estão dizendo, que essa
lei pode prejudicar o setor de
turismo. Em Nova York não
caiu a freqüência nos hotéis
porque é proibido fumar. Os
fumantes são minoria, e
mesmo eles estão de acordo.
É só ver a pesquisa que saiu
na Folha no domingo [referindo-se à pesquisa nacional
do Datafolha, que diz que
81% dos brasileiros apóiam
lei contra o fumo em ambientes coletivos fechados].
FOLHA - Donos de bares e restaurantes também reclamam...
VARELLA - É um absurdo eles
não se preocuparem com a
saúde dos funcionários, dos
garçons, que passam seis, oito horas no meio da fumaça.
Se você dosar a cotinina [metabólico da nicotina] no sangue ou na urina de um menino desses, verá que ele fumou o equivalente a mais de
meio maço por dia, sem nunca ter dado nenhuma tragada. Há estudos no mundo inteiro que provam isso. E tem
essa bobagem de separar fumantes de não-fumantes nos
estabelecimentos. Isso é ridículo. Fumaça de cigarro vai
pra tudo que é lado. Quem
diz que isso funciona é porque é ignorante no assunto.
FOLHA - E se ao invés da proibição o Estado fizesse um trabalho
voltado à educação da população
quanto aos malefícios do cigarro?
VARELLA - Se dependêssemos
de um trabalho de educação
não estaríamos usando cinto
de segurança. Ninguém imaginou que no Brasil, seis meses depois da lei, usaríamos
mais cinto de segurança do
que no Canadá. Precisaria de
séculos para que isso acontecesse por meio da educação.
A pessoa não tem o direito de
fazer os outros fumarem o
seu cigarro. Ponto.
FOLHA - O que acontece com o
fumante passivo?
VARELLA - A nicotina que sai
da ponta do cigarro chega no
pulmão do não-fumante com
uma concentração de nicotina e poluentes mais alta do
que aquela que o fumante
exala. Porque toda a fuligem
do que o fumante exalou já ficou presa no pulmão dele. E
a nicotina já foi absorvida.
Mas a que sai da ponta do cigarro, essa vem com tudo:
com fuligem, nicotina, hidrocarbonetos e outras substâncias cancerígenas. Sem falar
dos gastos que o governo tem
para tratar de doenças decorrentes do tabagismo. Esses gastos são maiores do que
é divulgado porque só entram na conta oficial as despesas com câncer e enfisema,
doenças de fumantes. Não
entram na conta os dias perdidos de trabalho, gripes prolongadas, resfriados que
complicam com a sinusite...
FOLHA - O senhor seria a favor
de medidas ainda mais extremadas, como proibir o tabagismo
em certas regiões da cidade?
VARELLA - Acho que no futuro o fumante vai ser tratado
como um dependente de
droga. Agora, não é função do
Estado proteger o cidadão do
mal que ele causa a si mesmo. Porque se ele tiver de fazer isso, terá de acabar com
todos os prédios, porque eu
posso me jogar pela janela. A
função do Estado é proteger
os cidadãos contra o mal que
terceiros possam causar. Então, nesse caso é muito claro:
o fumante que fuma em público causa mal para terceiros. E a função do Estado é
proteger esses terceiros.
"Qualquer um tem o
direito de fumar. O que
a lei proíbe é fumar em
lugar fechado. Você não
pode alegar que tem o
direito de fazer os
outros fumarem o seu
cigarro. E não é verdade
que essa lei pode
prejudicar o setor de
turismo. Em Nova York
não caiu a freqüência
nos hotéis porque é
proibido fumar. Os
fumantes são minoria,
e mesmo eles estão de
acordo. É só ver a
pesquisa que saiu na
Folha no domingo"
DRAUZIO VARELLA
médico e colunista da Folha
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